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E se o chefe é incapaz de contar uma boa história?

Se for uma dessas equipes com liderança flutuante, qualquer um pode ser capaz de direcionar respostas por meio de storytelling

Augusto Dias Carneiro
30 de julho de 2024
E se o chefe é incapaz de contar uma boa história?
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Equipes eficazes sabem definir exatamente o problema que precisam solucionar, propõem alternativas e exploram as melhores maneiras de executá-las. Mas isso depende de haver alguém na sala com o dom de enquadrar o tema corretamente. Idealmente alguém na sala capaz de não só sintetizar qual é a pergunta, mas também direcionar a plateia para possíveis respostas.

Nas equipes com liderança flutuante, qualquer membro da equipe pode desempenhar esse papel. Uma habilidade pouco mencionada de nós brasileiros é saber lidar com equipes (com ou sem líder) em que a liderança migra momentaneamente para outros membros da equipe. No coloquial, chamamos isso de dar voz e vez a quem tem o “dom da sacação”, coisa que com justiça muito prezamos cá em terras tupiniquins.

Existem muitas situações em que todo mundo olha para a pessoa presente na reunião com o maior salário. Essa é a síndrome HIPPO (Highest-Paid Person’s Opinion, em inglês).

Não necessariamente o líder da equipe é uma executiva de maior senioridade que chega na reunião, seja:

– De propósito: todos nós já ouvimos “estou preocupada que esta equipe não parece ser capaz de dar uma solução”.

Ou seja supostamente:

– Sem querer: também já ouvimos, e fingimos acreditar, em “estava zanzando pelo corredor e vi vocês aqui reunidos”.

Agora que já vimos quem pode ter a palavra neste momento crucial, voltemos à pergunta do início deste artigo.

Primeiro, esta pessoa precisa saber processar rapidamente os dados disponíveis, ao mesmo tempo enxergando os resultados que a empresa pretende. Isto requer altas doses de intuição e de síntese, e um conhecimento profundo da cultura da empresa, inclusive de suas limitações.

Segundo, deve apresentar o tema em contexto que inclua dados, cultura, processos e resultados de forma que motive os presentes a buscar soluções. Nossa intuição, e a literatura (abaixo) parecem preferir soluções de storytelling. Que se prestam muito bem, em particular em contextos onde a cultura da empresa pode representar um freio-de-mão para certas soluções.

Faz sentido: nada como uma história, de preferência algo que ocorreu na empresa no passado, sobre uma solução que fracassou. E como ela pode não fracassar desta vez.

Com a palavra, a pessoa que no momento parece ser a mais credenciada para fazer o acima, seja a líder da equipe, seja a pessoa que toma a palavra conforme a liderança flutuante, seja a própria HIPPO.

Mas eu já presenciei, e não excluo, outras soluções. E este é um heads-up para pessoas que se enrolam na hora de contar uma história: ainda há esperança para vocês!

Estou pensando em soluções do tipo Danny Kahneman: desmontar o tema em pedaços, examinando que preconceitos inconscientes podem nos assombrar em cada pedaço, incorporar os dados disponíveis, e listar que pré-requisitos cada possível solução precisa obedecer. Sempre verificando se estamos fazendo a pergunta certa. Claro que não exclui storytelling, mas caminha bem sem. Preciso pesquisar mais e prometo uma coluna futura a respeito.

Para quem quer aprender mais sobre o tema, com soluções via storytelling, recomendo o artigo recentíssimo da nave-mãe, que será traduzido e publicado em breve por aqui.

Também Deb Roy, professor do MIT Media Lab, nos ensina como converter dados em histórias poderosas.

E não deixem de acessar a diferença entre missão e objetivo, a partir de um bate-boca histórico ocorrido em 1962 entre John Kennedy e James Webb, na época o chefe da NASA (hoje em dia, o telescópio com o nome dele é bem mais conhecido). Tanto quanto sabemos, não houve muito storytelling, mas tiveram todos os outros ingredientes que mencionei acima…”

Augusto Dias Carneiro
Coach, headhunter, mediador e board member, Augusto Dias Carneiro é sócio da Zaitech Consultoria. É autor do livro Guia de Sobrevivência na Selva Empresarial. O lançamento de sua próxima obra, O Livro das Ideias: Inovação e Empreendedorismo, está previsto para dezembro de 2024.

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