Mais do que matéria de MBA, storytelling tem de ser um item fundamental dentro das empresas, seja nos programas corporativos – como os de mentorias –, seja nas cirurgias de cultura
Como toda pessoa que dá palestras em eventos, eu morro de medo quando minha apresentação é a primeira após o almoço. Nessas, eu sempre conto pelo menos uma história. E ela começa com um chamado: “Vou contar uma história.” É quando vejo um _heads-up_ coletivo de pessoas até então apáticas olharem com grande atenção.
Por que será? Especialistas em contar histórias no âmbito empresarial me dizem que este fenômeno é uma coisa atávica, adquirida quando éramos crianças, e nossas professoras no jardim de infância juntavam as crianças ao redor para contar uma história, e nossos pais nos contavam histórias antes de dormir.
Muito tem sido escrito sobre a arte de contar histórias como ferramenta gerencial. Então perdoem-me por chover no molhado, mas como um curioso com o tema culturas corporativas (tema do meu próximo livro) ,não resisti à tentação de explorar um angulo específico.
Fui agora na Amazon e o site me indicou 17 livros sobre como contar histórias. Embora um livro seja especifico para angariar fundos, e outro seja orientado para advogados (!), vocês devem concordar comigo que
Será que esses livros foram publicados exatamente porque perdemos a habilidade de contar histórias?
As histórias corporativas das quais me lembro apertaram um ou mais dos seguintes três “botões mágicos” da minha memória:
Contadores das histórias que testemunharam diretamente esses momentos ficam emocionados e adquirem um olhar distante. Algumas histórias de empresa criam um clima de anedota e a gente ri no final. Outras nos deixam pensativos porque relatam uma trapalhada que virou exemplo inverso: como _não_ fazer algo. Naquelas empresas que pregam o mantra do erro rápido*, as pessoas contam entusiasmadamente historias de grandes bobagens que fizeram, como pararam a tempo, o que aprenderam, e como divulgaram o que aprenderam.
Algumas histórias encapsulam mantras comerciais da empresa. Na Prudential, o treinamento dos vendedores de seguros de vida começa com histórias (que imagino parcialmente romanceadas) de situações típicas que vão encontrar, e que palavras-chave o potencial comprador usa para sinalizar a propensão de comprar um seguro de vida. O treinamento de vendedores de automóveis Mercedes-Benz começa com uma história pela qual a maioria das pessoas que entram na loja já tomaram a decisão de comprar um, e que cabe ao vendedor ajudar na seleção de modelo, cor, e forma de pagamento.
Embora na internet existam vários cursos sobre a arte de contar histórias (e pessoas que fizeram alguns deles os recomendam entusiasticamente), ainda não está claro para mim que nos programas de MBA deva haver uma matéria chamada “Como contar histórias”.
Eis duas dicas finais:
1. Mentores com bastante conhecimento da cultura da organização estão particularmente bem posicionados para ilustrar peculiaridades culturais através de histórias. Então, nos programas de orientação de mentoria de que participei, havia uma particular ênfase em provocar os mentores para desenvolver nos seus “mentados” a habilidade de contar histórias. E nos relatórios de feedback entregues pelos mentados invariavelmente constou que isso foi extremamente proveitoso.
2. Empreitadas de cirurgia cultural profunda em empresas devem igualmente dar particular ênfase a contar histórias que esclareçam por que e como se pretende mudar aquelas peculiaridades culturais da empresa que com o passar do tempo foram se tornando f_reios de mão._
* Eu me refiro a empresas que desistiram de errar menos e passaram e enfatizar o errar mais depressa e divulgar para todos as lições aprendidas. Isso será objeto de uma coluna futura minha.