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Seis forças motrizes que guiarão a sociedade até 2035

O apagão de dias em São Paulo é a manifestação tangível de uma dessas forças; reafirma-se a cada ano e, estando mapeada, poderia ser bem gerenciada pelas empresas. O relatório “What’s Next” serve para isso – o de 2035, recém lançado, destaca tecnologia e educação

Luís Rasquilha
Seis forças motrizes que guiarão a sociedade até 2035
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Outubro é o mês em que a empresa onde atuo costuma apresentar o seu relatório de tendências. Este ano não é diferente: estamos às portas de lançar o nosso “What’s Next 2035”, uma visão da próxima década pela lente dos três grupos de tendências com os quais normalmente trabalhamos – megatendências, tendências comportamentais e tendências de negócio.

Essas tendências são segmentadas por seis drivers, ou forças motrizes em bom português. Tecnologia e conectividade, ambiente e clima, política e economia, social e humano, saúde e bem-estar e, por fim, educação, empresas e negócios, guiam o relatório.

Farei uma série de quatro artigos sobre o tema; neste primeiro apresentarei essas forças motrizes em detalhes e, nos próximos, falarei de cada um dos grupos de tendências. Por mais que você já tenha entrado em contato com esses drivers, incorporá-los requer redundância.

AS SEIS FORÇAS MOTRIZES DA SOCIEDADE

  1. Tecnologia e conectividade 

A evolução nesse campo vem trazendo amplos benefícios para o dia a dia das pessoas, e o contexto atual de mudança está acelerando isso. Cada vez mais, a tecnologia e a conectividade podem nos  ajudar a manter as rotinas pessoais e profissionais da melhor forma possível. 

O pós-pandemia dá alguns exemplos. Empresas de diferentes segmentos se adaptam rapidamente para possibilitar alternativas de trabalho remoto, equilibrando a entrega com a saúde de seus funcionários e familiares. 

Automação, robótica e inteligência artificial já estão mudando a natureza e os números dos trabalhos disponíveis. Essas tecnologias alteram as oportunidades que se apresentam no presente e no futuro. 

Elas têm o poder de melhorar a qualidade e a expectativa de vida. Além disso, podem aumentar a produtividade e libertar as pessoas para que elas se dediquem mais a funções mais sofisticadas, não operacionais. 

Há um porém. Esse fenômeno também traz ameaças no nível social, político e econômico, caso não se atinja um equilíbrio nessas mudanças. 

Indiscutivelmente, essa é a maior força direcionadora do presente e do futuro dos negócios e do comportamento humano.

  1. Ambiente e clima

As condições climáticas estão mais na pauta do que nunca: a subida do nível dos oceanos, as secas e as inundações, a poluição atmosférica… As alterações climáticas levam à transformação dos nossos ecossistemas e do nosso planeta. Isso afeta o desenvolvimento, a saúde, a produção e utilização dos recursos naturais. É um conjunto amplo de impactos que talvez ainda não tenham sido total e devidamente mapeados. 

As alterações climáticas podem (se nada for feito) acelerar catástrofes humanitárias, potencializar conflitos e tornar partes do planeta inabitáveis. É essencial que todos contribuam para a prevenção. Ela poupa vidas e valores, reduzindo a necessidade de apoio humanitário quando uma catástrofe ocorre.

Prevenção é algo crescente na agenda da sociedade civil. É ela que aumenta a pressão sobre líderes políticos e empresariais para que tomem ações concretas a fim de reduzir as consequências e impactos.

A demanda por energia e água deve aumentar em 50% e 40%, respetivamente, até 2030. Novos trabalhos em energias alternativas, engenharia de processos, design de produtos e gestão de desperdícios serão necessários para gerenciar e reutilizar os resíduos para lidar com essas necessidades. As indústrias tradicionais de energia e os milhões de pessoas empregadas por elas sofrerão uma rápida reestruturação.

  1. Política e economia

O impacto da pandemia se revelou intenso no tema da política, e não foram menos pesadas as consequências na área socioeconômica: mudanças no trabalho, na produção, no consumo e na própria forma de se conviver em sociedade. Assistimos aos impactos no circuito global de produção e circulação de todo tipo de bens, afetando o fluxo do comércio internacional e a gestão da cadeia de fornecimento. 

Governos enfrentam desafios crescentes quanto ao aumento do desemprego e à queda na renda. A Organização das Nações Unidas projeta que até 2050 a população urbana do mundo aumentará 72%. 

Hoje a maioria das grandes cidades já têm crescimento superior ao de grande parte dos países médios. Nesse novo mundo, as cidades serão importantes agentes de criação de novos empregos.

A atuação política também vem crescendo, fruto da maior conscientização das pessoas sobre sua real influência na sociedade e no mundo. As nações em rápido desenvolvimento (particularmente aquelas com uma grande população em idade ativa) que conseguirem atrair investimentos e melhorarem a sua educação são as que terão mais sucesso.

Nos países ricos, o cenário é diferente. A erosão da classe média, a disparidade de riqueza e a perda de empregos devido à automação em larga escala poderá aumentar o risco de agitação social.

  1. Social e humano

Temos mais gente no mundo, e vivendo mais. Isso traz impactos gigantes na transformação da sociedade e dos negócios. 

O aumento da expectativa de vida global desacelerou  nas últimas décadas, mas isso não significa que a idade média em diversos países deixará de aumentar nos próximos anos.  Com algumas exceções regionais, a população está envelhecendo, colocando pressão nos negócios, instituições e na economia. 

A expectativa de vida vai afetar modelos de negócio, ambições e custos de pensão. Trabalhadores mais velhos precisarão de novas competências para trabalharem mais tempo. 

Lifelong learning será a norma. A falta de mão-de-obra humana em várias economias em rápido envelhecimento impulsionará a necessidade de aprimoramentos de produtividade e para lidar com a automação.

– Lifelong learning será a norma. Independentemente da automação, a falta de mão-de-obra humana em várias economias impulsionará a necessidade de aprimoramentos de produtividade

Paralelamente, um dos legados desta década será a maior conscientização e uma maior preocupação com o outro. Veremos mais sentido na expressão “O futuro do ser humano é ser humano”. 

  1. Saúde e bem-estar

São dois pilares fundamentais para o desenvolvimento humano e para a sustentabilidade da sociedade. No contexto atual, a importância desses elementos se amplifica, pois uma população saudável é crucial para a inovação e produtividade. Investimentos em saúde preventiva, acesso a cuidados médicos de qualidade e promoção de estilos de vida saudáveis podem reduzir a incidência de doenças crônicas, melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida.

O bem-estar, que abrange aspectos físicos, mentais e sociais, é igualmente vital. Um estado de bem-estar elevado contribui para a satisfação pessoal, relações sociais harmoniosas e um ambiente de trabalho mais eficiente e criativo. À medida que o mundo enfrenta desafios como o envelhecimento da população, mudanças climáticas e pandemias, a ênfase em políticas de saúde integradas e na promoção do bem-estar se torna essencial para garantir um futuro sustentável e próspero.

Incorporar essas prioridades em políticas públicas e práticas corporativas atende às necessidades imediatas da população. Além disso, constrói uma base sólida para enfrentar os desafios futuros, promovendo uma sociedade mais justa e equilibrada.

  1. Educação, empresas e negócios

A gestão das empresas tem sido, até hoje, influenciada pelos princípios de gestão criados na segunda revolução industrial, ou seja, produção em massa, divisão de tarefas e uso da energia elétrica. As regras de funcionamento das empresas (com os normais ajustes) não sofreram grandes questionamentos nem alterações significativas, mantendo-se fiéis aos princípios de Taylor, Fayol e Ford. 

Por dois séculos, a gestão tem sido baseada na hierarquia de decisões e funções, com elevado foco na cadeia de valor e atenção máxima ao produto, numa clara visão construída “de dentro para fora”. Apesar das diferentes mudanças que o mundo tem vivido, as organizações têm resistido a alterar o seu modo de atuar e de pensar. Modelos mentais engessados no passado e crenças culturais do século 20 bloqueiam a evolução e a transformação dos negócios. 

A educação é um dos meios mais importantes para o desenvolvimento da sociedade. Por meio dela, produzimos conhecimento e, assim, todas as esferas de um país crescem. A educação vai além das escolas, abrangendo também os âmbitos familiar e social. 

Em um contexto de elevada transformação, a necessidade de uma educação continuada e atualizada é um dos pilares importantes (se não o mais importante) na evolução da sociedade e dos negócios. Os modelos de gestão e, consequentemente, de negócios têm sido envolvidos numa nova realidade de acelerada mudança em todos os níveis. 

PARA CADA FORÇA MOTRIZ, existe um grupo de megatendências, de tendências comportamentais e de tendências de negócio. Os próximos artigos apresentarão o detalhe de cada uma delas. Serão 78 tópicos, divididos em 18 megatendências, 30 comportamentais e 30 de negócios. Eu as compartilharei nesta coluna nos próximos meses.

Luís Rasquilha
CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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