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O papel estratégico do RH durante uma crise cibernética

Como protagonista da cultura corporativa, é papel do setor de RH canalizar o poder do coletivo para superar ataques que abalam o moral e a reputação

Juliana Dorigo
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As crises cibernéticas representam um desafio complexo que pode abalar os alicerces de qualquer organização. Elas transcendem a esfera tecnológica, exigindo uma resposta que vá além da mera contenção de danos.

O Brasil sofreu 60 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos em 2023, de acordo com dados da plataforma de segurança FortiGuard Labs – uma queda de 41,7% em comparação com 2022, quando houve 103 bilhões de tentativas. 

No total, a região da América Latina e do Caribe sofreu 200 bilhões de tentativas de ataques em 2023, o que representa 14,5% do total reportado globalmente no ano passado. Os países da região com maior atividade de ataques cibernéticos em 2023 foram México, Brasil e Colômbia.

Leia também: “Os CEOs devem colocar a segurança cibernética em sua agenda”, de Manuel Hepfer, Rashmy Chatterjee e Michael Smets

Nesse contexto, o setor de RH se destaca como uma área de importância, não apenas para mitigar os impactos imediatos, mas também para fortalecer a resiliência organizacional em longo prazo. 

Ao se depararem com crises cibernéticas, as empresas enfrentam a necessidade de dar uma resposta coordenada, que envolve todas as suas áreas estratégicas – e o RH emerge como uma peça central nessa complexa engrenagem.

Reputação e cultura: a interseção

Em um ambiente de negócios em que a reputação é tão valiosa quanto qualquer ativo tangível, o RH se posiciona como guardião da imagem corporativa durante as crises. A comunicação cuidadosa, que equilibra transparência e segurança, torna-se vital. 

Não se trata apenas de gerenciar a percepção externa, mas de assegurar que, internamente, os colaboradores compreendam a gravidade da situação e se sintam parte da solução.

Além disso, o RH deve agir como um elo entre a organização e os grupos externos, garantindo uma comunicação clara e transparente sobre as medidas adotadas para mitigar o impacto do ataque. 

Isso inclui fornecer informações precisas e atualizadas, endereçando as preocupações da comunidade e dos sindicatos, ao mesmo tempo em que colabora com a imprensa para garantir que as informações divulgadas sejam consistentes e não causem pânico.

Ouça também o podcast “Toda organização é uma narrativa: como construir a sua”, com Helena Prado

A cultura organizacional, muitas vezes vista como um conceito abstrato, assume um papel central no enfrentamento de crises. Empresas com culturas fortes e enraizadas são naturalmente mais resilientes, capazes de mobilizar esforços coletivos que superam os desafios impostos. O RH, como protagonista da cultura, precisa agir com presteza para canalizar o poder do coletivo em direção à superação.

Vale destacar que nenhuma organização é uma ilha. Durante uma crise cibernética, o benchmarking – o ato de aprender com as experiências de outras empresas – vira uma prática essencial. 

Esse processo não apenas fornece insights sobre melhores práticas, mas também facilita a antecipação de problemas que poderiam não ter sido previstos internamente. A troca de experiências com outras organizações que já passaram por crises similares cria uma rede de conhecimento coletivo que pode ser o diferencial entre uma resposta bem-sucedida e uma falha catastrófica.

O elemento humano na resolução de crises

Em tempos de crise, o foco tende a se voltar para a tecnologia e as medidas de contenção, mas é o elemento humano que, frequentemente, define o sucesso ou o fracasso na recuperação. 

O RH deve promover um ambiente onde os colaboradores tenham o suporte necessário, tanto psicológico como operacional, para enfrentar a tempestade. Isso significa não apenas fornecer recursos para que as equipes possam desempenhar suas funções, mas também assegurar que esses colaboradores sintam que fazem parte de uma estratégia coesa e bem estruturada.

Em tempos de crise, o foco tende a se voltar para a tecnologia e as medidas de contenção, mas é o elemento humano que, frequentemente, define o sucesso ou o fracasso na recuperação.

O bem-estar emocional dos colaboradores não pode ser negligenciado. Programas de saúde mental, assistência social e campanhas de mobilização interna são mais do que ações de suporte – são demonstrações tangíveis de que a empresa valoriza e protege seu capital humano.

Esses esforços não apenas mitigam os impactos imediatos; também reforçam a confiança e o comprometimento dos colaboradores com a organização em longo prazo. Organizações que implementam programas robustos de apoio emocional durante crises cibernéticas têm colhido benefícios significativos.

Comunicação transparente e resiliente

A comunicação durante uma crise cibernética deve ser tratada com destaque. Ela precisa ser realista, contínua e acolhedora, com o intuito de reduzir o clima de incerteza e medo que pode paralisar uma organização. 

O RH deve liderar essa comunicação, utilizando uma abordagem que promova a segurança psicológica e reforce os valores culturais que sustentam a empresa.

Outro ponto é a necessidade de capacitar as lideranças para conduzir conversas difíceis em momentos de crise, o que é uma responsabilidade fundamental do RH. Em situações delicadas, como um ataque cibernético ou uma mudança organizacional significativa, os líderes devem estar preparados para lidar com as preocupações e as emoções dos colaboradores de maneira empática e assertiva

A verdadeira lição que emerge das crises cibernéticas é a importância da cultura organizacional como um fator de combate à adversidade.

Além disso, a importância de celebrar pequenas vitórias não pode ser subestimada. Essas celebrações mantêm o moral elevado e oferecem um alívio necessário em meio a um cenário de pressão constante. O reconhecimento do progresso, por menor que seja, fortalece o espírito de equipe e reafirma a capacidade da organização de superar adversidades.

O caminho para a resiliência organizacional

A verdadeira lição que emerge das crises cibernéticas é a importância da cultura organizacional como um fator de combate à adversidade. A adaptabilidade, a flexibilidade e a resiliência não são apenas características desejáveis; elas são essenciais para a sobrevivência em um mundo em que as ameaças cibernéticas são uma constante.

A ação pós-evento, reunindo as pessoas para fortalecer a cultura organizacional, com base nas lições aprendidas, também é uma forma de agradecer a união de todos durante a crise e comunicar planos de ações posteriores ao evento.

Por fim, o papel do RH em crises cibernéticas vai muito além do gerenciamento de recursos humanos, pois envolve a preservação do ativo mais valioso de qualquer organização: suas pessoas. 

Ao fomentar uma cultura de resiliência, emerge uma empresa com pessoas mais fortes e unidas. Esse é o legado que as crises cibernéticas deixam para o mercado: a importância de investir no elemento humano como a verdadeira chave para a resiliência organizacional.

Juliana Dorigo
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Juliana Dorigo é CHRO da Paschoalotto.

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