Pequenas ações no dia a dia ajudam a empresa entender que ela não acaba quando termina o trimestre e que está no negócio de educação, não importa qual seja o seu setor
O que deveria acontecer para que, em 2030, não tenhamos que rever os ODS e criar um novo projeto de reajuste socioambiental? Bem, em 2000, a ONU propôs oito objetivos de desenvolvimento do milênio e, em 2015, criou os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) para dar continuidade a correção de rumo da humanidade.
Já se passaram 22 anos desde a virada do século e muita gente já sabe que a opção “business as usual” (ou “negócios como sempre” não é mais viável para o planeta, nem para a humanidade, como destaca Rebecca Henderson em seu livro “Reimaginando o Capitalismo”.
Os últimos quase dois anos de isolamento, por causa da covid-19, reforçaram isso: tivemos a oportunidade de nos deparar com a realidade que nos rodeia, parar, ver, assistir, mudar, não mudar, mas, mais importante que tudo, para aprender sobre a vida.
Será que todos aprendemos algo? Estamos querendo voltar ao normal, mas não foi o normal que nos trouxe a essa situação? Será que vamos cair em um círculo vicioso de pandemia após pandemia? Algo cada vez mais frequente, até vivermos em uma pandemia permanente?
Inclusive, será que tivemos a oportunidade de aprender algo sobre nós mesmos? De pbservar nossas ações e refletir sobre elas? Será que alguma coisa mudou de verdade? Esses questionamentos podem nos ajudar a refletir e quem sabe melhorar nossa consciência em relação a forma que estávamos vivendo nesse planeta. Será que um pouco de reflexão nos permite acessar um novo nível de consciência?
Arrisco dizer que, se não mudamos nossa consciência, cairemos no mesmo círculo vicioso do normal que nos trouxe até aqui.
Tem havido mudanças, sim. Lentamente vemos algumas mudanças em líderes empresariais. Em 1984, Ray Anderson, CEO da empresa Interface, percebeu que a forma que estava atuando era a mesma de um saqueador. Roubando a oportunidade das gerações futuras terem as mesmas oportunidades de sobreviver no planeta terra que ele teve. Tomou a decisão de tornar a sua empresa, que produz carpetes, em carbono neutra em 2020. Alcançaram esse objetivo em 2019. Um ano antes. E hoje trabalham com a intenção de ser uma empresa regeneradora do meio ambiente.
O CEO, Ramón Mendiola, da Fifco, uma empresa multinacional de cervejas e refrigerantes da Costa Rica, que tem uma importante contribuição em meu livro “Capitalismo Consciente Guia Prático” Uma carta de seu CEO compartilha cinco passos para implementar um modelo de sucesso para melhorar a sua pegada de social e ambiental.
Essas duas empresas olharam para dentro e para fora, pausaram e começaram a escutar suas equipes e os demais stakeholders.
Muitas organizações definem suas estratégias em um modelo mental da escassez, do que falta e com isso acabam operando em piloto automático (uns diriam modo “zumbi”), sem pensar ou perceber o impacto de suas ações e decisões no médio e longo prazo ou as consequências em seu ecossistema de negócios. O jogo que estão jogando é um jogo finito, o do resultado do trimestre, em um ambiente de jogo infinito. A empresa não acaba quando termina o trimestre. Essa mentalidade finita limita a oportunidade de crescimento e melhoria futura em detrimento de uma medição parcial de curto prazo.
Simon Sinek compartilha de maneira bastante clara a ideia do jogo infinito. A operação de uma empresa não termina no momento em que se publica o balanço. A produção continua, os fornecedores seguem entregando, os funcionários continuam vindo trabalhar e os clientes comprando.
A ideia de olhar apenas para dentro, para o resultado de curto prazo, focar na ideia de Milton Friedman, supremacia do acionista, está ultrapassada. Não estamos dizendo que precisamos ser negócios sem fins lucrativos. O lucro faz parte do jogo, a questão é que não vale mais o lucro a qualquer custo. Isso inclusive está evidente na atualização do tripé da sustentabilidade (Planet, People & Profit) planeta, pessoas e lucro. ESG nada mais é que uma atualização estruturada: planeta passou a ser mais acessível chamando de “Meio Ambiente” (Environment), pessoas tomaram uma nova dimensão “Social” e o “Lucro” passa a ser visto da perspectiva da Governança (Governance), pois não podemos aceitar o lucro a qualquer custo. Isso é claramente uma reinterpretação de um modelo do século passado para o nível de consciência do século XXI.
O que se percebe, é uma mudança de um mundo egocêntrico para um mundo mais ecocêntrico, conectado e interdependente. Mudança da perspectiva do “eu” para o “nós”.
Hoje, já existem muitas ferramentas, novos modelos (economia circular, economia do compartilhamento, etc.), avaliações (como Sistema B), lista de melhores práticas, qualificações ESG, mas muitas organizações ainda desconhecem ou se recusam a usar. Isso pode ser pelos líderes que não fazem caso ao eminente risco que corremos? Ou realmente por ainda ter o nível de consciência do século passado?
A realidade é que nenhum sistema, modelo ou proposta de mudança funciona quando abordado pela perspectiva de “compliance” – uma verificação de pontos cumpridos de um checklist de avaliação.
Um líder consciente, quando reconhece seu poder e decide tomar decisões e agir para fazer a diferença, tem o poder de transformar uma organização e também o seu ecossistema de negócios. Principalmente se o fizer pelas razões corretas. Ficam duas perguntas. A primeira é: quais são as razões corretas? E a segunda é: qual jogo vale a pena jogar: o finito (trimestre) ou o infinito (plantando árvores que talvez não venha se beneficiar de sua sombra)?
Reconhecer nossa essência, os valores humanos, a colaboração, participação, empatia, compaixão, amor são as razões corretas. Valores esses muitas vezes encontrados em famílias e abandonados quando vamos ao mundo dos negócios.
No entanto, independente das razões corretas, a mudança vai acontecer de uma maneira ou de outra: por convicção ou por necessidade. Todo mundo já conhece Larry Fink, CEO do maior fundo de investimentos do mundo (com uma carteira de US$ 10 trilhões), que deixa persistentemente claro para os CEOs das companhias de capital aberto que espera deles: desempenho, planos de longo prazo, e também ações para mitigar o impacto do aquecimento global causado pela organização, iniciativas de regenerar nosso planeta.
Outro jeito de dizer isso é que precisamos de mais empresas que curam (expressão cunhada por Raj Sisodia em livro homônimo): “”Healing Organizations“”. Já temos muitas empresas que causam dor, geram problemas, e não se importam com as pessoas, tratando-as como meros recursos. Fica claro que as empresas têm um papel importante na mudança e no avanço do bem-estar da humanidade. Uma voz ainda adormecida.
Se a organização tradicional cria ambientes limitantes ao estabelecer o lucro como sua métrica mais importante, a organização consciente gera valor para todos os stakeholders (grupos de interesse) ao criar uma cultura responsável pelos seus comportamentos e impactos. Mais ainda quando consegue elevar o nível de consciência de suas equipes e demais stakeholders.
Essa nova consciência é o que nos leva a entender, por exemplo, que, qualquer que seja o seu negócio, você está no negócio de educação. Se o seu cliente não for educado sobre seu produto e entendê-lo, não vai comprá-lo. Se o seu colaborador não for educado sobre sua intenção, ele não vai contribuir. Se o seu fornecedor não for educado sobre a sua forma de operar, ele não trará inovação. Se a comunidade na qual você está inserido não for educado sobre o seu impacto, ela não vai defender o seu negócio.
Para começar uma mudança diferente, precisamos incluir um novo ODS em nossa agenda, o ODS zero: a consciência. O ponto de partida da mudança passa a ser elevar o nível de consciência com ações simples e engajadoras que todos podem incorporar no seu dia a dia.
Apesar de os ODS parecerem algo só de governos e grandes empresas, a ONU criou uma interpretação dos ODS para o dia a dia do cidadão comum. Cada ODS está traduzido em cinco ações que qualquer pessoa pode fazer e contribuir de forma individual para essa mudança de consciência. Conheça os GOOD LIFE GOALS – Objetivos de uma Boa Vida.
Dessa maneira podemos compartilhar com todos, independente de escolaridade, ações que tragam um novo nível de consciência em relação aos indicadores mais relevantes para recuperar o rumo da humanidade. Isso pode ser feito em qualquer organização, escola ou bairro e o céu é o limite para as formas criativas de fazê-lo.
VAMOS EXPANDIR NOSSA CONSCIÊNCIA? Vamos influenciar a aceleração da mudança por parte das empresas? Conte-nos sobre Uuma ação que pretende realizar relacionada aos ODS na sua vida pessoal! (E fique à vontade para compartilhar este artigo com ao menos uma pessoa da sua rede. Começa assim.)”