Se for uma dessas equipes com liderança flutuante, qualquer um pode ser capaz de direcionar respostas por meio de storytelling
Equipes eficazes sabem definir exatamente o problema que precisam solucionar, propõem alternativas e exploram as melhores maneiras de executá-las. Mas isso depende de haver alguém na sala com o dom de enquadrar o tema corretamente. Idealmente alguém na sala capaz de não só sintetizar qual é a pergunta, mas também direcionar a plateia para possíveis respostas.
Nas equipes com liderança flutuante, qualquer membro da equipe pode desempenhar esse papel. Uma habilidade pouco mencionada de nós brasileiros é saber lidar com equipes (com ou sem líder) em que a liderança migra momentaneamente para outros membros da equipe. No coloquial, chamamos isso de dar voz e vez a quem tem o “dom da sacação”, coisa que com justiça muito prezamos cá em terras tupiniquins.
Existem muitas situações em que todo mundo olha para a pessoa presente na reunião com o maior salário. Essa é a síndrome HIPPO (Highest-Paid Person’s Opinion, em inglês).
Não necessariamente o líder da equipe é uma executiva de maior senioridade que chega na reunião, seja:
– De propósito: todos nós já ouvimos “estou preocupada que esta equipe não parece ser capaz de dar uma solução”.
Ou seja supostamente:
– Sem querer: também já ouvimos, e fingimos acreditar, em “estava zanzando pelo corredor e vi vocês aqui reunidos”.
Agora que já vimos quem pode ter a palavra neste momento crucial, voltemos à pergunta do início deste artigo.
Primeiro, esta pessoa precisa saber processar rapidamente os dados disponíveis, ao mesmo tempo enxergando os resultados que a empresa pretende. Isto requer altas doses de intuição e de síntese, e um conhecimento profundo da cultura da empresa, inclusive de suas limitações.
Segundo, deve apresentar o tema em contexto que inclua dados, cultura, processos e resultados de forma que motive os presentes a buscar soluções. Nossa intuição, e a literatura (abaixo) parecem preferir soluções de storytelling. Que se prestam muito bem, em particular em contextos onde a cultura da empresa pode representar um freio-de-mão para certas soluções.
Faz sentido: nada como uma história, de preferência algo que ocorreu na empresa no passado, sobre uma solução que fracassou. E como ela pode não fracassar desta vez.
Com a palavra, a pessoa que no momento parece ser a mais credenciada para fazer o acima, seja a líder da equipe, seja a pessoa que toma a palavra conforme a liderança flutuante, seja a própria HIPPO.
Mas eu já presenciei, e não excluo, outras soluções. E este é um heads-up para pessoas que se enrolam na hora de contar uma história: ainda há esperança para vocês!
Estou pensando em soluções do tipo Danny Kahneman: desmontar o tema em pedaços, examinando que preconceitos inconscientes podem nos assombrar em cada pedaço, incorporar os dados disponíveis, e listar que pré-requisitos cada possível solução precisa obedecer. Sempre verificando se estamos fazendo a pergunta certa. Claro que não exclui storytelling, mas caminha bem sem. Preciso pesquisar mais e prometo uma coluna futura a respeito.
Para quem quer aprender mais sobre o tema, com soluções via storytelling, recomendo o artigo recentíssimo da nave-mãe, que será traduzido e publicado em breve por aqui.
Também Deb Roy, professor do MIT Media Lab, nos ensina como converter dados em histórias poderosas.
E não deixem de acessar a diferença entre missão e objetivo, a partir de um bate-boca histórico ocorrido em 1962 entre John Kennedy e James Webb, na época o chefe da NASA (hoje em dia, o telescópio com o nome dele é bem mais conhecido). Tanto quanto sabemos, não houve muito storytelling, mas tiveram todos os outros ingredientes que mencionei acima…”