Muitos ainda evitam olhar para ela, mas, quando olharem, verão com nitidez: a nova economia é um bicho de duas cabeças. Uma cabeça é um amálgama de tecnologias digitais; a outra é feita dos comportamentos “digitais” das pessoas. O que isso significa? Entre várias coisas, significa que, se uma cabeça quiser ir para um lado e a outra escolher a direção aposta, esse animal ficará estacionado – e terá uma baita dor de pescoço (rs).
Nesta edição, MIT Sloan Review Brasil aborda a nova economia, como de costume, porém mais especificamente um comportamento digital humano – o de desempenhar melhor onde há diversidade.
Estudo da Deloitte, The radical transformation of diversity inclusion, já mostrava, em 2015, que os nativos digitais millennials ficam mais engajados (83%), sentem-se mais empoderados (76%) e são mais eles mesmos (81%) em ambientes inclusivos, o que cai para 60%, 61% e 59% em locais pouco diversos. A verdade é que, enquanto a velha economia funcionava com monotonia de gente, a nova quer variedade.
O que deveria estar tirando o sono dos gestores brasileiros? Apenas 28% das nossas empresas possuem área de D&I, segundo pesquisa publicada em janeiro de 2021 pela consultoria Mais Diversidade e a revista Você RH. E 65% nem sequer programa de D&I têm. Se é que estão entrando na nova economia, entram pela metade e estacionarão já já. Djalma Scartezini, vice-presidente da área na EY Latam [na foto abaixo], estima que umas 100 empresas do País estejam avançando no assunto, não mais. E diz que, mesmo nestas, ainda existe gap entre estratégia e implementação.
É assim que eu introduzo nosso Report especial, dedicado à equidade. (Lembrando que o contrário de desigualdade não é igualdade, mas equidade. Igualdade é tratar todos como iguais; equidade é tratá-los como diferentes, para que tenham oportunidades iguais. Portanto, equidade é o conjunto de ações que levam da diversidade à inclusão.)
Com base em pesquisas e experimentos, três artigos propõem que as empresas gerem equidade com ações bem práticas, e criativas, de gestão de cultura, de conexões e de recrutamento. Dois desafios particulares são: não usar o lucro como razão para agir e vencer a resistência branca a tais ações. Há diferentes categorias de resistência, sutis, não o caricato supremacista branco. Reconheci resistência sutil em mim quando, bem jovem, fazendo curso de extensão numa universidade de Londres, defendi nossa suposta democracia racial com argumentos que encheriam Gilberto Freyre de orgulho.
“O segredo para enfrentar satisfatoriamente essa resistência é explorar a necessidade humana de acreditar que somos bons e que temos sistemas justos… o desejo de restabelecer a justiça tem força”, diz um dos artigos do Report. Não é o lucro, não.
Nas próximas páginas você vai ler muito mais sobre as duas cabeças da nova economia: C-level, China, Nonaka e Takeuchi, superapps. E também a conexão Ceará-Santa Catarina por Kennedy Michilles; o blended finance por Marco Gorini; a humanização por Pedro Paro, Raj Sisodia e Mateus Gerolamo etc. Tudo isso é complexo e trabalhoso, eu sei, mas, pelo menos, a nova economia não é bicho de sete cabeças, só de duas, viu?
P.S.: MIT Sloan Review Brasil online tem quatro colunistas ótimas de DEI, todas ligadas à tecnologia: Dani, Grazi, Margareth e Nina.
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