fb

Tendências

4 min de leitura

Tudo sobre tendências - Conceitos - parte 1 de 5

Para lidar com o futuro, é preciso entender realmente essas tais “trends”. Na primeira das cinco partes de uma jornada que vai até sexta-feira, você pode mergulhar nesse conceito

Colunista Luís Rasquilha

Luís Rasquilha

15 de Fevereiro

Compartilhar:
Artigo Tudo sobre tendências - Conceitos - parte 1 de 5

O negócio de tendências no mundo está sempre cheio de perguntas: o que é uma tendência? Como definimos uma? Como as tendências nos afetam (individualmente, nos negócios e na sociedade)? E como identificar tendências emergentes?

Além dessas questões, podemos perguntar ainda: como compreender tendências emergentes e as atuais? Ou: que métodos devem ser usados para entender as tendências? Existem padrões para identificá-las?

Outras reflexões são mais estruturais e complexas, como: o que podemos aprender através da análise e da observação contínua de tendências? Quais tendências devemos levar em consideração para um determinado negócio? Como nascem e se propagam as tendências? Como prever a trajetória de uma tendência?

E por aí vai.

O fato é que nos últimos anos a palavra “tendência” tem entrado de forma decisiva no universo empresarial e acadêmico, nem sempre da forma mais correta. Por isso, como um especialista da área com alta quilometragem, vim dividir com vocês as respostas a essas perguntas.

Antes de entrar nelas, devemos ter em mente que, quando atuamos no ramo das tendências, atuamos sobre o futuro e sobre como podemos identificar padrões comportamentais nos consumidores. Muitas pessoas acreditam que as tendências representam algo misterioso, ou um fenômeno inexplicável que ninguém realmente compreende. Isso não é verdade. Apenas o conceito de tendência tem múltiplos significados para pessoas e áreas distintas.

Definições

O estudo de tendências é ainda uma disciplina relativamente recente. Isso explica por que não se estabeleceu ainda uma prática definitiva para o processo de identificar e analisar tendências.

Designações como “futurology”, “coolhunting”, “trend spotting”, “trend forecasting”, “trend prediction” e “creatology” são comuns quando se fala de tendências.

Muitas são as designações relativas às pessoas responsáveis pela identificação de tendências: “policy visionaries”, “prediction market developers”, “foresight consultants”, “visionaries”, “trendmeisters”, “trend gurus”, “trends analyst”, “coolhunters”, entre outras.

Apesar disso, a análise de tendências está longe de ser uma pseudociência. Uma (verdadeira) análise de tendências utiliza um processo formal e rigoroso que combina um conjunto de metodologias com um conjunto de fatores. Definimos essa metodologia como o processo de coolhunting (a caça ao que é cool).

Para antever comportamentos, coolhunting

O estudo de tendências dos consumidores não é um estudo de inovação. Seu propósito não é informar quais os produtos ou serviços que estão disponíveis no mercado. Não tem também como objetivo identificar pesquisas e desenvolvimentos das outras empresas do mesmo setor. É claro que não se pode ignorar essa realidade setorial, mas ela é apenas um meio para atingir um fim. Ainda que, por vezes, seja capaz de fornecer insights que sigam nessa direção.

O propósito do coolhunting é, de fato, estudar atitudes e comportamentos dos consumidores, não se tratando só de fornecer informações de tendências atuais – esse o objetivo fica com as técnicas tradicionais de pesquisa.

O que faz com que o coolhunting seja tão valioso é o fato de predizer os comportamentos futuros. É necessário que se determine como uma tendência atual vai se desenvolver e que outras tendências irão ocorrer no futuro.

As tendências afetam tudo: o que bebemos e o que comemos, o que gostamos de ler, os filmes que queremos ver e todas as outras áreas onde usamos a palavra “gosto” para descrever aquilo de que efetivamente gostamos (definição redutora do verdadeiro efeito das tendências sobre o consumidor/cliente, mas centrada em seu ponto mais importante: a intangibilidade comportamental).

Ondas e modas versus tendências

As tendências têm como base dois grandes tipos de mudanças:

A. De curto prazo: as fads, que são novidades, ou manias, mas não são tendências. São histórias curtas em torno de algo novo, como produtos relativamente inovadores comercializados agressivamente, mas que serão rapidamente esquecidos e , por isso, rapidamente substituídos por produtos novos. Falamos, assim, de ondas e modas.

B. De longo prazo: essas são as verdadeiras trends. Tendências envolvem mudanças no gosto e no estilo de vida, na forma como nos comportarmos, sendo estas mudanças bem mais que uma mania passageira. São verdadeiras tendências comportamentais incorporadas em nosso dia a dia.

Devemos considerar tanto ondas como modas, mas apenas para entender o que é e o que não ê tendência. A figura abaixo nos mostra a diferença entre ondas, modas e tendências:

Ondas, Modas e Tendências

Onda — Vêm com um impacto grande, mas dissipam-se rapidamente. As pessoas as incorporam sem entender o porquê. Exemplos de ondas tivemos: os crocs e a pulseira Power Balance.

Moda — Incorporada de maneira consciente na rotina diária. Não acarreta mudança de comportamentos. Tem um impacto menor do que a onda e dura menos tempo. Temos como exemplos de modas os Converse AllStar e a Pandora.

Tendência — Resultado de uma mudança de comportamento. Começa de maneira mais tímida do que a onda e a moda, mas a sua duração é grande e com impactos profundos. Assumida como mentalidade emergente e dominante. Bons exemplos disso são as Havaianas e os Swatch, enquanto acessórios de moda.

A análise da figura acima já nos permite entender as diferenças de conceitos, posicionando a tendência no campo comportamental. E isso faz toda a diferença do mundo, uma vez que, entendendo o comportamento dos consumidores, conseguiremos servi-los melhor.

O processo de pesquisa de tendências começa com os coolhunters e move-se posteriormente para a corrente principal (mainstream), sendo o foco do processo a atenção que se deve dar aos primeiros sinais de mudança.

Nos próximos posts: a evolução das tendências, o modelo diamante, fonte de valor, ameaças e oportunidades e muito mais.

Crédito da imagem: Freepik

Compartilhar:

Colunista

Colunista Luís Rasquilha

Luís Rasquilha

CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Artigos relacionados

Imagem de capa O futuro da atuação jurídica: uma jornada de inovação e adaptabilidade

Tendências

15 Abril | 2024

O futuro da atuação jurídica: uma jornada de inovação e adaptabilidade

Empresas atualmente gastam mais de R$ 20 bilhões por ano em demandas jurídicas. A tendência é que esse valor seja cada vez mais alocado em demandas estratégicas e consultivas, em detrimento de defesas em passivos judiciais. Estão os advogados se preparando para atuar como conselheiros, dotados de uma visão holística dos clientes?

Katsuren Machado

3 min de leitura

Imagem de capa A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapasAssinante

Inovação

29 Fevereiro | 2024

A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapas

Levar empresas industriais à era digital pode ser uma tarefa árdua – dificultada, muitas vezes, pelo uso de indicadores errados para avaliar o processo. Pesquisa revela que obtêm sucesso as organizações que fazem a transformação digital em três etapas, cada uma com métricas próprias. Conheça o método e veja como aplicá-lo

Nitin Joglecar, Geoffrey Parker e Jagjit Singh Srai
Imagem de capa Digital aproxima serviços de saúde do formato varejistaAssinante

Inovação

31 Janeiro | 2024

Digital aproxima serviços de saúde do formato varejista

Com os avanços da tecnologia e a chegada de pesos-pesados do varejo ao ramo, que as clínicas de varejo vêm despontando para ajudar a deixar o setor de saúde mais dinâmico, integrado, digital e responsivo. Conheça as principais iniciativas, lá fora e no Brasil

Norberto Tomasini
Imagem de capa A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agoraAssinante

ESG

31 Janeiro | 2024

A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agora

Se nada for feito, a inteligência artificial pode se tornar uma das maiores emissoras de carbono da economia global. Mas com boas práticas, estratégias eficientes, conscientização e, claro, maior uso de fontes renováveis de energia, esse quadro pode ser revertido. Veja como agir

Niklas Sundberg
Imagem de capa Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Inovação científica

17 Janeiro | 2024

Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Ecossistemas de inovação dependem de trocas de experiências, colaboração, conectividade e diversidade de talentos para prosperar | por Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

4 min de leitura