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Conhece as comunidades transformacionais por design?

Esse tipo de organização da economia cívica pode ativar a agenda coletiva para o bem, inclusive gerando capacidades dinâmicas e implantando sistemas de governança eficazes. Já há exemplos no Brasil

André Ribeiro Coutinho
18 de junho de 2024
Conhece as comunidades transformacionais por design?
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Primeiro veio o smartphone, depois a computação em nuvem, as plataformas digitais e as redes sociais. Uma soma que nos fez experimentar um fluxo de interações sem precedentes na história da humanidade e que deu origem à “economia digital”.

A reboque, vieram outras tecnologias que passaram a redefinir o próprio sistema. Ainda em seus estágios iniciais, a web 3.0 — que inclui blockchain, inteligência artificial (IA) generativa, internet das coisas (IoT) e realidade mista — pode ajudar a remodelar a maioria das instituições que moldaram nossa sociedade nos últimos 150 anos, como os sistemas monetário e eleitoral, além das infraestruturas físicas e cívicas.

Toda essa evolução trouxe uma sobreposição de choques econômicos, sociais, ambientais, sanitários e humanitários. Um estado crítico global e uma série de ameaças se entrelaçam numa multiplicidade de crises — a chamada “policrise”.

Comunidades feitas para transformar

Para conseguir lidar com essas crises múltiplas e urgentes e enfrentar os desafios que elas impõem, indivíduos mobilizados pelo senso de propósito e por sua capacidade digital ampliada emergem como peças-chave para criar o que chamamos de ‘comunidades transformacionais”.

São que grupos de pessoas movidas pelo desejo de criar e promover mudanças inclusivas, bem como de provocar transformações positivas e sustentáveis na sociedade.

Buscam “turbinar” fluxos de engajamento e ativar ecossistemas para desafiar os modelos existentes e liderar impactos sociais, econômicos, culturais, regulatórios ou ambientais por meio da colaboração.

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Conectando os nós

No centro das comunidades transformacionais estão os “fluxos interacionais de engajamento”, como sugerido por Venkat Ramaswamy, professor da Ross School of Business, ligada à University of Michigan, nos EUA. Em vez de se concentrar apenas nas atividades das “cadeias de valor” das instituições que operam ou nos “consumos de bens e serviços”, os membros da comunidade abraçam “a jornada de engajamentos de todos os indivíduos interessados como experimentadores e a realidade estendida de experiências que emergem das suas interações, desde a realidade pura à realidade mista e à virtualidade pura”.

O valor é então estendido de uma perspectiva pessoal para um maior bem-estar social, cultural, ecológico e econômico. As comunidades de aprendizagem rompem com as configurações convencionais professor-aluno, a educação andragógica assimétrica (alunos como tábulas rasas) e a universidade corporativa (que replica o modelo de universidade ultrapassado).

Há evidências crescentes que mostram como abordagens abertas, solidárias e baseadas em relacionamentos profundamente integrados com as comunidades fazem mudanças duradouras. Um exemplo é a EO (Entrepreneur’s Organization), uma comunidade feita para e por 19 mil empreendedores em 83 países, construída para ajudar líderes a irem mais longe. O fórum EO é um sistema de apoio para o sucesso. Cada indivíduo apresenta seus desafios de vida mais relevantes (os 5%) e outros membros compartilham suas próprias experiências de vida sobre como abordaram um problema semelhante.

Outro exemplo é a comunidade de aprendizagem “Decodificando o digital”, que foi projetada pela GoFW para alfabetização digital dos funcionários da CBA no Brasil. Neste caso, a cocriação de valor, a web 3.0 e as missões (inovação orientada para a missão) são a pedra angular da nossa abordagem às comunidades transformacionais.

Nela, os colaboradores aprendem genuinamente uns com os outros, experimentam tecnologias emergentes, compartilham experiências vividas, geram impacto nos negócios e prosperam sem medo de sua transformação pessoal.

A comunidade permitiu ter uma melhor noção da lacuna de competências digitais na empresa que atualmente está lançando uma segunda comunidade para aprofundar os estudos em inteligência artificial, automação de dados e suas aplicações comerciais. A comunidade, inclusive, foi premiada como exemplo de agilidade e com resultados consistentes para a CBA que figurou no Top 6 como empresa mais ágil do Brasil pela Agile Trends.

Cocriação impactante

Captura de tela 2024-05-06 000834As comunidades transformadoras podem realmente acender o poder da cocriação por meio de plataformas de engajamento onde os indivíduos são incentivados e estimulados a moldar o futuro de forma colaborativa. Embora a cocriação tenha sido associada à web 2.0 e às redes sociais, a cocriação impactante só pode acontecer quando um grupo de indivíduos intencionalmente impulsiona uma mudança positiva do status quo.

Num oceano digital de desinformação, as comunidades se tornaram ilhas de confiança e florescimento, onde os indivíduos podem encapsular suas vidas em espaços seguros para experiências, mas especialmente encontrando ambientes com propósito para colaborar e prosperar em vários domínios, como saúde, educação, justiça social ou empreendedorismo de impacto.

Comunidades transformacionais por design podem ativar a agenda coletiva para o bem, amplificar experiências culturalmente enraizadas, gerar capacidades dinâmicas e implantar sistemas de governança eficazes. Alguns pensadores e estudiosos têm usado a palavra economia cívica ou economia social para descrever esse movimento.

Uma das maiores promessas das comunidades transformadoras é o (re)design institucional. Os grupos impulsionam a missão em um ambiente multidisciplinar e propício para codificar princípios, políticas e regulamentos de processos de tomada de decisão.

André Ribeiro Coutinho
André Ribeiro Coutinho é cofundador da GoFw* e sócio da Symnetics, presidente da Impact/GSEA do capítulo EO London, empreendedor de impacto, agente de inovação de sistemas, escritor, educador e mentor.** A GoFw é um laboratório de impacto que gera desenvolvimento experimental com sistemas sociais e tecnologias emergentes para um legado positivo. É reconhecida como uma Empresa de Interesse Comunitário no Reino Unido, onde opera ativamente com engajamento comunitário, orquestração de ecossistemas e formação de novas realidades. Sua atuação estende-se também a países como Brasil, Chile e Colômbia. Em 2024, a comunidade aberta GoFw #ReCodeCultures facilitará o co-hort global V20 (parte do G20) e está comprometida em recodificar a ética tecno/IA.*

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