11%.
Trago este número para gravar na mente de todos nós. Onze por cento das empresas, segundo a pesquisa saindo do forno que o keynote speaker Sam Ransbotham apresentou no nosso AI Showcase dia 8 de agosto último, ainda não conseguem gerar valor significativo com inteligência artificial. Ele disse isso no AI Showcase e a gente vai desdobrar o tema a seguir de modo que sua empresa possa estar nesses 11%, e não nos 89% restantes.
O que limita o valor que sua organização obtém ao usar IA? Essa talvez seja, na lista de cinco perguntas-chave propostas pelo keynote speaker do MIT AI Showcase, a mais fundamental. Há dois pontos em que prestarmos atenção aí. O primeiro é que não se trata de gerar pequenas economias que costumam ser a razão do nosso contentamento. A pergunta remete a aumento de valor significativo mesmo, o tipo de valor que muda o patamar competitivo da empresa, o que será necessário porque a concorrência acabará fazendo isso. O segundo é que a resposta raramente é tão simples quanto “investimentos”. Na verdade, muitas vezes tem menos a ver com dinheiro e mais com outras coisas, sobretudo o modo de cada indivíduo, cada equipe e a organização como um todo usarem IA. Em outras palavras, é um problema de gestão.
Não seremos trocados por máquinas tão cedo. Pelo menos nos próximos cinco anos, humanos não devem ser substituídos pelas máquinas, garantiu o Sam. Tanto que 60% dos entrevistados na pesquisa do Sam disseram ver a IA como um colega de trabalho. (Vamos falar disso já já.) O melhor é usar tempo e energia para moldar a IA como queremos, o que significa cuidar das suas quatro características mais marcantes e usá-las em seus aspectos positivos, evitando os negócios. A saber, as quatro características: o fato de a IA ser agnóstica, invisível, impulsionar a velocidade das coisas e escalar muito rápido tudo. (Podemos colher os benefícios rápido, mas os problemas causados também explodem antes de sabermos lidar com eles.)
A jornada da IA que temos pela frente. O pressuposto é de que, no horizonte 1 (H1), de mais ou menos um ano a partir de agora, o uso de IA nas operações, para ganho de eficiência, vai predominar na maioria das empresas. No H2, de cerca de três anos, o reskilling/upskilling de pessoas será a prioridade. E no H3, de cinco a dez anos, é que vem a transformação para valer, de modelos de negócio, de gestão, de tudo que formos capazes de imaginar. Os painéis do AI Showcase seguiram essa lógica, discutindo com practioners do mercado brasileiro operações no curto prazo, pessoas no médio prazo e estratégia no longo prazo, contando respectivamente com líderes hands-on, CEOs e membros de conselhos de administração. Foi um mapeamento, mesmo que ainda sem todas as respostas.
Revisão de processos é a tônica no H1. E, portanto, se você não começou a revisar os seus, comece. Colocar IA sobre processos mal desenhados pode dar muito prejuízo. No painel que discutiu “o primeiro ano do resto das nossas vidas”, como sugeria o título, houve uma preocupação central: o Brasil está atrasado no uso de IA. Não em relação aos EUA ou à China, que seria normal, mas em relação mesmo a países da América Latina, como México, Chile e Uruguai. E o pior é o que nos dificulta acelerar para compensar o gap: a falta de um ecossistema mais maduro. (O que se vê pela baixa sinergia entre universidades e empresas, por exemplo.) Os painelistas celebraram, no entanto, a proposta de Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, anunciado pelo governo no final de julho, como algo que pode ser um catalisador. Participaram deste painel Fabio Gordon (Dell Technologies), Marcio Aguiar (Nvidia) e Marcelo de Oliveira (Venturus). Moderação da nossa Lara Silbiger.
Trabalhar dados também é tônica do H1. Aqui houve uma boa notícia. A Copastur Viagens e Turismo, representada pelo João Fornari, garantiu que dá para começar a trabalhar mesmo tendo poucos dados, puxando aos poucos dados do ecossistema. Foi muito bom ver um relato prático brasileiro confirmando o que pesquisas globais publicadas pela Mit SMR já têm falado, como esta. Rodrigo Soares, da Outsystems, também enfatizou o valor das soluções no code/low-code – que, no mínimo, conseguem ganhar tempo para as empresas construírem uma base sódida para os horizontes seguintes da IA. De novo, a moderação foi da nossa Lara Silbiger.
No H2, pessoas e máquinas como superminds. Para quem não se lembra, essas “supermentes” são aquele conceito do especialista em teamwork Thomas Malone, da MIT Sloan School, sobre equipes mistas de pessoas e máquinas. (Você pode ler a respeito das superminds aqui.) O H2 teve uma conversa de CEOs a esse respeito, mas eles começaram pelo começo: antes de as pessoas colaborarem com máquinas, elas têm de aprender a colaborar com outras pessoas (de preferência, diversas), de outras áreas da empresa e de outras organizações. Não vale trabalhar só com o amigo que senta na sua frente e almoça com você. Nesse caso, convidamos os CEOs de duas empresas digitais e movidas a IA, que praticam uma forma de trabalhar mais horizontal, ágil e colaborativa possível. (E até devem se assustar quando veem como acontece em empresas tradicionais.) Análise de contexto e pensamento crítico foram as habilidades mais destacadas e o líder que gera valor nesse H2 é o líder que desenvolve pessoas. A moderação foi do nosso Santiago Andreuzza.
No H3, a grande transição. Nenhum dos conselheiros presentes mostrou dúvidas de que transformação com IA já começou e está prestes a se acelerar, exigindo não apenas inovação tecnológica, mas uma profunda mudança cultural e organizacional. Como verbalizou Roberto Funari, “a verdadeira transformação ocorre na transição, em que empresas e colaboradores se ajustam, desapegam de antigas práticas e abraçam novas formas de operar”. Os conselhos estão atentos a isso? Os das startups sim, os das empresas incumbente nem sempre, mas as coisas começam a melhorar.
Investimentos, habilidades, metodologia para o H3. Segundo Funari, é essencial gerenciar essa transição cultural e organizacional, garantindo uma integração sustentável e profunda – ou ficará complicado…Assim sendo, o sucesso na IA depende de uma abordagem de investimentos equilíbrada entre capacitação humana e preparação de dados, conforme Funari. Juliana Tubino, dizendo-se uma otimista em relação a esse futuro, enfatizou bastante que o reskilling do time vai além de aprender novas habilidades técnicas; ele envolve adotar a mentalidade de empresas de tecnologia, focada em inovação, adaptação rápida, centralidade do usuário, diversidade, aprendizado contínuo, orientação a dados e responsabilidade social e ética – e atuação em ecossistema. Cesar Gon, que é conselheiro de empresas tradicionalíssimas como o Itaú, indicou o que pode ser a melhor metodologia para lidar com essa grande transformação, já que não há bola de cristal para antecipar hoje o que acontecerá: é o framework lean, representado pela famosa casa. Gon, aliás, também é conselheiro do Lean Enterprise Institute global. Fui eu que tive o prazer de conversar com esses três feras.
Toda a força das mulheres em IA. A plateia teve muitas mulheres, o que nos deixou bastante felizes. Mas a única painelista mulher acabou sendo Juliana Turbino, na foto abaixo conversando comigo. Então, conto que já estamos preparando um especial com as mulheres do Brasil dedicadas à inteligência artificial, coordenado pela nossa Anna Flávia Ribeiro, e vai ficar o máximo.
Dados e mais dados. Apresentamos ainda no MIT AI Showcase duas pesquisas extremamente interessantes: uma sobre a prontidão em IA das empresas brasileiras e outra sobre profissionais habilitados em IA (não letrados, mas habilitados) a caminho da supermind. Mas teríamos muito o que falar sobre elas e a newsletter já está longa. Então, dedicaremos um episódio do nosso podcast “O Futuro Vem do Futuro” a cada uma delas. Tivemos parceiros pesos-pesados – o Instituto Locomotiva no primeiro caso (Álvaro Machado Dias foi quem apresentou) e a Talent Academy com Talenses Group no segundo caso (Maurício Betti apresentou).
* Este texto foi extraído da nossa newsletter Xtended disparada em 12 de agosto de 2024. Confira AQUI a íntegra daquela edição.