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#Fail, a história do roadmappe

Fuja do viés dos cases de sucesso de empreendimentos inovadores, estudando cases de insucesso. Começamos uma série – com um software de acompanhamento de roadmaps

Ana Julia Ghirello
29 de julho de 2024
#Fail, a história do roadmappe
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No meu último artigo abordei a necessidade de expormos mais os erros do que os acertos. Olharmos mais a fundo cases e histórias de negócios que falharam ao invés de focarmos somente nos cases de sucesso, difíceis de reproduzir, pois são, geralmente, fora da curva e contam com uma boa dose de sorte e fatores contextuais inexplicáveis pela lógica.

Poucos estão dispostos a abrirem este lado de suas carreiras e seus negócios, afinal, falar sobre o que não foi pra frente não é visto com bons olhos. 

Neste ponto, recomendo a leitura do artigo Survivorship Bias (Viés de sobrevivência) neste link (original, em inglês). Nele, David McRaney escreve com inúmeros exemplos detalhados sobre o erro de lógica quando nos concentramos apenas nas pessoas, cases e exemplos que passaram pelo processo duro de seleção e sobrevivência, sem levar em conta todo o aprendizado dos que não sobreviveram.

Contrariamos os fatos – de que se aprende mais com cases de insucesso! — pois os projetos que falharam geralmente tem zero visibilidade, seja na mídia, palestras, livros, etc. O viés de olhar somente para o que funcionou / teve sucesso pode levar a falsas conclusões e aprendizados.

Dando continuidade ao tema, a minha ideia é abrir com maiores detalhes todos os negócios ou projetos que fundei e que não foram pra frente. Compartilhar a minha parcela de insucessos e aprendizados. 

Hoje falo do roadmappe.com, um software que criei há oito anos para acompanhamento de roadmap (uma gestão de projetos focada em entregas trimestrais de produtos digitais).

Back to 2012

Eu estava no bomnegócio.com (marketplace de classificados que depois se fundiu à OLX em 2016) e a nossa equipe de produto crescia a um ritmo bastante acelerado. Eu sentia dificuldade em ter uma visão dos principais itens a serem entregues em cada trimestre. Na época, Jira, Trello e afins não eram tão populares ou ainda não tinham a abrangência de funcionalidades que têm hoje (atualmente, se cria roadmap com facilidade no Jira, Asana, Monday.com).

Refletindo agora, talvez até existissem ferramentas relevantes, mas eu, com a facilidade que tinha de design e desenvolvimento de produto, achei que era mais fácil fazer minha própria plataforma. Em uma semana projetei um MVP (produto mínimo viável – uma versão mais simples e relevante para o mercado) e a enviei para desenvolvedores da minha rede trazerem os designs à vida. R$ 7.500 de investimento.

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Três semanas depois tinha um produto na mão. MVP! Agile! Vai pra rua, AJ! 😉

Resultado e aprendizados:

  • No pain, no gain! Eu adorava usá-lo mas ele não era útil para mais ninguém. Enviei para alguns gerentes de produto mas o roadmappe era mais uma reflexão específica de como eu gostava de ver as coisas do que uma dor em comum de POs (os product owners, ou donos de produtos) ou PMs (gerentes de produto). Eu não resolvi uma dor deste nicho e, consequentemente, a minha solução não era relevante.
    • Mercado: Nunca pesquisei mercado, potenciais clientes e por isso o produto saiu algo somente para o nicho Ana Julia 😉 Não só não compreendi a dor do grupo target como não quantifiquei o potencial do negócio para este mercado (POs e PMs em empresas digitais)
      • Modelo de negócio: Inexistente! Não tinha modelo de negócio, achei que eu ia descobrir falando com usuários, mas como ninguém usava o meu produto… 😉
        • Paixão: Eu fiz algo no ímpeto e não pensei na dedicação que deveria ter pós-lançamento, em realmente desenvolver o negócio, ter feedback contínuo e encontrar um meio de torná-lo sustentável via mensalidade. A paixão não sustenta nada sozinha. Não o faz em relacionamentos… quiçá em negócios!
          • Planejamento: Quase zero! Nunca esbocei plano de negócio efetivamente. Eu apostava em talvez ser um case fora da curva (!!!) e que poderia ganhar tração rapidamente e esforço mínimo dentro da rede de gerentes de produto do grupo.

          Eu ainda iria explorar e falhar bastante nas “”águas”” dos softwares para gestão de empresas e projetos. Falhas novas, pelo menos! Mas isso é assunto para um próximo case de insucesso… ;)”

Ana Julia Ghirello
Ana Julia Ghirello é CPO (executiva-chefe de produto) do Telecine e fundadora da abeLLha, aceleradora de startups e consultoria de metodologias ágeis em empresas estabelecidas.

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