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Na relação ganha-ganha, os mais experientes entram com a mentoria, e os mais jovens, com a digitalização
Imagine a seguinte cena, muito popular em filmes e no mundo da ficção: um casal de idosos aposentados, sentados em suas cadeiras de balanço, ora lendo jornal, ora tricotando.
A narrativa de uma rotina ociosa funciona muito bem para fins dramáticos, mas, na vida real, a geração prateada está cada vez mais disposta e confiante para permanecer ativa no mercado de trabalho.
Com o crescimento da população 60+ e, consequentemente, sua participação no meio corporativo, esse movimento cria um jogo de ganha-ganha. Os jovens profissionais se beneficiam da rica mentoria dos mais experientes, enquanto os maduros aprimoram suas habilidades ao interagir com a geração nativa digital. Mas nem toda empresa está ciente – e preparada – para esse cenário.
O ambiente híbrido, do ponto de vista etário, permite esse intercâmbio geracional, em que a sabedoria acumulada de um se soma à criatividade e ao dinamismo do outro. Essa matemática é positiva para as empresas.
No setor da construção civil, por exemplo, um mestre de obra sênior tem papel crucial na eficiência e estabilidade de processos complexos, bem como na formação de engenheiros mais jovens. Enquanto o segundo lança mão do conhecimento técnico, o primeiro traduz a teoria para a realidade daquela operação. A união dessas duas forças ajuda a reduzir erros.
Mas a demanda não está apenas no canteiro de obra. Eu mesma, no alto de meus 50+, já fui a mais novata de uma equipe e hoje caminho para a ser a veterana. A idade não deveria ser critério classificatório de contratação.
Na MRV, cerca de 16% dos colaboradores estão acima dos 50 anos. Muitos deles entraram como estagiários e hoje somam mais de 20 ou 30 anos de casa. São décadas de imersão, detectando e solucionando problemas, desenvolvendo ideias e contribuindo com a evolução do setor. Os outros 84% que completam o quadro de funcionários – muitos deles recém-formados – têm o privilégio de beber direto dessa fonte, por meio de programas de mentorias.
Assim como em um jogo, a carreira profissional também atravessa fases. São etapas que, na linguagem corporativa, podemos chamar de “promoções”. Um profissional prestes a se tornar líder de uma equipe, por exemplo, pode turbinar suas habilidades com conselhos de quem está ou já esteve naquela posição. É uma estratégia que, na MRV, ao menos, demonstra muita eficácia e gera bastante satisfação, tanto dos mentores quanto dos mentorados. Em última instância, cria-se um ambiente geracionalmente harmonioso.
É bom que seja assim; afinal, estudos mostram o amadurecimento na força de trabalho. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula que 57% dela no Brasil serão compostos por indivíduos com mais de 45 anos até 2040.
Mundo afora, o vento sopra na mesma direção. Dados da Encuesta de Población Activa (EPA) indicam que, em 2024, metade dos espanhóis em atividade tinha mais de 45 anos, refletindo um envelhecimento gradual da população ativa na última década. Esse aumento é notável na faixa etária entre 55 e 59 anos, que atingiu a cifra recorde de 2,5 milhões de pessoas ocupadas.
Os números refletem a importância dessa categoria para as empresas, ao mesmo tempo que revelam uma disposição juvenil de trabalhar por parte desses profissionais. Isso vale, inclusive, para os idosos, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil e em países em desenvolvimento, são pessoas acima dos 60 anos. Em 2022, a MRV realizou o Programa 60+, no âmbito do Dia Internacional da Pessoa Idosa, para triplicar o número de corretores autônomos nessa faixa etária. A adesão foi um sucesso!
De lá para cá, diversos outros projetos de atualização foram incluídos no calendário da MRV, para absorver e capacitar todos os colaboradores perante os desafios atuais. É uma questão de sobrevivência corporativa: a geração prateada movimenta cifras milionárias na economia e, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), representará 31% da população até o final deste ano.
Embora o mercado esteja tomando formas maduras, o nível de produção não precisa apontar para a direção oposta. Os profissionais seniores têm, além da técnica, a vantagem comportamental. Eles tendem a ser menos vaidosos e mais agregadores, o que reforça a cultura colaborativa entre os funcionários. E um bom trabalho em equipe, heterogênea e engajada, é o que leva uma empresa a avançar com força para seus anos prateados.