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5 aspectos-chave para impulsionar a transformação digital nas organizações

Em diferentes indústrias e setores, os gestores devem adquirir conhecimentos e competências para terem sucesso na era digital e aproveitarem as oportunidades que surgem em seus negócios

Wandick Leão Féres, André Luis de Castro Moura Duarte e Thomaz Martins de Aquino
30 de julho de 2024
5 aspectos-chave para impulsionar a transformação digital nas organizações
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Nos últimos anos o tema transformação digital (TD) tem chamado a atenção de gestores e empresas, independente do seu tamanho e setor de atuação. A expressão TD tornou-se amplamente conhecida, mesmo que não seja profundamente compreendida. Muitos que se mostraram interessados nesse tema, por vezes, embarcaram em uma busca frenética por consultorias especializadas ou tentaram implementar por conta própria tecnologias da “moda”, desnecessárias e, em última análise, sem resultados concretos para suas organizações.

Por outro lado, tanto a comunidade acadêmica como algumas empresas já identificaram alguns fatores importantes para o sucesso da TD. Alguns desses fatores são o pleno engajamento da alta gestão na criação de um mindset digital, bem como a aquisição de conhecimentos e competências específicas. Esses elementos são essenciais para garantir que as organizações alcancem seus objetivos competitivos e obtenham resultados tangíveis ao implementar iniciativas de TD.

No cenário empresarial atual, as grandes empresas reconhecem a importância das consultorias para enfrentar a competição acirrada na era digital e implementar projetos de TD. A alta gestão e o suporte de consultorias desempenham um papel crucial, pois o contexto competitivo digital é complexo, repleto de incertezas e constantes aprendizados. No entanto, surge uma questão relevante: como as pequenas e médias empresas (PMEs) – que também enfrentam essa competição digital, mas muitas vezes não têm recursos para contratar consultorias – podem lidar com os desafios da transformação digital? Este artigo aborda estratégias para que esses negócios consigam superar esses desafios.

Em pesquisa acadêmica recente conduzida por um dos autores deste artigo, Wandick Leão Féres, foi constatado que o processo de TD varia de acordo com a indústria e o mercado em que as empresas estão inseridas. No entanto, um achado surpreendente, que não era o foco principal do estudo, diz respeito aos conhecimentos e competências dos gestores, especialmente em relação à seleção e desenvolvimento de recursos necessários para o processo de TD. Em todas as diferentes indústrias e setores pesquisados, foram encontradas semelhanças nos conhecimentos e competências dos gestores para o sucesso da TD. As empresas analisadas variam em tamanho e indústria. Assim, entendemos que esses achados podem ter grande poder de generalização, tanto para diferentes tamanhos de empresa como para diferentes indústrias. Porém, focamos nessas descobertas como sendo de grande utilidade para as PMEs, em virtude de suas limitações de recursos quando comparadas com as grandes empresas. Existem cinco aspectos-chave que são essenciais para que os gestores possam lidar com a era digital e impulsionar a TD em suas empresas:

1 – Conhecimento do mercado de atuação: é fundamental que os gestores possuam um profundo conhecimento do mercado em que atuam. Isso envolve refletir sobre o pacote de valor dos produtos e serviços ofertados, estar atento a possíveis tendências e oportunidades de negócios, e realizar benchmarking no mercado em que estão inseridas.

2 – Conhecimento das tecnologias digitais: é importante compreender e refletir sobre como as tecnologias digitais podem trazer maior valor e melhorias operacionais para a empresa. Isso inclui softwares, sistemas, big data, inteligência artificial, plataforma em nuvem, automação de processos por robôs e outras soluções tecnológicas relevantes para o negócio. A empresa deve explorar como essas tecnologias podem ser integradas em sua operação, bem como nos produtos e serviços oferecidos.

3 – Competência para planejamento estratégico: uma competência de análise e formulação de estratégias é necessário para identificar oportunidades e maximizar o valor agregado aos produtos e serviços por meio das novas tecnologias digitais disponíveis. Nesse caso, o benchmarking de negócios de outros setores tem sido uma tendência. Um planejamento estratégico sólido orienta as ações da empresa e direciona seus esforços para alcançar os objetivos desejados.

4 – Competência empreendedora: o empreendedorismo desempenha um papel crucial na era digital. As empresas devem ter a capacidade de identificar, avaliar e explorar oportunidades para introduzir novos bens e serviços, formas de organização, mercados, processos e matérias-primas. Isso requer esforços organizacionais que antes não existiam e implica riscos, aprendizado contínuo e interação com colaboradores e consumidores.

5 – Competência para inovação: todos os aspectos mencionados anteriormente estão intrinsecamente relacionados à inovação. Ela é a alavanca principal da TD das empresas, permitindo a criação de novos modelos de negócio, produtos e serviços. As empresas devem buscar constantemente novas formas de agregar valor, impulsionar a criatividade e promover uma cultura de inovação em todos os níveis da organização.

Ao reunir esses conhecimentos e competências, os gestores estarão mais preparados para enfrentar os desafios da era digital e aproveitar as oportunidades que surgem em seus negócios. A TD exige uma abordagem holística e particular para cada negócio e indústria, em que o conhecimento do mercado, o planejamento estratégico, o aproveitamento das tecnologias digitais, o empreendedorismo e a inovação caminham juntos para impulsionar o crescimento e a sustentabilidade das organizações.

Partindo do pressuposto de que os gestores de PMEs, mesmo os menores e mais estabelecidos, possuem um profundo conhecimento de seus mercados de atuação, reconhecemos também que eles têm a capacidade de identificar maneiras de agregar mais valor aos seus produtos e serviços. No entanto, caso esses conhecimentos e habilidades precisem ser atualizados, sugerimos que eles tenham acesso a materiais sobre planejamento ágil de negócios e considerem o uso de ferramentas como Canvas e design thinking. Esses recursos podem ajudar a aprimorar suas habilidades e organizar seus conhecimentos, mesmo para aqueles que já possuem um domínio sólido desses aspectos.

No entanto, é importante reconhecer que compreender as tecnologias digitais e desenvolver competências de empreendedorismo e inovação pode ser mais desafiador para esses gestores. As tecnologias digitais estão constantemente evoluindo e até mesmo os profissionais da área de tecnologia enfrentam dificuldades para acompanhá-las. Nesse sentido, observa-se um intenso movimento por parte dos fornecedores dessas tecnologias, bem como dos interessados em adquiri-las, em divulgar suas soluções por meio de fóruns, feiras e eventos relacionados à tecnologia. Essas oportunidades podem ser aproveitadas pelos gestores de PMEs que buscam a TD para se manterem atualizados sobre as novidades tecnológicas.

Outra abordagem é realizar benchmarking, tanto com concorrentes diretos quanto com empresas de setores completamente diferentes. Essa sugestão é particularmente relevante quando se trata de planejamento estratégico. Ao analisar as decisões tomadas por empresas como Netflix, TV Globo, Magazine Luiza, Vivo, General Electric e tantas outras, gestores de diversos tipos de negócio, como supermercados, padarias, pequenas fábricas, clínicas e consultórios, podem encontrar inspiração para suas próprias iniciativas. É essencial que os gestores estejam abertos a explorar essas oportunidades de aprendizado e benchmarking, a fim de adquirir conhecimentos sobre as tecnologias digitais e identificar boas práticas de empresas bem-sucedidas.

No que diz respeito ao empreendedorismo e à inovação, os gestores precisam estabelecer relacionamentos com startups, incubadoras, aceleradoras, centros de inovação universitários e outros ecossistemas de inovação. Essas interações demandam habilidades subjetivas relacionadas ao aspecto humano, uma vez que o empreendedorismo envolve riscos, incertezas e aprendizado. Esses atributos podem ser desafiadores para muitas pessoas lidarem. No entanto, os gestores de PMEs podem contratar profissionais especializados ou contar com o apoio de organizações sem fins lucrativos, como o Sebrae e ONGs, para obter uma perspectiva externa e compreender a importância de enfrentar os riscos e incertezas da era digital para garantir um futuro promissor para seus negócios. Não é por acaso que a gestão autônoma e empreendedora aparece na pesquisa como elemento central para a implementação eficaz da TD.

No entanto, tão importante quanto obter ou desenvolver esses conhecimentos e competências é como integrá-los para que eles de fato contribuam com o processo de TD. Ainda que os dados da pesquisa tenham sugerido os conhecimentos e competências mencionados, eles não evidenciaram diretamente nenhuma informação relacionada à integração deles. Por outro lado, os dados sugerem que é durante o processo de formulação e implementação da TD que os gestores das empresas estudadas reuniram e aplicaram esses conhecimentos e competências. A seguir citamos alguns exemplos que demonstram a necessidade e aplicação desses conhecimentos e competências.

Uma empresa, que prestava serviços de TI de forma convencional, tinha um time de técnicos que atendia chamados diversos de clientes B2C. Porém, seus gestores perceberam problemas de qualidade do serviço bem como dificuldade para a replicação do negócio de forma escalável (conhecimento do mercado de atuação). Em geral, os clientes reclamavam que o técnico não tinha aparecido ou que tinha chegado muito atrasado. Seus gestores pensaram então: “e se houvesse uma forma de saber em tempo real onde os técnicos estão?” (competência de empreendedorismo). Partindo desse ponto, a gestão disparou novas iniciativas para a TD da empresa. Realizaram benchmarking de empresas digitais como Uber e Easy Taxi. Ingressaram em cursos e programas de inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia (compreensão das tecnologias digitais e inovação) e depois descobriram que, para o negócio obter sustentabilidade, era necessário focar no segmento B2B (planejamento estratégico). A empresa cresceu e em 2021 já tinha presença relevante em cidades com mais de 100 mil habitantes, contando com o trabalho de 10 mil técnicos cadastrados que atendem diversos varejistas.

Outro exemplo é uma empresa do ramo editorial de palavras cruzadas que decidiu lançar aplicativos para smartphones devido à queda nas vendas de revistas impressas, um sintoma negativo do mercado editorial em geral. No entanto, identificaram que um dos principais problemas era o canal “bancas” e não o seu produto em si (conhecimento do mercado). Encontraram, por exemplo, opções digitais de jogos e palavras cruzadas de baixa qualidade com uma base de usuários significativa. Inicialmente, a empresa contratou uma empresa de desenvolvimento de software e realizou experimentos iniciais, enfrentando as dificuldades e incertezas de empreender algo novo nesse nicho de mercado (empreendedorismo e inovação). Com o tempo, compreenderam os profissionais e tecnologias necessários para o projeto dos aplicativos, resultando no desenvolvimento de uma plataforma própria (compreensão das tecnologias e planejamento estratégico). Com o sucesso do aplicativo, recentemente desenvolveram também sistemas de ensino-aprendizagem para o ensino infantil de prefeituras.

A organização e discussão sobre os conhecimentos e competências identificados na pesquisa qualitativa em conjunto com esses exemplos, ilustram como as empresas podem tomar decisões estratégicas coerentes com seus negócios dada a integração adequada de conhecimentos sobre o mercado de atuação e tecnologias digitais com competências de planejamento estratégico, empreendedorismo e inovação. Com isso, novos modelos de negócio, forma de operar e produtos e serviços podem chegar a mercados e públicos de clientes específicos, de forma bem-sucedida e com geração de valor agregado. Além disso, fica evidente a importância de lidar com os desafios que envolvem o empreendedorismo e a inovação, como riscos, incertezas e aprendizado contínuo. Por fim, o desenvolvimento de competências e conhecimentos específicos podem demandar a busca por parcerias externas, bem como certo tempo de absorção por parte dos gestores e empresas. Porém, entendemos que esse trade-off pode ser mais eficiente e eficaz quando a TD for planejada e implementada de forma particular e coerente com o contexto de cada negócio. “

Wandick Leão Féres, André Luis de Castro Moura Duarte e Thomaz Martins de Aquino
Wandick Leão Féres é professor auxiliar do Insper e doutor em administração de empresas pela FGV-EAESP. Atualmente se dedica às atividades de ensino, pesquisa, consultoria e assessoria em transformação digital, gestão de operações e recuperação do serviço. André Luis de Castro Moura Duarte é professor e pesquisador do Insper e doutor em administração de empresas pela FGV-EAESP. Thomaz Martins de Aquino é coordenador do Centro de Empreendedorismo (CEMP) do Insper e mestre em administração de empresas pela FGV-EAESP.

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