Eis uma aposta para algum negacionista do clima: escrever um trabalho científico sobre suas teses e submetê-la a revisão paritária. Vale um caminhão de pelúcias de Baby Yoda
Enquanto representantes de aproximadamente 200 países se reuniam em Madrid para discutir metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs), minhas mídias sociais bombavam com comentários de negacionistas e masoquistas clima. Nada de muito relevante foi decidido na COP25, mas como na guerra de versões a verdade é a primeira vítima, resolvi me antecipar e revelar a minha verdade de blogueiro que não é cientista, mas é engenheiro.
Trabalho há 20 anos com energia renovável e créditos de carbono e, portanto, minha opinião sobre o tema é seguramente enviesada. Mas vamos aos fatos: a mídia golpista propaga que o Brasil bloqueou as negociações nos últimos dias da conferência da ONU. Não vou comentar foto de ministro comendo carniça nem a tática dos negociadores brasileiros em relativizar a importância dos oceanos na captura de carbono.
A pecuária emite GEEs e os oceanos absorvem GEEs. Punto, basta! A realidade é que os negociadores brasileiros, exercendo o papel legítimo de defesa dos interesses do país, estão cobrando caro para aceitar a redação do artigo 6 do Acordo de Paris que regula o comércio de emissões. Negociador não é cientista nem é ativista.
Tendo a ser simpático às teses defendidas pela ativista Greta Thunberg por acreditar que ela está do lado certo da Força. Compreendo o motivo por trás do discurso inflamado de uma ativista e o seu efeito midiático, mas ativista não é cientista, assim como blogueiro não é nem ativista nem cientista.
No seu discurso na COP, Greta Thunberg usou ao menos um argumento sem embasamento cientifico para defender a urgência no combate às mudanças climáticas, criticando indiretamente o comércio de emissões. Nenhum problema se a defesa deste argumento for ideológica, mas fundamentalmente essa assertiva não tem amparo cientifico.
O efeito estufa é um fenômeno de ordem global. Não importa se as reduções de emissões ocorrem no país do Peixe Inteligente ou no país da Pirralha. Caso uma nação decida cumprir suas metas de redução de emissões investindo fora de seu território, a ciência garante que tal iniciativa contribui para a mitigação da concentração dos GEEs na atmosfera. Mas o fato é que a ativista Greta discorre com bastante desenvoltura sobre orçamento de carbono, o que demonstra que cabular aula de sexta-feira para fazer greve pelo clima não está afetando a sua capacidade de defender a ciência.
O mesmo não pode ser dito em favor dos negacionistas do clima. Na minha trajetória de empreendedor em cleantech tenho me deparado com todo tipo de argumento contrário ao conhecimento científico sobre o tema das mudanças climáticas. O negacionista original mesclava ideias de estirpe terraplanista com alegações conspiracionistas, acusando os cientistas de patrocinar o embuste das mudanças climáticas para beneficiar os agricultores americanos e europeus. Mais recentemente surge a figura do negacionista financista que embora terrabolista confunde a debilidade de modelos econométricos com a robustez de modelos científicos.
Não existe cavaleiro jedi capaz de mudar a lei da gravidade ou a segunda lei da termodinâmica. Já o boletim Focus, do Banco Central, que compila as previsões de especialistas do mercado financeiro, muda a estimativa de inflação toda semana. Mas eu divago.
A discussão sobre ciência das mudanças climáticas está restrita às mídias sociais e à rede de TV norte-americana Fake News Corporation. Nos meios acadêmicos esse assunto é verdade estabelecida, corroborada por inúmeros artigos submetidos a revisão por pares – do inglês _“peer review”_. Na revisão paritária um artigo científico é escrutinizado por especialistas do mesmo escalão que o autor. Publicações que não passaram pela revisão paritária tendem a ser vistas com desconfiança pela comunidade científica. Aposto um caminhão cheio de pelúcias do Baby Yoda que nenhum negacionista do clima aceitaria escrever um trabalho científico e submetê-lo ao processo de revisão paritária. Nem aqui nem em Jakku.