O consumidor mais consciente redireciona as iniciativas empresariais no pós-crise, com base em três comportamentos-chave
Não há como negar: 2020 tem sido bastante intenso e desafiador. Além de colocar em risco muitas organizações e empregos, mudou comportamentos dos consumidores e o modelo de operação das organizações.
O entendimento dessa situação e de suas implicações tem levado muitas organizações a anteciparem seus planejamentos e a mudarem o foco de seus esforços para o futuro. Em 2021, muitas empresas vislumbram uma virada positiva desse cenário e querem aproveitar as oportunidades pós-crise.
A história de 2020 nos evidenciou tendências a que as empresas devem estar atentas para aproveitarem o melhor do próximo ano. Três tendências são essenciais para a indústria de alimentos:
A alimentação saudável já era uma tendência antes da pandemia. Com o isolamento social e a elevação dos casos críticos de ansiedade, as pessoas estão ainda mais preocupadas em ter uma alimentação saudável que possa contribuir para o bem estar tanto do corpo quanto da mente.
Hoje, no mundo, cerca de 30% dos consumidores compram produtos elaborados para aumentar sua saúde, e 50% destes preferem alimentos que contenham componentes naturais.
Há três exemplos sutis, mas muito interessantes, que demonstram esta mudança de comportamento:
• O primeiro está relacionado ao consumo de vitamina C. Globalmente, as pessoas aumentaram o consumo de cítricos, visando equilibrar os níveis dessa vitamina e proteger-se dos efeitos de gripes em geral. Esse consumo ficou ainda mais acentuado com a pandemia da Covid-19.
• Um segundo exemplo está relacionado à saúde intestinal. Cerca de 25% das pessoas no mundo sofrem com algum tipo de disfunção digestiva. Isso as leva a consumir mais produtos que sejam de fácil digestão ou que as auxilie no processo digestivo, como, por exemplo, os probióticos presentes em iogurtes.
• Um último exemplo está relacionado aos baixos índices de vitamina D, veiculados pelas mídias recentemente. Sabendo que a falta dessa vitamina pode impactar em doenças diversas, os consumidores passaram a se preocupar em consumir mais alimentos ricos em vitamina D, como salmão, sardinha ou atum. Eles combinam alimentos saudáveis com práticas físicas e exposição ao sol para combater esta deficiência.
Em todos esses exemplos, os consumidores estão adequando sua alimentação para combater possíveis doenças. Eles o fazem na expectativa de aumentar sua qualidade de vida e, também, sua longevidade. Além disso, eles acreditam na máxima milenar “corpo são, mente sã”. Em outras palavras, o consumidor sabe que a saúde mental está atrelada à física e, consequentemente, ao que ele ingere.
A crise global de saúde ascendeu os faróis também sobre a cadeia fabril, o manuseio, a conservação e sobre a clareza das informações dos alimentos e bebidas que eles e seus familiares estão consumindo. Mais do que nunca, os consumidores querem ter acesso às informações que lhe deem confiança sobre o que estão ingerindo no seu dia a dia. Cerca de um quarto da população mundial costuma olhar as informações nutricionais, bem como a origem dos produtos alimentícios.
Outro comportamento que o consumidor está adotando com maior frequência e intensidade é a busca pela compreensão das condições de higiene e sanidade na produção ou manuseio dos alimentos. Esse aspecto é observado pelos consumidores não somente nas fábricas, mas também em supermercados, bares e restaurantes. Usando o exemplo dos restaurantes de São Paulo, os consumidores tendem a se sentir mais seguros quando o estabelecimento que frequentam segue as normas de distanciamento entre as mesas, dispõem de álcool, apresentam limpeza impecável e seus garçons usam os equipamentos de segurança e higiene adequados.
Basicamente, o consumidor está buscando fornecedores que lhe ofereçam um relacionamento baseado na transparência, segurança e confiança. Este tripé é a base para a construção de relações duradouras entre cliente final e as organizações.
De acordo com pesquisas da organização global ADM (2020), cerca de 65% dos consumidores estão preocupados com o impacto de suas ações no meio ambiente, o que leva mais de 30% dos consumidores a comprarem produtos sustentáveis. Esta é uma tendência que cresce no mundo e também no Brasil.
Em um artigo anterior, abordei o crescimento do consumo dos orgânicos no mercado brasileiro. Um dos três aspectos dos modelos de negócios dos orgânicos é seu apelo sustentável, ou seja, a preocupação com a conservação do meio ambiente para que esse possa ser usufruído por futuras gerações.
Outros movimentos que crescem no mundo e que estão alinhados com os aspectos de sustentabilidade são o “slow food”, que traz a experiência da cozinha caseira ou de raízes, e as compras locais, representadas pelas feiras de produtos locais.
Por fim, porém não menos importante, um movimento que tem crescido mundialmente é o do consumo de proteínas à base de plantas – tanto os vegetarianos, quanto os veganos. Aproximadamente 56% dos consumidores globais estão tentando incluir mais desses alimentos em sua dieta. Isso porque são considerados mais amigáveis ao meio ambiente em comparação às proteínas animais, gerando menos emissão de gases de efeito estufa e deteriorando menos as terras agriculturáveis. Junto com esse movimento, podemos ver claramente avanços tecnológicos que crescem a passos largos, como a impressão 3D de alimentos à base de plantas.
Para acompanhar todos esses movimentos sustentáveis elencados acima, as organizações precisam se reinventar e adequar seus modelos de negócio, a fim se tornarem mais atrativas aos olhos do consumidor consciente.
Em suma, as três grandes tendências apresentadas nesse artigo dão um norte para as organizações, direcionando-as sobre onde e como investir melhor seus recursos e esforços. Cabe a elas agora questionarem se seus modelos de negócios contemplam as ações necessárias para tirar proveito das oportunidades escondidas por trás dessas tendências.
Para mais informações sobre a indústria de alimentos, leia os demais artigos publicados na minha coluna aqui na MIT Sloan Review Brasil.”