A expectativa de maior produtividade com inovações tecnológicas está sendo frustrada porque os talentos humanos não avançam no mesmo ritmo; saiba como estruturar novos processos de capacitação para os novos tempos
Em um mundo desperto para a inteligência artificial, as habilidades profissionais rapidamente se tornam obsoletas, criando um desajuste entre o conhecimento disponível e as necessidades do mercado. Isso não é novidade.
Em cinco anos, 44% das habilidades dos profissionais serão alteradas, segundo o estudo Futuro do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial e que, no Brasil, teve o apoio da Fundação Dom Cabral. Também não há novidade aqui.
A novidade é que o desalinhamento entre as inovações tecnológicas e a capacidade da força de trabalho de aproveitá-las aumenta ano após ano e não tem inspirado suficientemente uma abordagem proativa em capacitação para reduzir essa lacuna. Dados do Estudo de Tendências de Talentos Globais 2024, da consultoria Mercer, mostram que três em cada cinco executivos (60%) acreditam que a IA está avançando mais rápido do que suas empresas podem capacitar os trabalhadores, mas menos da metade (47%) acha que podem atender à demanda com seus talentos atuais.
E pior: o mesmo estudo mostra que o rápido crescimento da IA generativa gerou expectativa sobre o aumento da produtividade da força de trabalho, com 40% dos executivos prevendo que a IA proporcionará ganhos de mais de 30% em seus negócios, só que não acreditam possuir uma equipe de pessoas capaz de converter o uso de IA em produtividade.
Esse cenário não deixa dúvidas sobre a importância de atualizar as competências e adotar práticas de upskilling (aprimorar habilidades para o cargo atual) e reskilling (preparar o colaborador para novas funções e desafios dentro da empresa).
De acordo com o 2024 Workplace Learning Report, do Linkedin, a construção de habilidades profissionais não é apenas uma vantagem para o trabalhador — é uma prioridade para o sucesso da empresa.
Dados da pesquisa revelam que nove em cada dez executivos globais planejam aumentar ou manter estável seu investimento em aprendizagem e desenvolvimento durante o ano corrente.
Em relação às empresas, os dados trouxeram que 40% têm iniciativas maduras quanto ao desenvolvimento de carreira — o que significa que elas investem em iniciativas como: treinamentos para a liderança, empregos internos compartilhados, mentoria, planos de carreira individuais e mobilidade interna.
O mais animador para as organizações é que, segundo os estudos, esses programas de desenvolvimento geram resultados comerciais positivos.
Costumo dizer que o aprendizado contínuo, o famoso lifelong learning, é a pedra fundamental para o reskilling e upskilling. Ele representa o compromisso de aprender e crescer ao longo da vida, que é a base para qualquer programa de desenvolvimento de habilidades.
Uma empresa que valoriza o aprendizado contínuo incentiva seus colaboradores a adquirir novas habilidades e conhecimentos constantemente. Isso não significa apenas oferecer cursos e treinamentos, e sim algo maior, como a criação de um ambiente de trabalho no qual o desenvolvimento profissional é realmente cultivado e valorizado.
Integrar o reskilling e o upskilling na estratégia de gestão de talentos, mais do que resposta às mudanças de mercado, sinaliza o compromisso da empresa com o desenvolvimento da carreira do colaborador.
Organizações que dominam essa prática demonstram uma visão de futuro e se colocam na vanguarda ao reconhecer que o capital humano é essencial para o sucesso sustentável. Essas empresas geralmente estão mais bem preparadas para enfrentar desafios e se adaptar a novas situações, mantendo-se à frente da concorrência.
Não existe uma regra geral para aplicar reskilling e upskilling. Quem quiser fazê-lo de modo realmente efetivo precisa ter um planejamento estratégico de desenvolvimento alinhado com os objetivos de sua empresa e com as necessidades de seus colaboradores.
Para planejar, ajudar entender a aplicação das abordagens como um processo de cinco etapas.
Entender para onde o mercado está indo e se adaptar a ele é crucial para continuar relevante e competitiva. Ficar de olho nas tendências atuais e antecipar o que vem por aí ajuda sua empresa a desenvolver as habilidades necessárias.
Ao criar uma cultura de aprendizado contínuo e incentivar o crescimento dos colaboradores, a empresa transforma o ambiente de trabalho em um local mais engajador e produtivo. Investir em reskilling (requalificação) e upskilling (aperfeiçoamento) também costuma aumentar a satisfação e a retenção dos talentos.
Com isso, o efeito positivo dessas iniciativas vai além da eficiência operacional, impactando também a capacidade de inovação da empresa. Com um plano de desenvolvimento contínuo, o líder está construindo um futuro mais sólido e sustentável para sua equipe e sua organização.