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Como líderes podem otimizar as paisagens emocionais das equipes

Os funcionários levam consigo uma variedade de humores para o trabalho todo dia. Tentar transformar isso em um humor compartilhado nem sempre é a melhor ideia

Jeffrey Sanchez-Burks, Christina Bradley e Lindred Greer
5 de agosto de 2024
Como líderes podem otimizar as paisagens emocionais das equipes
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As emoções estão à flor da pele. Os eventos disruptivos que caracterizaram 2020 – uma pandemia, desastres climáticos, incerteza econômica e o descontentamento social – estão fazendo com que as emoções que os funcionários carregam para o trabalho sejam mais fortes do que nunca. E isso vai de encontro à ideia generalizada de que um comportamento “profissional” adequado não comporta a expressão da emoção.

Ao mesmo tempo, pesquisas sobre repressão emocional indicam que há consequências de longo prazo quanto a essa tentativa de reprimir as emoções e que, se isso for feito, um dia elas explodirão – o que pode ser muito mais contraproducente. Por isso, os líderes não podem mais evitar assumir um papel ativo na construção de paisagens emocionais – a composição coletiva dos sentimentos dos funcionários. 

Uma vez que essas paisagens emocionais influenciam diretamente a forma como funcionários entendem situações, tarefas e quais ações devem ser tomadas, elas podem ajudar ou atrapalhar os objetivos estratégicos organizacionais. Ao apoiar a expressão emocional das equipes, os líderes ajudam suas organizações a funcionar da melhor forma. 

As ferramentas disponíveis para que os líderes naveguem nessas paisagens emocionais com suas equipes são, em grande parte, estratégias desatualizadas, como a própria ideia e encorajar a repressão das emoções, ou oferecer conversas motivadoras genéricas. 

Líderes precisam responder aos estados emocionais de seus funcionários com mais nuance e, mais importante ainda, de uma forma que seja específica para a situação. Oferecemos quatro orientações – cultivar emoções, alinhá-las, reconhecê-las e diversificá-las – que permitem aos líderes gerenciar os cenários emocionais carregados nos quais trabalham, além de ajudar a estimular a criatividade e a produtividade.

Engavetando o manual de gestão emocional de sempre

Com base em nosso trabalho de desenvolvimento de liderança executiva com empresas globais da Fortune 100, bem como em nossa pesquisa contínua nessa área, percebemos que os líderes tendem a confiar demais em duas orientações do antigo manual de gestão emocional de equipes e organizações: fazer um discurso motivador ou soar o alarme.

Muitos gestores seguem fascinados pela noção de que discursar até que todos na equipe fiquem de bom humor e motivados é uma estratégia eficaz para obter uma alta performance. Consequentemente, muitos gestores implementam essa ação ao iniciar reuniões, e buscam motivar suas equipes para elevar o humor de todos. 

O antigo CEO da Microsoft, Steve Ballmer, demonstrava essa abordagem com o ânimo de um cantor de rock num show de estádio. Embora, é claro, esse seja um exemplo um tanto extremo, temos visto muitos outros líderes utilizarem uma versão levemente suavizada da rotina de Ballmer antes das reuniões, quando tocam uma música edificante, pedem a todos que compartilhem uma boa notícia ou que se se levantem e se movimentem antes de mergulhar no assunto principal.

Outros gestores, porém, confiam na estratégia desanimadora de soar o alarme. Muitos acreditam que gerar ansiedade ao enfatizar o preço que se paga pelos fracassos é uma forma efetiva de garantir a atenção e o esforço de uma equipe. Um executivo sênior recém-promovido da área de segurança de dados compartilhou conosco que ele não encontrou uma forma melhor de motivar sua equipe além de compartilhar suas preocupações sobre as consequências de não bater as metas atuais de desempenho. Ele argumentou que isso acaba com a inércia de seus funcionários e os faz trabalhar mais.

A diferença brutal entre essas duas abordagens esconde uma semelhança importante: ambas tentam criar um alinhamento emocional. Ambas levam as equipes a uma experiência emocional compartilhada, em vez de experiências individualizadas e diversificadas. Quer o gerente confie na positividade ou na negatividade, o resultado é uma redução na gama de sentimentos.

Líderes usam essas orientações porque elas podem funcionar em situações muito específicas. De fato, inúmeras pesquisas corroboram a noção de que aumentar o alinhamento emocional contribui para o desempenho da equipe, especificamente quando uma equipe está executando uma estratégia clara. Quando a equipe partilha de um humor em comum, seus membros conseguem convergir para um único ponto de vista e realizar as ações necessárias para executar determinada estratégia com maior facilidade.

Diversidade, mais uma vez

A história completa por trás das consequências do alinhamento emocional é mais complexa. Como o alinhamento emocional minimiza as diferenças individuais importantes nas reações aos eventos atuais, ele impede que equipes construam uma cultura inclusiva, por mais contraintuitivo que isso possa parecer. Mais importante ainda, como a convergência do humor de uma equipe reduz diretamente a diversidade de perspectivas apresentadas, ela define como as equipes operam: quando há incerteza sobre qual o melhor caminho a seguir, a busca pelo humor comum reprime perspectivas essenciais para o processo criativo, para tomada de decisão e para os esforços de inovação no geral.

Pesquisas de ciência comportamental revelaram que, na verdade, experiências emocionais mais complexas e diversas evocam uma gama mais ampla de maneiras de pensar sobre um problema.

Emoções heterogêneas geram pensamentos diversos em função da maneira como as emoções interagem com o modo como o conhecimento é organizado e recuperado. Por exemplo, o efeito da memória congruente com o humor descreve o fenômeno de como temos mais probabilidade de trazer à mente o conhecimento associado a experiências positivas quando em um humor positivo e a experiências negativas quando em um humor negativo. 

A raiva que sentimos no trânsito traz à mente com mais rapidez toda a dor e sofrimento da vida toda do que a alegria e os momentos felizes que tivemos no dia anterior. Portanto, um grupo que tem um humor semelhante compartilhará uma perspectiva tendenciosa. Um grupo com uma paisagem emocional mais diversa terá menos vieses e mais amplitude nos pontos de vista que trazem para o problema atual.

Considere o contexto para gerenciar emoções

Em vez de homogeneizar a experiência emocional no trabalho, gestores seriam sábios se implementassem uma abordagem mais customizada à gestão de emoções que leva em consideração a natureza das tarefas e a paisagem emocional ideal para essa tarefa.

O que descobrimos sobre paisagens emocionais após observar gestores ao longo dos anos nos leva a recomendar que líderes se façam duas perguntas ao tentar estruturar a paisagem emocional ideal em suas equipes:

Qual a natureza do trabalho principal a ser feito no momento? O objetivo principal da equipe é operar de acordo com uma estratégia clara que já foi roteirizada com antecedência? Ou, em vez disso, é necessário que a equipe inove, faça um brainstorm e desenvolva novas soluções para um problema urgente?

Qual a paisagem emocional da sua equipe atualmente? Foque o que chamamos de “amplitude de sua lente emocional” para ter uma visão holística da sua equipe – mude o foco dos indivíduos para padrões no coletivo. As emoções entre os membros da equipe estão mais ou menos alinhadas ou são diversificadas? Considere se um evento externo (como uma crise internacional ou um anúncio organizacional recente) criou uma situação em que membros de uma equipe compartilhem os mesmos sentimentos. Ou, em vez disso, a variedade de experiências em suas vidas individuais (incluindo eventos tão díspares como o nascimento de uma criança, o progresso em um KPI ou o mesmo anúncio organizacional hipotético) gerou uma variedade de humores? Concentre-se no temperamento emocional de todo o grupo e não apenas em uma ou duas pessoas.

Suas respostas para essas perguntas (execução versus inovação, e alinhadas versus diversificadas) são essenciais para determinar quais das quatro estratégias de gestão de emoções será mais efetiva. Escolher a ação errada pode prejudicar a eficácia da equipe.

Um novo manual de gestão de emoções

Após identificar a natureza da tarefa em questão e o clima emocional atual da sua equipe, você será capaz de identificar uma estratégia que se adapta melhor às suas circunstâncias atuais (leia mais em “Quatro Estratégias Para Seu Manual de Gestão de Emoções”). Abaixo, vamos detalhar por que cada estratégia se encaixa com cada combinação de circunstâncias. 

Cultivar emoções: a tarefa é a realização e a paisagem emocional atual está alinhada. Conforme observado anteriormente, a pesquisa mostra que uma equipe é mais capaz de coordenar tarefas de forma clara quando seus membros compartilham de um humor comum. 

Para se beneficiar desse alinhamento emocional, os líderes precisam ser ativos na hora de encorajar e reconhecer esses sentimentos para diminuir a probabilidade de novas emoções surgirem, o que seria contraproducente. Manter esse modelo emocional coeso pode exigir planejamento. Se a equipe estiver otimista, compartilhe informações que continuarão a animar a todos. Se estiver mais desanimada, reconheça esse humor com empatia.

Recentemente, uma líder compartilhou conosco como ela tem lidado com o aumento de emoções negativas na equipe devido à crise de Covid-19. Ela nos contou que no início de uma reunião muitos membros da equipe compartilharam o medo que tinham sobre como a pandemia afetaria a empresa. Essa líder evitou a tentação de deixar o clima mais leve e, em vez disso, reconheceu que são tempos difíceis mesmo. Ao validar os sentimentos negativos da equipe e evitar a necessidade de amenizar o estado emocional atual, ela evitou atrapalhar o coleguismo que se formou por conta daquela preocupação compartilhada. Sua equipe manteve uma motivação em comum para seguir executando um plano para superar tempos difíceis juntos.

Alinhar as emoções: a tarefa está em execução e o panorama emocional atual é diverso. Quando sua equipe precisa se orientar a um objetivo comum e você sente que ali há uma gama ampla de emoções, a forma mais efetiva de seguir em frente é implementando a estratégia que aumenta o alinhamento emocional. Aqui, as abordagens “fazer um discurso motivador” ou “soar o alarme” descritas anteriormente são efetivas para preparar sua equipe para realizar uma tarefa.

Nessa circunstância, gestores precisam tomar ações imediatas e robustas para ajudar os membros da equipe a entrar em um estado emocional semelhante. No início de 2020, vimos como um líder de uma organização sem fins lucrativos grande utilizou essa estratégia pouco tempo depois de encerrar todas as operações presenciais e mudar para o trabalho remoto. Alguns stakeholders ficaram felizes por não terem de ir até o escritório, outros tiveram dificuldade para trabalhar em casa com suas famílias, e outros ficaram ansiosos com tantas mudanças. 

Esse líder começou a integrar momentos pontuais durantes as reuniões virtuais para enfatizar exemplos específicos de como a organização continuava enfatizando aspectos importantes para os funcionários. Isso funcionou para unir o humor coletivo em uma sensação de esperança e otimismo.

Reconhecer emoções: a tarefa é a inovação e a paisagem emocional atual é diversificada. Quando a meta para sua equipe envolve encontrar soluções novas para um problema urgente e você reconhece que sua equipe está vivenciando diversas emoções, a melhor forma de seguir em frente é deixar essas emoções serem ouvidas e validadas.

Evite abrir reuniões de forma a alinhar o humor do grupo como um todo. Criar espaço para validação emocional permite que as pessoas processem suas experiências, o que é muito mais produtivo do que tentar reprimir sentimentos ou fingir que pessoas são como robôs. A diversidade das emoções no ambiente vai facilitar a diversidade do raciocínio.

Uma líder inteligente usa essa abordagem para começar os hackathons de design nas manhãs de segunda-feira. Ao reconhecer o valor de uma sala que contém uma mistura de irritação com o transporte para o trabalho, alegria das aventuras do fim de semana e tudo o mais que está entre esses extremos, ela começa com uma pesquisa online, pedindo que todos indiquem duas emoções diferentes que estão sentindo. Com esse passo, ela valida a paisagem emocional diversa que está no ambiente e como isso é a mistura perfeita para seguir com a tarefa de inovação atual.

Diversificar emoções: a tarefa é a inovação e a paisagem emocional atual está alinhada. Como indicamos, o nível de raciocínio inovador que você terá de uma equipe também será abaixo do ideal quando houver muita conformidade de emoções. Não importa se você criou esse humor em comum ou se ele é resultado de um evento interno. O que um líder precisa fazer quando uma equipe recebe a tarefa de um projeto criativo é aumentar a complexidade da paisagem emocional.

Há uma forma muito simples de fazer isso: preparar uma sessão de idealização na qual os membros da equipe reflitam sobre momentos específicos e significativos de suas carreiras e vidas pessoais, incluindo quando estavam felizes e quando estavam com raiva. Peça para que escrevam algumas palavras que capturam o sentimento associado a esses momentos. A magia secreta desse processo é que a variedade de emoções atreladas a essa coleção de experiências ajudará a liberar uma gama de pensamentos e perspectivas para usar no desafio da inovação.

Quando fazemos esse exercício em workshops de desenvolvimento de liderança, costumamos pedir para um grupo de participantes revisitar essas memórias emocionalmente diversas. Mais tarde, pedimos que levantem as mãos para podermos verificar se o número e a variedade de soluções são elevados naquele grupo, e descobrimos que quase sempre são. Essa intervenção aparentemente trivial gera um raciocínio mais criativo dos funcionários.

Uma observação sobre emoções diversificadas: quando há uma notícia importante que gera uma reação emocional semelhante, como por exemplo a divulgação de resultados trimestral de sua empresa, esse não será um bom dia para idealização, independentemente de a notícia ser uma surpresa agradável ou uma baita decepção. Será difícil alterar a distração e as emoções em comum da equipe. Considere programar o trabalho de idealização para outra hora, quando a fonte de alinhamento emocional tiver diminuído.

Embora as quatro estratégias para lidar com as emoções dos funcionários tenham seus lugares em diferentes situações, de acordo com nossa experiência, os gestores perdem oportunidades importantes por não usarem as estratégias de reconhecimento e diversificação. Isso é compreensível, visto que eles partem da sabedoria convencional de que alinhar as emoções de uma equipe é sempre útil. Novamente, embora um humor comum acelere as tarefas de execução, é contraproducente para a geração de ideias inovadoras.

A diversidade emocional é crucial para a criatividade. Gestores que entendem isso podem cultivar com consciência as diferentes paisagens emocionais necessárias para o binômio execução versus inovação. E não é que esse trabalho de liderança não tenha sido necessário até o momento. Na verdade, os eventos extremamente emocionantes e dinâmicos de 2020 estão finalmente forçando os líderes a encarar esse trabalho difícil.”

Jeffrey Sanchez-Burks, Christina Bradley e Lindred Greer
Jeffrey Sanchez-Burks é o professor administração de empresas na Ross School of Business da University of Michigan. Christina Bradley é doutoranda no departamento de gestão e organizações da Ross School of Business. Lindred Greer é professora associada de administração e organizações na Ross School of Business.

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