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Como escutar melhor as metáforas e compreender seu significado

Entender como essa figura de linguagem é usada e sua importância para seu interlocutor é um caminho para se comunicar de maneira mais clara

Augusto Dias Carneiro
17 de setembro de 2024
Como escutar melhor as metáforas e compreender seu significado
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Metáforas são atalhos mentais que usamos para descrever algo abstrato usando termos bem concretos. O significado chega embrulhado na linguagem de outra coisa. Ou seja: a metáfora, longe de ser apenas um recurso de oratória/poesia/prosa, tem bagagem própria.

Tem mais: a gente se lembra melhor de coisas que ouvimos por meio de metáforas. Hoje eu quero falar sobre como podemos escutar melhor as metáforas e que significado adicional essa escuta pode nos trazer.  

Em primeiro lugar, as metáforas guardam algumas particularidades:

  • Elas são utilizadas em todas as culturas, mas como a língua influi no pensamento, algumas não são óbvias para pessoas que vêm de fora.
  • Não há variação estatística significativa entre cegos e não-cegos na compreensão de metáforas. 
  • Pesquisas médicas com aparelhos de ressonância magnética demonstram que metáforas “iluminam” partes adicionais do cérebro, em particular – curiosamente – a região que lida com texturas (Quinn Eastman, 2012)

Além disso, as metáforas lançam mão de uma fonte tangível (como o corpo, a direção ou o ato de ver ou comer) para explicar um objetivo menos tangível (como emoções, desejos, moralidade e relações humanas).

Como usamos metáforas na comunicação

As metáforas podem ser usadas para transmitir uma ideia de maneiras diferentes. Essa figura de linguagem pode, por exemplo, dar uma impressão de movimento – quando dizemos “chegamos a uma decisão” ou “você está me acompanhando?” em um contexto que nada tem a ver com essas ações no plano físico, e sim no mental – ou de manipulação de um objeto, só que imaginário – como “remoer uma ideia na cabeça” ou “batalhar com seus medos”.

Quando usamos metáforas na nossa comunicação, duas situações acontecem com muita frequência:

Você não entendeu a metáfora

O macete universal é fazer uma pergunta a partir da fonte tangível. Se um colega de trabalho fala “acho que tem comida demais no meu prato”, você faz uma pergunta com “prato” – um exemplo é “como você pretende lidar com esse seu prato cheio?”.

Você entendeu a metáfora, mas não sua relevância para quem fala

Se você supõe um sentido para essa metáfora, apresente a sua suposição seguida de “isso parece importante para você”. Exemplo: “você menciona que precisa de mais espaço de manobra. Isso me parece importante para você. Me conta como você imagina que isso pode acontecer”.

Se você não supõe um sentido do que ouviu, pergunte: “você pode explicar melhor o que pretende, quem sabe com outra metáfora”? 

Leia também: “Como o storytelling pode apoiar os negócios”, de Augusto Carneiro

Mas sua atenção deve mesmo se voltar para aquelas metáforas que a outra pessoa foi buscar no fundo da alma. São experiências internas penosas que alguém externaliza usando a linguagem metafórica. 

Pessoas que dizem “estou em cima do muro”, “sinto-me em uma encruzilhada”, “estou batalhando com essa situação” estão compartilhando com você uma imagem íntima – e assim literalmente convidando você para entrar na parte oculta de seu iceberg pessoal. 

Pessoas que vivem de escutar os outros (como terapeutas, coaches e mediadores) têm um treinamento específico para lidar com metáforas – algo que deveria ser estendido a todas as pessoas que atingem objetivos por meio dos outros. 

A literatura é escassa, então eis uma sugestão de leitura originalmente escrita para coaches pela autora e coach especializada no uso de metáforas Lyssa deHart: “Light Up: The Science of Coaching with Metaphors”.

Augusto Dias Carneiro
Coach, headhunter, mediador e board member, Augusto Dias Carneiro é sócio da Zaitech Consultoria. É autor do livro Guia de Sobrevivência na Selva Empresarial. O lançamento de sua próxima obra, O Livro das Ideias: Inovação e Empreendedorismo, está previsto para dezembro de 2024.

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