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Tendências de marketing para 2030

Escrito em coautoria com Silvana Torres, presidente da Agência Markup, promove-se uma reflexão sobre as três tendências dos serviços de marketing e comunicação com a visão para 2030

Luís Rasquilha
12 de julho de 2024
Tendências de marketing para 2030
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Se a chamada 4ª Revolução Industrial, surgida em 2007, com a apresentação ao mundo do primeiro Iphone, já havia nos colocado diante da maior transformação da história, esse cenário definitivamente catalisou ainda mais essa necessidade de mudança. Sabemos que, por um lado, a pandemia foi paralisante. Por outro, porém, nos trouxe inegáveis legados e o maior deles provavelmente tenha sido a aceleração da transformação digital.

Essa verdadeira revolução, claro, trouxe enormes desafios. A começar por entendermos as novas formas de nos relacionarmos com as pessoas. Não são poucas as marcas que estão se perguntando: como fazer para continuarem sendo relevantes diante desse verdadeiro “caos” de novas informações – e novas possibilidades de se comunicar com seus públicos? Como garantir a consistência e conexão de sua identidade e de suas narrativas através de diferentes touch points? Ou então, como encurtar as distâncias impostas pelo digital, aproximando os ambientes on e off? É possível proporcionar experiências reais no mundo virtual? Em pauta, também, ajustes de linguagem, novas estratégias, a necessidade de desenvolver narrativas que integrem o momento das marcas, dos negócios e do mundo com as verdades humanas.

Boa parte das respostas passa por conhecer profundamente o público para o qual estamos falando. Assim, é impossível dissociar toda essa evolução digital do conceito de human centric – ter as pessoas como centro. Tudo é criado por elas e para elas. E esse conceito carrega consigo muitos outros, como os hubs de gestão, data driven, analytics, como forma de conhecer profundamente o público para estabelecer uma comunicação eficiente e, assim, potencializar resultados.

Se tudo é sobre pessoas, novos formatos de comunicação se impõem, para gerar experiências engajadoras e encantadoras. É a comunicação 4.0, que estabelece diálogos por meio dos recursos tecnológicos e consistem em uma importante estratégia para fazer com que as marcas façam parte da vida de seus consumidores em função de seus próprios comportamentos e hábitos de consumo, inclusive nas redes sociais. Nesse particular, conceitos como gamification e formatos de comunicação mais atraentes, como podcasts, vídeos, cards, stickers de Whatsapp e filtros de Instagram, só para citar alguns, faz com que as marcas acabem se integrando às suas rotinas de forma natural e orgânica.

O futuro também é sustentável e, cada vez mais, as organizações estarão atentas ao marketing de causas, atrelando suas marcas a parceiros a princípios éticos e sustentáveis claramente comprovados, exigindo de todo o ecossistema de negócios não apenas o alinhamento aos seus princípios, mas principalmente coerência entre discurso e prática. Iniciativas voltadas ao terceiro setor e ações de cidadania serão protagonistas e estarão presentes nas estratégias de marketing das empresas mais atentas.

Principais tendências

Sustentabilidade, inovação, alta tecnologia, cocriação, tudo isso convergindo a todo tempo, em uma velocidade exponencial. Uma combinação bombástica, que resulta em infinitas tendências. Seria impossível sequer tentar mapear todas elas. Diante disso, selecionamos algumas e buscamos organizá- las em três clusters, para ilustrar de que forma elas já estão impactando a vida das pessoas e das organizações.

O primeiro deles é o tecnológico, em que lançaremos um olhar nas tendências movidas pelo avanço digital. Sustentabilidade, ciência, dados e novas aplicabilidades para os apps e suas relações com o varejo aparecem com destaque.

Já o cluster experiencial aborda os aspectos comportamentais, o poder dos sentidos, as novas formas de entretenimento promovidas pelas mídias sociais, os games e coloca frente a frente alguns pontos de vista conflitantes e, ao mesmo tempo, complementares, no que tange à forma de se comunicar com o público.

O cluster colaborativo é dedicado às tendências que envolvem cocriação e o envolvimento direto dos consumidores com o desenvolvimento de novos produtos. Traz também a fusão entre os aspectos educacional e de entretenimento, content e o chamado “influencers marketing”, além de avaliar soluções criadas a partir das preferências do público. Vamos começar essa jornada?

1) Tendências tecnológicas

– Comunicação digital carbono 0

Imaginem se a internet fosse um país. Seria maravilhoso, não é verdade? Bem, melhor pensar um pouco mais antes de responder… De acordo com um relatório de 2021 da Cleanfox, serviço desenvolvido pela Foxintelligence, empresa de estudos de mercado de e-commerce, sobre poluição por e-mail, “se a internet fosse um país, seria o sexto maior poluidor do mundo”. E mais: o relatório revelou também que os e-mails promocionais são responsáveis por 2 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO2) anualmente no Reino Unido.

É inegável que a aceleração dos hábitos digitais impulsionou uma maior conscientização do público sobre a sustentabilidade dos dados. Atentas a isso, as marcas estão sendo obrigadas a repensar seus pontos de contato digitais para se alinharem aos valores de seus consumidores. E isso ganha ainda mais força com o advento do metaverso, ou seja, as práticas sustentáveis no mundo virtual serão mais importantes do que nunca. Essa realidade já vem impactando a forma com que algumas empresas se comunicam. A Volkswagen, por exemplo, já começa a utilizar imagens com menor resolução e símbolos Unicode para compor essas imagens. Tudo isso para diminuir a energia necessária para carregar seu site e reduzir as emissões de carbono.

– DTC – direct to consumer e live commerce

Responda rápido: a última vez que você falou com alguém foi por meio de uma ligação telefônica ou via Whatsapp? Imaginando que você faça parte da esmagadora maioria da população, a resposta seria uma só: o Whatsapp. E isso porque, cada vez mais, os aplicativos vêm tomando espaço de outros meios de comunicação.

Com a pandemia, o varejo teve que encontrar novas formas de se comunicar com seus clientes e de vender, e o caminho natural foi fazer isso por aplicativos de mensagens, a maneira mais fácil de proporcionar um atendimento personalizado, ágil e próximo com o consumidor. Essa medida vem trazendo resultados muito expressivos e, mesmo com a reabertura do comércio, este se tornou um caminho sem volta.

Uma variação dessa estratégia são as live commerces, nas quais os produtos são demonstrados em lives e os consumidores podem tirar dúvidas entre si e com os vendedores, de forma interativa, imersiva e participativa.

Para ilustrar com alguns dados, hoje, 20% das vendas online do grupo Via Varejo são feitas por aplicativos de mensagens, assim como 35% das vendas da marca de roupas Reserva. Na China, o site Alibaba lançou a plataforma de live commerce Taobao Live apenas para vender online e, também na China, o Shangai Fashion Week foi transmitido nesse formato, permitindo que os consumidores comprassem roupas que estavam sendo apresentadas no desfile. Aqui no Brasil, a Loungerie lançou a primeira plataforma de live shop de lingerie do Brasil e a Pepsico lançou a plataforma PantryShop.com para vender seus produtos diretamente ao consumidor.

– Metaverso

Os ambientes de metaverso representam uma megatrend e surgiu da convergência de dois fatores:

– a) As diversas tendências comportamentais, como a conectividade permanente, os humanos 2.0, a gadget dependência, a interoperabilidade e as vendas on-line 24/7.- b) A evolução da tecnologia e o aumento da possibilidade de acesso a ela, como processadores cada vez mais poderosos, placas de vídeo mais realistas, áudios 3D, vídeos 360º, internet 5G, AR, VR, NFT, blockchain e criptomoedas.

É consenso entre os especialistas que esse grande universo a ser explorado possui um potencial de geração de receitas incalculável e as grandes marcas já estão se mobilizando para ocupar seus espaços nessa que promete ser a nova meca dos negócios!

A partir dessa realidade, surgem algumas microtendências, que abordaremos agora.

– Genuinfluencers Virtual KOLs: Influenciadores digitais virtuais genuínos (key opinion leaders)

Surgiram na China e são a evolução dos avatares virtuais e possuem características relacionáveis, mais que aspiracionais. Possuem vida independente das marcas e dialogam diretamente com as comunidades que representam. São imperfeitos, têm mudança de humor, cortam o cabelo, mudam de roupa etc.

Com tanto carisma e proximidade com o público, não é de se surpreender que marcas como Adidas, Alexander McQueen, Converse, Dior, Dolce&Gabbana, Givenchy, Nike, Prada e Versace, entre outras, já comecem a utilizar esse novo porta-voz.

– Ambientes virtuais branded

Já pensou em vestir avatares com a sua marca preferida, para visitar mundos virtuais? A Nike já, ao lançar o Nikeland, em novembro de 2021, no Roblox, plataforma de games 3D que permite aos usuários criarem seus próprios jogos e também se aventurarem em criações de outros usuários.Com a evolução da publicidade nos games, a criação de ambientes virtuais branded viraram tendência.

Também no Roblox, a Hyundai lançou o Hyundai Mobility Adventure, espaço virtual com cinco parques em que os usuários podem absorver a tecnologia da companhia, além de correr, jogar e até participar de festivais. Ainda no setor automobilístico, a BMW lançou seu mundo virtual Joytopia como parte da participação da marca no salão internacional do automóvel – IAA Mobility 2021. Um ótimo cartão de visitas para apresentar à sociedade a visão da marca quanto ao futuro da mobilidade, com ambientes alegres e um show exclusivo do Coldplay!

Todas essas tendências nos dão a clara ideia do quanto as pessoas valorizam as experiências em suas jornadas. Quanto mais imersas estiverem, maior será o impacto vivenciado e o mundo do marketing sabe muito bem disso, daí a necessidade de reinvenção permanente.

2) Tendências experienciais: o áudio como protagonista da comunicação

O futuro é em áudio. Mas, não era assim no passado, desde que Alexander Graham Bell inventou o telefone, no século 19? Bem, esse parece ser apenas mais um dos supostos paradoxos provocados pelo avanço da tecnologia e Graham Bell ficaria surpreso ao saber que hoje a voz volta a ocupar um papel de protagonismo na comunicação.

– Retomada da força do rádio

Contra dados não há argumentos. Então, vamos a eles. Segundo apontamentos da Kantar Ibope Media e do AdsSpotify.com, o rádio é ouvido por 80% da população e cada ouvinte passa em média 4 horas e 26 minutos por dia ouvindo rádio. Cinquenta por cento dos consumidores de rádio prestam atenção nas propagandas entre as músicas e 43% deles consideram o rádio a fonte de informação mais confiável.

O consumo de rádio pela web vem subindo e hoje está no patamar de 2 horas e 44 minutos por dia. Noventa e um por cento dos millennials e 71% da geração Z (acredite!) utilizam o rádio para diminuir o estresse.

– Branded playlists

Vivemos tempos em que o conteúdo é rei nas mais diversas esferas da comunicação, do marketing e da prestação de serviços. Conteúdo para informar, ser relevante, estabelecer identidade com as pessoas. Não é por outro motivo que marcas vêm se dedicando à criação de conteúdos proprietários ou se associando a conteúdos já existentes para se integrarem à vida de seus consumidores de forma mais ativa.

As possibilidades são muitas, como por exemplo participar da curadoria de conteúdos culturais através do ecossistema de playlists do Spotify, ou associar seus produtos a uma playlist, sendo as melhores playlists de marca apoiadas por uma sólida estratégia de marketing.

– Criatividade sonora

Sendo o áudio protagonista na comunicação, com seu poder de expansão e disseminação de conteúdo nos mais variados formatos e devices, a toda hora e em qualquer lugar, é natural pensarmos em como a criatividade sonora pode fazer a diferença nesse campo.

É a oportunidade de ouro para falar de diferentes maneiras com os consumidores. A conta é simples: quanto maior a criatividade para se comunicar com os ouvintes, maior a efetividade da mídia utilizada em uma campanha publicitária. Cinquenta por cento da efetividade de mídia é direcionada pela criatividade da publicidade.

– Entretenimento nas mídias sociais

Após as ondas do áudio, aterrissamos agora em outro campo riquíssimo para abrigar tendências, as mídias sociais. A facilidade de acesso à tecnologia por meio dos celulares faz com que as pessoas tenham sempre à mão uma câmera, na hora em que quiserem. Da mesma forma, nunca foi tão intuitivo e simples editar um vídeo. Tudo isso permitiu o crescimento de uma tendência em que as pessoas se tornaram geradoras de conteúdo. Aliado à popularidade das mídias sociais e da possibilidade de monetizar o conteúdo gerado, temos o cenário ideal para transformar o público comum em criadores de novelas, séries, fanfics etc, que passam a ser exibidas em suas redes sociais.

Tramas se desenrolam em perfis; dramas em feeds. Personagens fictícios conversam com seus seguidores. Com tudo isso, à medida em que os cinemas lutam contra o descaso e a audiência da televisão diminui, a indústria do entretenimento repensa como atingir e atender às expectativas do público, abrindo espaço para novos conceitos de estúdios.

– Otimismo na comunicação

A pandemia impactou negativamente no aspecto psicológico das pessoas. Como reflexo, muitos consumidores deixaram de assistir aos noticiários e a recorrer a fontes de informações tradicionais, responsáveis por disseminar as más notícias. Consequentemente, aumentou o consumo de streaming e das próprias redes sociais. Mais que isso, esse fator vem influenciando a estratégia de comunicação de muitas marcas.

Sempre atentas ao comportamento do consumidor, mais e mais, os profissionais de marketing buscam atrelar seus anúncios a momentos inspiradores e emocionantes, associados a emoções positivas, visando se apoderarem dessa vibe alegre e satisfatória.

3) Tendências colaborativas: mundo online pós-cookiesvÉ cada vez mais nítida a busca das pessoas por novas formas de relacionamento com as marcas. O consumidor deseja construir relações honestas e mais próximas, de igual para igual. Paralelo a isso, temos as mudanças na legislação (nova Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e o avanço permanente da tecnologia e os dados figurando como grandes protagonistas neste mundo hiperconectado. Temos então, a tempestade perfeita, às avessas: uma enorme oportunidade para as marcas não apenas protegerem os dados dos indivíduos, mas caminharem em direção ao consentimento para construírem uma relação de confiança e respeito mútuo com seus consumidores.

– Edutainment

Junção das palavras education e entertainment, o edutainment, ou edutretenimento, é um novo conceito de educação que produz conteúdos educacionais com a utilização de ferramentas de entretenimento, como, por exemplo, jogos, filmes e brincadeiras, para ajudar as pessoas na imersão e absorção do conhecimento.

Surfando na onda da força dos influencers e do próprio poder das redes sociais voltadas para o entretenimento, as marcas vêm se apropriando desse formato para exibir branded content de forma leve, interativa e educacional, estabelecendo uma proximidade com seu público e gerando valor em suas relações.

– Cocriação

Há muito o público deixou de ser agente passivo nas relações com as marcas. A própria internet deu lugar de fala às pessoas, permitindo que elas opinem e contribuam com iniciativas, manifestações sociais, plebiscitos públicos digitais e outras formas de colaboração participativa que antes pareciam distantes.

Essa dinâmica estabeleceu uma nova ordem na relação com as marcas. O processo de agregar consumidores aos processos criativos vem se fortalecendo como estratégia-chave, não apenas para gerar identificação, mas também para potencializar negócios, extraindo dados para promover a inovação em seus produtos ou serviços. Empresas que já utilizam dados de seus consumidores para oferecer produtos personalizados podem elevar suas ofertas com opções de customização. E esse ciclo se retroalimenta: à medida em que essa prática se populariza, mais consumidores são atraídos e inicia-se um looping de feedback que auxilia as empresas a estarem sempre na vanguarda.

– Insights

É inevitável começar a fazer projeções, reflexões do que temos acompanhado no mercado ou mesmo nos questionarmos até onde somos capazes de chegar.

O que era simplesmente impensável na década passada hoje faz parte de nossa rotina diária de forma natural, sem o menor alarde. Já incorporamos hábitos e tecnologias que passaram a integrar nossas vidas e a influenciar a forma com que consumimos produtos, serviços e as próprias informações. Mais que isso, já dependemos de boa parte delas, seja no papel de consumidores, seja no de empreendedores.

Há muito a compreensão do futuro deixou de ser uma mera curiosidade para se tornar indispensável para a perpetuação das empresas, dos negócios e da nossa própria existência. Para isso, não existe caminho melhor do que mapear esse futuro a partir da lente das tendências – e daquilo que já é realidade.

Diante de todo esse cenário, apenas uma certeza: a revolução continuará, ainda mais veloz e intensa do que vimos até aqui.”

Luís Rasquilha
CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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