Reativar um relacionamento profissional inativo há algum tempo não é tão simples quanto parece. Uma nova pesquisa revela três elementos essenciais para que essa retomada seja feita com sucesso e evitar um passo em falso
Todos sabemos: relacionamentos adormecidos podem, sim, ser ressuscitados. Hoje, em que o mundo se aventura de volta a ambientes sociais profissionais depois de experimentar a desconexão induzida pela pandemia, as pessoas estão particularmente interessadas em reviver esses laços que se tornaram inativos. Essas conexões têm o potencial de serem incrivelmente valiosas: durante o período de dormência, antigos contatos aprenderam coisas novas e desenvolveram novas redes que podem render conselhos, referências, apoio emocional e até oportunidades concretas.
Tínhamos o costume de achar que despertar um laço adormecido fosse um processo simples: algo como, você sabe, chegar e começar a falar com as pessoas. Essa é uma visão que pressupõe que as pessoas podem simplesmente se reconectar como se o tempo não tivesse passado.
No entanto, novas pesquisas mostram que esse processo de recuperação de vínculos é mais complexo do que isso. Podemos cometer erros simples que podem atrapalhar a reconexão, às vezes de forma tão dramática que podem levar ao fim de um relacionamento. Pudemos observar isso: um de nós estava com um gerente de inovação em uma convenção logo depois de um ex-colega ter feito uma tentativa mal executada de reconexão.
“Inacreditável. Você ouviu o que ele me perguntou?”, disse o gestor. “Nunca mais vou falar com esse cara!” Ainda que de maneira menos dramática, a resposta a uma abertura pode parecer amigável (“Bem, foi ótimo vê-lo”), mas depois a pessoa admite a relutância em se envolver mais, colaborar ou compartilhar o que sabe com o outro.
Por que algumas tentativas de reconexão se mostram tão pobres ou mesmo prejudiciais? E o que torna algumas mais bem-sucedidas do que outras? Investigamos essas questões observando e entrevistando gestores para entender como recuperar um grau de confiança que beneficie ambas as partes.
Ao longo de vários anos, observamos dezenas de reconexões em tempo real em convenções da indústria e realizamos 71 entrevistas com executivos de toda a indústria têxtil no norte da Itália. Identificamos três elementos consistentemente associados a reencontros bem-sucedidos: o quanto as pessoas se lembram uma da outra, como conseguem se atualizar mutuamente e se têm ou não uma percepção semelhante do relacionamento. Desenvolvemos um modelo para retomar conexões no qual ambas as partes obtêm algum tipo de resultado, como uma colaboração produtiva ou conselhos úteis.
Em seguida, esse modelo foi testado com 331 profissionais nos Estados Unidos para avaliar o impacto de cada um dos três elementos na disposição de outra pessoa em ajudar. Apresentamos uma vinheta descrevendo uma tentativa de reconexão de um ex-colega de trabalho e perguntamos: “”Quão disposto você estaria a ajudar essa pessoa?””. Aferimos se a presença ou a falta de algum desses elementos afetava essa disposição e descobrimos que, sem nenhum dos elementos presentes, ela era, na melhor das hipóteses, neutra — 3,86 em uma escala de um (não querer) a sete (querer). Quando todos os três elementos estavam presentes, passou de neutro para, essencialmente, “”Sim, eu concordaria em ajudar”” (5,72), o que validou nossos achados. Também confirmamos que os três elementos de reconexão funcionam especificamente porque aumentam a confiança das pessoas de que o outro se preocupa e as apoiará. Os resultados foram publicados no começo deste ano na Organizational Science.
Conheça os abaixo os três elementos-chave que identificamos e como usá-los para aumentar o sucesso ao buscar uma reconexão adormecida.
1. Lembrar: é fundamental reconhecer o outro e, se não o fizer, pode ser constrangedor ou até ofensivo. Tentar se reconectar com alguém que não o reconhece é doloroso e pode até fazer você parecer menos digno de confiança. E muitas vezes encerra permanentemente o relacionamento.
Uma maneira é dar à outra pessoa que está sendo abordada tempo para procurá-lo em mídias sociais, como o LinkedIn, em que se pode ver seu rosto, ler sua biografia e lembrar de como se conhecem. Um telefonema sem aviso pode ser arriscado: um gerente de pesquisa e desenvolvimento nos contou sobre ligar para um CEO e ter que explicar várias vezes quem ele era e como e onde haviam se encontrado. Por fim, o CEO se lembrou dele como “”o jovem com grandes esperanças””. O gerente de pesquisa e desenvolvimento se sentiu humilhado e decidiu não pedir o conselho que procurava e nunca mais ligou para o CEO.
Abordar alguém pessoalmente em um evento profissional também pode ser complicado. Tenha em mente, por exemplo, que a aparência de todos muda com o tempo, incluindo a sua, então fornecer pistas como um crachá de identificação com o nome visível pode ajudar.
Uma vez que se reconheceram, relembrar experiências compartilhadas ajuda a resgatar a relação, trazendo a ambos o que estava acontecendo quando o laço estava ativo. Você pode falar sobre os momentos passados juntos, e até mesmo dificuldades compartilhadas. Por exemplo, observamos uma reconexão bem-sucedida em que um participante disse: “”Você se lembra do nosso diretor? Ele era horrível.”” O outro teve a mesma lembrança: “”Ha ha, como eu poderia esquecer? O sujeito mais inacessível, super mal-humorado.”” À medida que as lembranças voltavam, os ex-colegas criavam uma ponte entre o passado e o presente.
2. Atualizar: colocar em dia os assuntos profissionais e até pessoais desde a última vez em que vocês se viram traz a relação para o presente e completa o quadro do que aconteceu enquanto estavam afastados. Isso não é um tipo de conversa fiada: ela permite que o outro veja quem você é agora. Um executivo disse que ouvir sobre o plano de carreira da outra pessoa “”não só ajuda na reconexão, mas é também fundamental para entender com quem você está falando hoje””. Observe que recuperar o atraso não significa fornecer um relato cronológico detalhado de tudo o que aconteceu desde a última vez que você esteve em contato. Focar apenas nos destaques relevantes pode ajudar a orientar estrategicamente a conversa.
Incluir detalhes sobre assuntos pessoais pode tornar a reconexão menos transacional. “”Se você temperar tudo isso com alguma menção à sua vida pessoal, vai ajudar a trazer a conversa a um contexto um pouco mais humano””, disse outro executivo. “”Se você for muito direto ao ponto, a pessoa pode se sentir explorada.”” É importante não ficar muito pessoal, no entanto. Um gerente, ao descrever a recuperação de um antigo contato depois de oito anos, explicou: “”Eu não queria cruzar a linha e ser muito intrusivo, então tentei limitar isso a amabilidades, procurando mostrar que me importo sem ser indiscreto””. Infelizmente, nem todos seguem esse conselho. De fato, assistimos a vários desastres de reconexão provocados por perguntas indiscretas, tanto de ordem profissional (“”Eles pelo menos lhe pagaram bem quando você foi demitido como CEO?””) quanto pessoal, com um questionário sobre como o outro estava lidando com a morte de um cônjuge. Ambas as tentativas de reconexão foram interrompidas pela outra pessoa.
Conhecer a si mesmo também ajuda ambos os lados a ver se gostam e confiam um no outro. Inicialmente, pode parecer um ritual desnecessário, mas permite que as pessoas verifiquem se a imagem que têm de você, e se podem confiar, ainda vale. A forma como você se apresenta – seus pontos de vista, suas experiências recentes – afetará não apenas como a outra pessoa o vê, mas o relacionamento em si. E você também estará em posição de reavaliar seu antigo contato. Esse é o momento em que ambas as partes avaliam, muitas vezes inconscientemente, se a outra pessoa representa um vínculo viável para o futuro.
3. Perceber que laços semelhantes os ligam: os dois lados precisam estar na mesma página sobre o relacionamento, como quão próximos se sentem, se suas funções ou empresas são concorrentes ou se desfrutam ou não de um mesmo status. Por exemplo, reconectar-se com pessoas que você costumava conhecer muito bem ou muito pouco é bom, desde que o tratamento seja compatível. Tratar alguém como um confidente próximo quando você tinha um relacionamento distante com ele (ou vice-versa) atrapalha a reconexão.
Contatos adormecidos que agora são concorrentes ainda podem se reconectar com sucesso e, às vezes, até trabalhar juntos (como em ações para promover o segmento) mas todos precisam ter a mesma visão sobre a natureza do relacionamento. Como disse um executivo: “”Se eu achar que perguntar algo a essa pessoa causaria um conflito de interesses, eu não pergunto””.
Um gerente de P&D nos contou sobre uma reconexão que ele tentou fazer com um ex-funcionário que havia se tornado CEO de uma empresa pequena, mas de rápido crescimento, e que não funcionou. O CEO “”manteve a conversa em termos rápidos e superficiais antes de desligar””. Esse gerente completou na sequência, sem se esconder, que poderia ter se comportado de um jeito mandão, como se seu ex-colega lhe devesse algo. “”Talvez ele tenha sentido que eu o estivesse tratando como meu funcionário em vez de CEO de uma empresa importante””, disse ele. Os dois não estavam vendo o reencontro da mesma forma, e a tentativa de reconexão falhou.Estar na mesma página define os limites do que é ou não apropriado se e quando vier a fazer pedidos nesse processo. A outra pessoa precisa confiar que você não vai pressioná-la a compartilhar recursos que ela não se sente confortável em fazê-lo, em função do tipo de relacionamento que vocês têm.
Esses últimos pontos são sobre como recuperar laços adormecidos. Não se esqueça, porém, que também importa quem é a outra pessoa. Pesquisas anteriores descobriram que as conexões recuperadas mais úteis são aquelas que provavelmente trarão coisas novas, como contatos de status mais alto e pessoas com quem você não chegou a passar muito tempo anteriormente. E que também provavelmente serão pessoas que, espera-se, se importem com você e estejam dispostas a ajudar.
Refrescar esses laços de outro tempo pode ser tão importante para melhorar sua rede quanto adicionar novas pessoas ou fortalecer aqueles já existentes. Executivos experientes se reconectam, mas fazem isso com atenção. A recompensa é que os pedidos para colaborar ou buscar conselhos serão recebidos com maior abertura e com mais disposição da outra pessoa de ir além na ajuda sem que se sinta explorada. Aqueles que dedicam atenção a esses três passos são mais capazes de restaurar relacionamentos antigos em todo o seu potencial: renovados, confiáveis e prontos para ajudar.”