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Como é ser uma mulher na tecnologia (numa empresa de tecnologia)?

No Dia Internacional da Mulher, conheça Silvana Livramento Xavier, head de transformação digital da CI&T; há cada vez mais espaço para mulheres no setor

Sandra Regina da Silva
22 de novembro de 2024
Como é ser uma mulher na tecnologia (numa empresa de tecnologia)?
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No passado, lá pelos anos de 1970 e 1980, era comum encontrar mais mulheres do que homens em cursos universitários da área de tecnologia, como o de matemática aplicada; isso remetia a carreiras do secretariado. Com o boom dos computadores e videogames, os algoritmos mudaram a aplicação e o perfil de atração. O resultado é o que vemos hoje: são poucas as mulheres trabalhando com tecnologia, e mais raras ainda em cargos de gestão e de alta liderança do setor – aliás, não apenas no setor. Em tempos de ESG e de escassez de talentos tecnológicos, mudar essa realidade ficou obrigatório para as empresas.

Uma das principais razões pelas quais a tecnologia afugenta as mulheres é a chamada “síndrome do impostor”. Diante da proposta de um novo cargo tecnológico, o primeiro pensamento da mulher, mesmo que inconsciente, não costuma ser sobre o match entre o cargo e suas competências, mas sobre aquilo não ser “coisa de menina” – um viés cognitivo que pais, professores, televisão e toda uma rede de apoio reforçam em crianças e adolescentes.

A história de Silvana Livramento Xavier, atual head de transformação digital na multinacional brasileira CI&T, é um exemplo de como essa história pode ser diferente, conforme mudanças no comportamento dos membros da rede de apoio.

Estímulo materno, estímulo paterno

Desde pequena, Xavier se interessa por matemática – e muito –; aqui provavelmente pesa o exemplo da mãe, professora dessa disciplina. Na hora de prestar vestibular, no entanto, escolheu administração de empresas. Então, foi seu pai que a fez mudar de ideia. Ele a desencorajou, apontando não só seu talento, mas razões de mercado – eram os cursos da área de computação que estavam em alta.“Esse papo com meu pai foi muito importante”, relembra ela. Entrou em ciências da computação, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde morava, mas ainda com aquele espírito de sentir como é. “Nunca tinha mexido em computador, não tinha um em casa e eu nem sabia direito o que era essa profissão.”

Não só viu o computador, como gostou dele. E quis mais. Ouviu a sugestão de seus professores e rumou para Campinas (SP), importante polo tecnológico, para fazer mestrado em ciências da computação na Unicamp. Com o título na mão, foi logo contratada pela CI&T, onde atua há 18 anos, durante os quais vem subindo paulatinamente na hierarquia.

Não tem nada estranho, não…

Tanto na graduação quanto no mestrado de Xavier, havia apenas três mulheres nas salas, ante 40 ou mais homens. No mercado corporativo, a maior concentração também é masculina, o que reduz a quantidade e variedade de modelos a seguir. Mas Silvana diz que deu sorte. Como, no início da carreira, sua gerente na CI&T era uma mulher, e ela teve outras líderes mulheres na empresa, Xavier teve quem a inspirasse. “Sempre vi essas líderes como aliadas. Nunca precisei mudar o meu jeito de ser; aliás, nunca quis forçar não ser quem eu sou”, destaca.

No entanto, a executiva não chegava a estranhar o baixo número de mulheres no mercado; isso havia sido normalizado. “Para mim, a pequena presença feminina era algo normal até 2019, quando a gerente de RH abordou o assunto explicitamente. Caiu a ficha, e comecei a estudar, ler e prestar mais atenção”, conta Xavier.

Meia volta volver

Nesse momento, já como gerente sênior, ela foi convidada para assumir o cargo de gerente-executiva. Não aceitou, acreditando que era para não mexer no equilíbrio que havia conquistado entre a vida pessoal e profissional, que estava bom daquele jeito. Um equilíbrio importante para conciliar os papéis de profissional, esposa, filha e mãe de duas meninas, que nasceram em 2011 e 2015, obtido graças à rede de apoio – uma nova rede de apoio, constituída de marido, sogra e funcionária doméstica.

Porém, algo, com a recusa, incomodava-a. Leu o livro Faça acontecer – mulheres, trabalho e a vontade de liderar, de Sheryl Sandberg, e depois de refletir chegou a uma conclusão: “Não é que o cargo não era para mim. O cargo como ele costuma ser não era para mim”, explica. “Percebi que eu podia ser uma liderança executiva diferente, quem sabe sendo até inspiração para outras mulheres.” Então, alguns meses depois, Xavier voltou atrás em sua decisão. “Deixei claro que seria líder do meu jeito, com meu equilíbrio, meus valores. A CI&T aceitou. O bom na CI&T é ser uma organização que quer que as pessoas sejam quem elas realmente são.”

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Liderança diferente e grupo de afinidade

Silvana Xavier é descrita na empresa como uma líder calma, que fala baixo, que prefere o consenso no lugar de impor sua opinião. Ela intencionalmente segue a linha de liderança humanizada, do tipo que procura conhecer realmente as pessoas com quem trabalha, entender seus sentimentos, suas emoções. Em sua opinião, o líder consegue dar o suporte para destravar o potencial de cada pessoa e ajudá-la a se desenvolver.

Com a decisão de o ESG ser colocado como pilar, o tema diversidade e equidade passou a ser estratégico para a companhia. Assim, o grupo de afinidade de mulheres (chamado Women) passou da unidade inicial para algo corporativo, sempre com o objetivo de aumentar o número de mulheres na empresa. Além desse, há também mais três grupos de ação: Black, PcD e LGBTQIA+.

No grupo de discussão das ações de gênero, num momento, percebeu-se que não bastava reunir um grande número de mulheres para definir e traçar as estratégias. “Nada sobre nós sem nós, mas precisávamos de aliados na causa. Não podia ser uma meta só das mulheres”, diz. Então, “Convidamos todos os executivos da CI&T para um dia juntos para cocriar ações em três pilares – atração, promoção e pertencimento –, que nos levassem a atingir as metas. Foi um grande evento, inclusive com talks inspiradores!”

O foco em prol da diversidade na multinacional é global, mas as ações são locais, de acordo com suas respectivas particularidades. Nos Estados Unidos e na Europa são bem similares às ações daqui. Já na região Ásia-Pacífico, as ações diferem – na China, por exemplo, a representatividade feminina é bem mais forte.Ampliar a diversidade numa empresa de tecnologia não é tarefa fácil, reconhece Xavier, mas as ações estão em curso, com as metas colocadas na mesa. Numa empresa que cresce 30% em número de pessoas ao ano – quando Xavier entrou na CI&T há 18 anos eram 120 funcionários e hoje está na casa de 6 mil –, muito já se avançou na questão de gênero: desde 2017, houve aumento de oito pontos percentuais na representatividade geral de mulheres; e cinco pontos percentuais delas na alta liderança. Em 2021, 30% das novas contratações foram de mulheres, enquanto esse número foi de 22% em 2020.

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E o lado pessoal?

Nem mesmo no LinkedIn, Silvana Livramento Xavier deixa a vida pessoal desconectada da profissional. Veja como ela se apresenta na rede social:

“Mãe de duas meninas maravilhosas, esposa, filha e amiga. Apaixonada por água, natação é meu hobbie, e uma fé que me move. Mulher na tecnologia, descobri recentemente a importância dessa representatividade. Há mais de 18 anos trabalhando com tecnologia, vivenciei a evolução do chefe para liderança lean e trilhando a jornada de evolução para a liderança humanizada. Apaixonada por desenvolvimento de pessoas, buscando sempre destravar o potencial individual para o coletivo ser mais forte! Descobrindo como a tecnologia vai ser chave para transformar o mundo!”

Não há dúvidas: a área de tecnologia tem cada vez mais espaço para as mulheres.”

Sandra Regina da Silva
Jornalista com 30 anos de experiência em cobertura de negócios e inovação.

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