Estratégias ESG das empresas vêm crescendo, mas muitas ainda escorregam no fator “S” da sigla
Nos próximos dois anos, questões sociais, como crises de subsistência, estarão entre os dez principais riscos globais, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Empresas até podem desempenhar um papel significativo na mitigação desses problemas, mas o elemento S das estratégias de ESG (Meio Ambiente, Social e Governança) é muitas vezes negligenciado.
Em 2021, uma pesquisa global do BNP Paribas revelou que 51% dos investidores pesquisados acharam que o fator “S” é o mais difícil de analisar e incorporar em estratégias de investimento. De acordo com o relatório, os investidores entendem o “E” e o “G”, mas o “S” tem sido, por várias razões, deixado para trás. Então, como os líderes podem colocar questões sociais na ordem do dia?
De acordo com o professor da Harvard Business School, George Serafeim, “criar um modelo de negócio em que você oferece melhor desempenho financeiro, atenuando seu impacto negativo ou ampliando os positivos requer trabalho árduo, assumir riscos e uma abordagem inovadora”.
Para que os líderes empresariais reavaliem sua estratégia de ESG e não se esqueçam das ações sociais, eles precisam adotar práticas distintas. Isso é possível investindo em uma estratégia de inovação diferente.
Segundo o Instituto Christensen, a inovação é categorizada em três tipos: sustentação, eficiência e criadoras de mercado.
As inovações criadoras de mercado visam os não-consumidores — o segmento da população que se beneficiaria por possuir ou usar um produto, mas não pode devido ao custo, tempo ou expertise necessária para usá-lo. Essas inovações transformam produtos complexos e caros em produtos simples e mais baratos, tornando-os acessíveis a um segmento mais amplo da sociedade.
Por exemplo, a proliferação de telefones celulares em toda a África é um case perfeito de uma inovação que cria mercado tendo um impacto significativo. Sem investir em inovações criadoras de mercado, é difícil para uma economia se desenvolver.
Já as inovações de sustentação visam clientes exigentes, high-end. Elas também são um componente crítico no motor econômico e são necessárias para que empresas e países permaneçam vibrantes e competitivos. Mas como visam ao consumo existente, seu impacto na economia tende a ser marginal. Elas têm um efeito substitutivo na produção e no consumo. Ou seja, quando as empresas fazem produtos mais novos e melhores, elas param de produzir e vender versões mais antigas.
Já as inovações de eficiência permitem que as empresas façam mais com menos recursos. Elas levam as empresas a aproveitar os recursos existentes ou recém-adquiridos o tanto quanto possível. As inovações de eficiência liberam capital, mas são notórias por eliminar empregos porque, como as inovações de sustentação, são direcionadas aos consumidores existentes.
As inovações de eficiência se apresentam em várias formas e dimensões, desde a terceirização das operações das empresas para regiões de menor custo, levando a eliminação de empregos, até a alavancagem de tecnologias que melhoram a eficiência produtiva. O tipo mais visível de inovação de eficiência é a indústria de extração de recursos. Seja ouro, petróleo ou diamantes, o setor é conhecido por buscar o máximo possível por um custo mínimo.
Nesse, a inovação criadora de mercados se diferencia, pois o seu foco torna os produtos e serviços mais acessíveis. Do ponto de vista do desenvolvimento, as inovações criadoras de mercado também podem apoiar soluções de negócios para problemas sociais.
A UsuCampeão, startup brasileira criadora de novos mercados, tem permitido que as famílias brasileiras legalizem suas propriedades por meio da Lei de Regularização Fundiária (Reurb). Aproximadamente 40% a 70% da população das cidades urbanas centrais brasileiras vivem em imóveis sem registro formal. Além disso, 30 dos 60 milhões de imóveis urbanos não são registrados em cartório. E cerca de 120 milhões de pessoas vivem em habitações improvisadas e que muitas vezes são ocupadas ilegalmente, segundo o governo brasileiro.
Utilizando o software de operações imobiliárias (propriedade fundiária), que conecta medidas legais, de engenharia, ambientais e de ação social, a UsuCampeão pode aprovar a regularização fundiária urbana de acordo com regulamentos locais de municípios e cartórios. Apenas nos últimos dois anos, ela conseguiu atender mais de 20 cidades e legalizou mais de 224 mil propriedades.
Ao criar acesso ao registro e legalização de moradias, a UsuCampeão está integrando esse problema social sistêmico em seu modelo de negócio. Imagine o que aconteceria quando a empresa pudesse atender 20 milhões de brasileiros.
As inovações criadoras de mercado têm o potencial de resolver muitas questões sociais. O componente social na agenda do ESG não precisa mais ser negligenciado. Ao alinhar a estratégia de uma empresa para resolver problemas sociais por meio de inovações criadoras de mercado, ela pode ter impacto significativo.”