Um experimento feito na Dinamarca, com base na economia comportamental, sugere respostas “incômodas” para essa pergunta – incômodas para quem ocupa cargo de chefia
Liderança deve ser a palavra mais gasta dos últimos 20 anos. Não tenho evidência estatística, mas procurei no amazon.com.br por títulos de livros contendo a palavra “Liderança” e este me devolveu 1.200 ocorrências (75 páginas com 16 títulos cada).
Muita gente nas empresas se pergunta exatamente o que os líderes fazem. Muitos líderes, depois de passar o dia inteiro em reuniões, devem ir para casa pensando a mesma coisa…
Jon Katzenbach nos alertou há anos que algumas equipes sem líder funcionam muito bem, e, julgando pelo engajamento e satisfação das pessoas, parece ser uma solução bem eficaz em certas situações. Altamente recomendado quando o tema é técnico: eu mesmo já vi equipes de geólogos, geofísicos e engenheiros de reservatório trabalhando juntos sem chefe fazer coisas de substancial valor econômico – encontrar petróleo!
Pode ser bem difícil medir a contribuição direta dos chefes ao desempenho dos seus subordinados. Então dois professores da Universidade do Sul da Dinamarca fizeram um estudo detalhado de um subconjunto do tema: o impacto dos chefes na colaboração entre funcionários. Eles usaram uma ferramenta tradicional da economia comportamental, o “Jogo dos Bens Públicos”. Primeiro rodaram o exercício sem distinguir os participantes hierarquicamente. Depois eles separaram os jogadores em “Gestores” e “Colaboradores”. Algumas equipes não tinham Gestor, só Colaboradores. Em certas etapas do jogo, os Gestores tinham a opção de reinvestir seus resultados parciais. Alguns Gestores recebiam no final uma proporção fixa dos resultados, enquanto outros Gestores podiam decidir como dividir os resultados entre eles e seus subordinados. Resultados:
Embora longe de ser a regra geral, alguns de vocês certamente já viveram situações como as descritas acima…
Há um aspecto positivo e interessante: a mera presença do chefe, atuante ou não, mostra pequeno ganho de produtividade entre os subordinados, presumivelmente porque as pessoas se sentem observadas.
Outros autores questionam o uso de dar opções de ações para gestores, o que os incentiva a aplicar suas poupanças pessoais em ações, o que aumenta o preço da ação a curto prazo mas, por discriminar o investidor cujo dinheiro se converterá em investimento da empresa, prejudica o preço da ação a médio/longo prazo. Não cabe aqui aprofundar a veracidade deste raciocínio. Recomendo a quem quiser saber mais que Google “Andrew Smithers”.
A lista de títulos de livros sobre organizações sem hierarquia é também bastante longa. Vale mencionar um deles (que não contém a palavra “Flat” no título): o belga Frédéric Laloux saiu da McKinsey em 2007 disposto a desenvolver um modelo para organizações sem hierarquia. O livro dele saiu em 2014, e é leitura obrigatória em alguns cursos da Sloan. A edição brasileira (citada nas referências do final deste texto) saiu em 2017. Contém cinco histórias de empresas (uma delas do setor público) que migraram para uma estrutura sem hierarquia com grande sucesso (e menciona que os primeiros 6-12 meses podem ser bem turbulentos!).
Fascina-me em particular o caso da empresa francesa de autopeças que só tem uma pessoa hierarquicamente superior – o presidente – e que regularmente ganha prêmios de qualidade e pontualidade. Vale a pena ver os YouTubes do Frédéric (inglês, francês, e – para quem souber – flamengo!).
REFERÊNCIAS:
Billinger, Stephan e Rosenbaum, Stephen: _Discretionary mechanisms and co-operation in hierarchies: An experimental study,_ Journal of Economic Psychology 74
Katzenbach, John e Kahn, Zia: _Liderança fora do Quadrado_ 1a ed Elsevier 2011
Laloux, Frédéric, _Reinventando as Organizações_ Editora Voo Curitiba 2017