A experiência da covid-19 impôs mudanças significativas, reorientando uma agenda que fecha o foco no bem-estar
A grave crise sanitária global – pandemia do coronavírus – deflagrada no início de 2020 trouxe incontestáveis desafios à área da saúde. Face a milhões de pessoas doentes e a inúmeras e lamentáveis mortes, uma literal corrida em busca de vacinas, de medicamentos eficazes e de infraestrutura para atendimento aos doentes mobilizou empresas farmacêuticas, centros de pesquisa, cientistas, hospitais, universidades, profissionais da área da saúde, laboratórios e governos em todo o planeta.
Em decorrência, observou-se inédito estímulo a práticas colaborativas entre nações em diversos níveis: agentes econômicos (públicos e privados) ampliaram o fluxo de troca de informações sobre a crise, de investimentos transnacionais, de compartilhamento de pesquisas e descobertas científicas em busca de respostas coletivas e eficazes ao grave momento. Ao redor do planeta, práticas humanitárias e de solidariedade ganham força e relevo como “pano de fundo” da tragédia global em curso.
E a humanidade (vivenciando o aumento da expectativa de vida) aumentou a sua consciência por práticas de vida mais saudáveis, privilegiando atividades e comportamentos que antes não tinham tanta dedicação e alocação de recursos como agora – busca por alimentação saudável, prática de exercício físico, envelhecimento com qualidade, etc. – alterando até a forma como encaram carreira e trabalho.
Nesse sentido, existe um conjunto de tendências que vão pautar a saúde nesta década.
A partir da realidade pós-covid 19 muitas mudanças se confirmaram e muitas perspectivas sobre saúde despontaram. Um grupo bastante alargado de tendências têm-se confirmado e apontado o caminho para 2030. São elas:
1. Evolução genética: os avanços genéticos em todas as áreas têm reescrito muitas das páginas consideradas intocáveis na história. Seja no âmbito da medicina, alimentação ou reprodução, a genética tem contribuído decisivamente para a evolução da humanidade.2. Busca de equilíbrio: o ressignificar de prioridades, dos propósitos e dos valores tem deixado claro que a sociedade busca um equilíbrio. Se antes era carreira ou família, por exemplo, hoje é um e outro. Não mais um ou outro. O equilíbrio entre produção e consumo, entre exercício e alimentação, entre entretenimento e descanso (e tantos outros) reforça o entendimento que existe maior consciência para a adoção de caminhos equilibrados (ou caminhos de meio) em detrimento de extremos, nunca saudáveis.3. Humanos 2.0: ao mesmo tempo, a elevada dependência da conexão tem nos transformado de tal forma que já se afirma que esta é a última geração de homo sapiens (frase proferida por Yuval Harari na última convenção de Davos), caminhando para a chamada geração algorítmica ou singular. A singularidade representa um evento histórico previsto para o futuro, no qual a humanidade atravessará um estágio de colossal avanço tecnológico em um curtíssimo espaço de tempo e no qual todos serão um mix de homem e máquina. Se já hoje não conseguimos nos separar dos smartphones, smartwatches e smart tudo, em breve teremos implantados em nossos corpos e em nossos cérebros todos os tipos de gadgets e chips de conexão e comunicação em tempo real, acessando, compartilhando e produzindo todo o tipo de informação e conhecimento.4. Wellthy (wellness & healthy): saúde e bem-estar, longevidade e felicidade são fundamentais. Os benefícios são óbvios e “mente sã em corpo são” permite que se possa enfrentar com outra garra as adversidades dos tempos modernos. As fontes do estresse diário são muitas e é prioritário ter formas e meios de o combater. A promoção e o monitoramento permanentes de práticas e estilos de vida mais saudáveis são fortemente disseminadas, com recurso às tecnologias de informação e a um mundo cada vez mais interligado em busca de felicidade utilizando as tecnologias de informação e um mundo cada vez mais interligado. Partilham-se histórias, experiências, técnicas, dietas, planos de treino, etc., tudo o que promova a vitalidade é bem-vindo! Um mundo mais wellthy (junção de wellness e healthy) cresce como contraponto e busca de equilíbrio ao mundo conectado e vivido em permanente aceleração.5. Relax & espiritual: este movimento vai muito além da questão de relaxamento, traduzindo-se numa necessidade mais básica para viver em equilíbrio. A vida é cada vez mais estressante e emocionalmente exigente. Os níveis de estresse no trabalho nunca foram tão altos e a busca por soluções de relaxamento e melhoria da qualidade de vida nunca foram tão importantes na vida das pessoas. Seja uma pausa diária, um retiro ou mesmo uma forma de vida, a busca pelo equilíbrio e pelo desacelerar do mundo conectado tem ganhado adeptos e aberto inúmeras oportunidades de negócio. O maior desafio hoje é conseguir viver em equilíbrio com tantas demandas e iniciativas que nos aceleram a vida e o cérebro.6. Busca pela felicidade: um sentimento que se afirmou com a pandemia e que saiu reforçado no sentido em que há uma maior consciência do desejo de fazer coisas que nos façam bem e nos deixem felizes. A mudança de século e o emergir das novas gerações têm reforçado a questão emocional como crítica da performance, saúde e bem-estar. Antes de qualquer coisa somos humanos e os humanos querem ser felizes.
E a pergunta que agora se coloca é: o que fazer com tudo isto?
Quais os grandes insights que podemos enumerar saídos deste grupo de tendências e respectivas predições? São 12:
1. O crescimento do mercado de saúde e bem-estar será constante à medida que a expectativa de vida e a explosão demográfica aumenta, abrindo novas oportunidades de mercado e novos segmentos a serem atendidos.2. A detecção preditiva de doenças, através de soluções de IA vai revolucionar a medicina e a saúde, transformando a atuação reativa numa atuação cada vez mais preditiva.3. A revolução digital e conectividade permanente designada como IOMT (Internet of Medical Things, na sigla em inglês) trará um número significativo de soluções tecnológicas e de conectividade dos quais podemos destacar soluções de data cloud, chatbots, smart data ou blockchain.4. Impressoras 3D, que já são realidade, permitirão acesso a um elevado conjunto de soluções nunca possíveis, como por exemplo a impressão de órgãos do corpo humano revolucionando bancos de órgãos e a eliminação da rejeição de órgãos implantados por incompatibilidades de DNA.5. Novos serviços médicos digitais, como telemedicina, apenas estão começando a surgir e abrem novas perspectivas e possibilidades de atuação nesta área.6. Cibersegurança e compartilhamento de dados são o ponto alto e crítico desta nova realidade, uma vez que a massificação de dados e a crescente discussão sobre a sua privacidade, e até propriedade, não são ainda temas pacificados.7. Robotização nos procedimentos, como por exemplo robôs de apoio com nanoprecisão, cirurgia robótica e remota asseguradas por automações que complementam a atuação humana, mudam a forma de atuar dos profissionais da área.8. A revolução da nanotecnologia não se aplica apenas na tecnologia mas alarga-se neste mercado através de inúmeras possibilidades de tratamento e medicação, como por exemplo a adoção de partículas para nano medicamentos.9. Os microchips não são novos, mas a prática de implantá-los em humanos é. Com pequenos chips de identificação por radiofrequência (RFID – Radio Frequency Identification, na sigla em inglês) implantados em mãos ou pulsos veremos além de atividades como pagamentos ou desbloquear acessos a lugares, o monitoramento de sinais vitais de forma permanente e regular.10. Exoesqueletos como os do Exterminador do Futuro (um organismo cibernético composto de tecido vivo sobre um endoesqueleto de metal), apresentados de forma fictícia em 1984, passaram a ser reais, permitindo a criação de um tipo diferente de ciborgue — um que usa um exoesqueleto de metal sobre seu saco de carne biológico. Isso vai revolucionar a mobilidade humana e a recuperação da mesma em situações de doença ou acidente.11. Olhos biônicos serão realidade acessível sendo hoje usados para tratar a degeneração macular hereditária e relacionada à idade (DMRI) e contam com uma câmera montada em óculos que alimentam entradas para eletrodos ligados à retina. Essa técnica é um meio notável, embora ainda imperfeito, de reverter uma forma de cegueira.12. Interfaces cérebro-computador: os humanos já podem controlar cadeiras de rodas, membros neuroprotéticos avançados e drones com suas mentes. Interfaces cérebro-computador (BCI) também têm sido usadas para se comunicar com pacientes que sofrem da rara aflição da síndrome do encarceramento. Em breve poderemos estar usando tecnologia como essa o tempo todo, não apenas para corrigir deficiências, mas para melhorar a comunicação e a conexão sensorial. Talvez pudéssemos até nos conectar telepaticamente.