Cobertura analítica destaca os sete ponto principais do ITForum@Home, realizado no início de junho
“Estamos vivendo a maior prova de conceito de todos os tempos.” Essa é a conclusão de Arthur Igreja, empresário e professor da Fundação Getulio Vargas que discorreu sobre os efeitos da pandemia do coronavírus sobre as empresas no Brasil e no mundo no IT Forum@Home, o primeiro evento da IT Mídia a ser feito por videoconferência. Ele citou o próprio evento como exemplo disso. Em 27 dias, o evento presencial foi reinventado para acomodar as necessidades de distanciamento social.
MIT Sloan Review Brasil analisa os principais pontos levantados no evento:
• A diferença na prontidão. “A transformação digital que a gente imaginava que iria acontecer daqui a cinco anos se consolidou em algumas semanas”, disse Igreja. “Temos dois grupos de empresas. Um negou a realidade e agora espera o estado das coisas voltar ao que era em 2019; outro, que já tinha feito o dever de casa, só precisou calibrar seu GPS. Veja o caso do Uber – o faturamento do UberEats já é maior que o do Uber. Se ele não tivesse sido criado a empresa estaria em situação muito pior.” E a gente pergunta: em que grupo está a sua empresa?
• Segunda chance. A sua empresa pode ainda estar, talvez, num terceiro grupo, o da “salvação da lavoura”. Isso porque, de acordo com Igreja, a Covid-19 salvou muitas empresas de um fim previsível. “Elas iriam quebrar em 2025 e tiveram que se adaptar rapidamente adotando teletrabalho e acelerar suas mudanças de processos. A desculpa de não ter tempo para revisar seus processos não existe mais.”
• Vacinação de experiências. A pandemia está fazendo surgir um mercado de muitos bilhões de dólares, que ele chama de “vacinação de experiências”. “Quem conseguir criar uma experiência protegida para o consumidor, do momento da compra até a volta para casa, mapeando uma jornada sem aglomerações e segura, vai sair na frente”, garantiu. “Isso passa por respeitar a biossegurança e usar tecnologia.” Assim é que se vai facilitar ao máximo as decisões de compra dos clientes.
• Mais racionalidade. O economista Guilherme Lichand vê um aumento da racionalidade na economia. Decisões racionais que, segundo ele, não são e nunca foram a norma. Mas agora, segundo ele, lembretes e notificações podem ajudar empresas a induzir seus clientes a decisões racionais. “”Na prática, pacientes esquecem de comprar remédio, trabalhadores não fazem as contribuições para sua previdência etc. Nudges, mensagens de encorajamento, lembretes inconvenientes podem mudar os comportamentos.” Fora isso, Lichand não acredita que haverá um novo normal pós-pandemia. Baseado na experiência suíça (ele mora em Zurique), acredita que o mundo irá voltar aos velhos hábitos assim que o risco de contaminação passar.
• Físico + digital + social. Silvio Meira, cientista-chefe da The Digital Strategy Company (TDS) e professor da Cesar School, especulou sobre quais experiências e tecnologias sobrevirão depois da pandemia. Para ele, quem não conseguir articular o físico com o digital e o social vai desaparecer. “”Será que vai acabar o cardápio físico, garçons ou os próprios restaurantes irão virar robôs? Será que vão acabar as filas de atendimento em consultórios médicos? Notas e moedas já não deveriam ter desaparecido? Por que a chave, um objeto que está com a gente há mais de 6 mil anos, ainda não desapareceu?” E ele arrematou: tudo isso depende de mudanças culturais, sociotécnicas, não apenas tecnológicas. Você está preparado ou não? Metalinguisticamente, o ITforum@Home fez isso: misturou o digital com o físico e o social: ao lado das palestras e encontros sobre tecnologia e negócios, houve shows (com artistas como Toquinho e Maria Rita) e degustações de cervejas e aulas de gastronomia – os participantes receberam fisicamente kits em casa para poder participar e cozinhar em tempo real.
• Área de saúde, a estrela. João Bosco, médico-cientista e CEO da Genomika Diagnostics, complementou a fala de Meira salientando que a pandemia expôs várias deficiências e trouxe grandes desafios para a área médica. “”A área de saúde é completamente analógica. Consultas são marcadas por telefone, pessoas ficam em uma fila de espera, o médico que não sabe se você foi em outra consulta na última semana, você sai com pedido de exame no papel, recebe seu exame também em papel, vai pra farmácia com uma receita que só vale se tiver o ápice da tecnologia analógica: um carimbo””. Para Bosco, assim como a telemedicina foi rapidamente regulamentada e de uma hora para outra foi possível realizar consultas à distância sem intermediários, todos os outros sistemas legados deverão ser atualizados. Oportunidades batendo à porta.
• Quem serão os sobreviventes. Para o filósofo Leandro Karnal, os únicos que sobreviverão à pandemia serão os otimistas práticos. Os negacionistas, os histéricos e os saudosistas serão os primeiros a morrer. “”Não importa nossa opinião sobre o vírus, ele vai chegar de qualquer jeito. Pandemias, revoluções e guerras são catalisadores. Elas aceleram o mundo. A primeira guerra trouxe o voto para as mulheres. Após a peste negra veio o renascimento, após a Primeira Guerra Mundial vieram os anos 20. O mundo não sera o mesmo após a pandemia porque nós já não somos os mesmos.