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Abismo acadêmico: formação e invisibilidade de mulheres em STEM

Muitas pesquisadoras de sucessos acabam no rodapé da história da ciência; nas áreas de STEM, o problema é ainda mais grave: além da falta de visibilidade, as mulheres não têm incentivos antes, durante e depois da formação

Larissa Gonçalves, Luana Oliveira, Maria Victória Luz, Rodrigo Seraine e Cristina Castro-Lucas
22 de novembro de 2024
Abismo acadêmico: formação e invisibilidade de mulheres em STEM
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“200 anos: de acordo com o Fórum Econômico Mundial, esse é o tempo que levará para alcançar a igualdade de gênero no mercado de trabalho. Por enquanto, menos de 30% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres, e apenas 30% das estudantes optam por seguir em áreas relacionadas a STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) no ensino superior.

Entretanto, a US Bureau of Labor Statistics, a secretaria federal de estatísticas trabalhistas dos Estados Unidos, projeta que a contratação para cargos relacionados a STEM crescerá 3% a mais que outros cargos entre 2020 e 2030, e estima seu salário médio anual como dobro das demais ocupações. Assim, por que ainda há uma baixa taxa de entrada das mulheres nessas áreas? Resumidamente, podemos nomear três faltas: de incentivo, de representatividade e de contato antes do ensino superior.

A influência das mulheres na ciência é historicamente diminuída, negada ou completamente apagada. Nascida em 1799, Mary Anning tinha apenas 12 anos quando encontrou o esqueleto de um ictiossauro, 23 anos quando se tornou a primeira pessoa a encontrar um fóssil completo de pleiossaurus, e continuou a ser uma prolífica paleontóloga até o final da vida. Apesar disso, e de seu contato próximo com pesquisadores – que muitas vezes compravam seus fósseis –, ela raramente foi creditada nas publicações sobre suas descobertas e nunca foi aceita pela Sociedade Geológica de Londres – que ainda não aceitava mulheres, mesmo 57 anos após sua morte.

Infelizmente, Mary Anning não é a única mulher a ter suas descobertas relegadas aos rodapés da ciência até depois de sua morte. E é com essa longa história que meninas e jovens mulheres se deparam quando consideram as áreas de STEM.

O fenômeno da desigualdade de gênero nessas carreiras é presente tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Ao longo de décadas, estudos expuseram a falsa imparcialidade na percepção do gênero no mercado de trabalho, e apontaram que essa desigualdade ainda está muito inserida na cultura e nas estruturas organizacionais de empresas públicas e privadas.

Desigualdades e falta de incentivos

Além de poucas referências próximas, há a distância do ensino superior: muitas meninas não têm contato com áreas de STEM no ensino médio, seja por falta de infraestrutura das escolas ou pela acessibilidade restrita em algumas regiões.

Na história moderna, a computação foi fortemente associada ao mundo masculino, em hobbies como os jogos eletrônicos, e, assim, as meninas que seguem nessa carreira muitas vezes são desestimuladas, ou inclusive, vítimas de assédio — apesar do pioneirismo de mulheres como a de Ada Lovelace.

Para as que concluem os estudos, no Brasil, grande parte do incentivo às pesquisadoras advém de financiamento público. Assim, foi possível observar ao longo dos anos o aumento de representatividade das docentes no ensino superior e consequentemente na pesquisa, alcançando 46% do total de acordo com o Open Box da Ciência. Contudo, isso não é suficiente, já que o abismo de gênero somado ao racial, étnico e de geográfico ainda existe.

Cerca de 35% das docentes são brancas e apenas 11% são pretas, pardas, amarelas e indígenas. Além disso, 85% não recebem bolsa de pesquisa, e entre as que recebem, as minorias estão sub-representadas. A representatividade feminina é ainda mais reduzida nas regiões Norte e Centro-Oeste.

A desigualdade de gênero dentro da comunidade acadêmica ou mercado de trabalho evidencia a necessidade de mais avanços para a maior inserção de mulheres nesses espaços. O apoio, reconhecimento e representatividade são necessários para a mudança desse contexto. Afinal, se falta visibilidade para exemplos de sucesso feminino, como podemos esperar que as mulheres vislumbrem seus potenciais nessas carreiras?””

Larissa Gonçalves, Luana Oliveira, Maria Victória Luz, Rodrigo Seraine e Cristina Castro-Lucas
Larissa P. Gonçalves, Luana F. Oliveira, Maria Victória P. da Luz e Rodrigo B. Seraine são alunos do bacharelado em Biotecnologia na Universidade de Brasília (UnB). Já Cristina Castro-Lucas é professora e coordenadora de pós-graduação na UnB e CEO do Instituto Glória.

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