A atual agenda de open insurance promete um mercado de seguros com flexibilidade e preços mais baixos. Conheça os desafios e as oportunidades do novo sistema
O open insurance, versão do open finance aplicada ao mercado segurador, está entre nós há pouco mais de três meses. Aos poucos, ele começou a ser implementado em 15 de dezembro de 2021.
O sistema permite o compartilhamento de dados entre seguradoras, startups, bancos e insurtechs. A ideia é que ele gere mais agilidade, assertividade e personalização das ofertas, além da redução de custos e de burocracia para o consumidor.
Do lado das organizações, no entanto, é preciso tomar alguns cuidados. É o que concluiu a pesquisa Open Insurance no Brasil, desenvolvida pela Accenture para ajudar a combinar a agenda estratégica de open insurance com as obrigações de cunho regulatório.
Segundo Karen Abe, diretora responsável pela área de seguros da multinacional de consultoria de gestão da Accenture, a abordagem de ofertas contextualizadas é fundamental para que as seguradoras consigam se manter relevantes. “”Os corretores passam a ter um papel de liderança dos projetos centrados na experiência do cliente. Ao dominar as necessidades dos segurados, a organização consegue entregar a oferta ideal no momento certo””, explica.
Hoje, mais de 82% dos segurados entre 18 e 34 anos têm predisposição para compartilhar dados pessoais em troca de benefícios em produtos e serviços. Essa troca de informações, que exige o consentimento do consumidor, é o cerne no open insurance.
> “”O brasileiro não tem o costume de pagar por aquilo que não se pode adquirir de imediato. Mudar essa realidade é o principal desafio para as seguradoras””, diz Abe.
A pesquisa da Accenture também mostra que a interoperabilidade com open finance (o nome atualizado do open banking) traz informações valiosas que podem impulsionar diversas iniciativas de negócio. Ao saber mais, a seguradora pergunta menos e o cliente não perde tempo na etapa de contratação.
“”Em vez de ter o produto de prateleira, que eu tenho que empurrar e encaixar no cliente, vamos experimentar fazer uma outra pergunta””, sugere Abe. “”Ele quer pagar conforme o uso? Quando viaja, por exemplo, entende que os riscos aumentam? É assim que encontramos a oferta ideal.””
De um lado, a grande complexidade de extração dos dados dos sistemas legados é um desafio por si só. Do outro, existe a necessidade de elaborar e priorizar estratégias de ataque e de defesa – reter os clientes atuais e capturar prospectos.
Diante da relevância do tema, as seguradoras precisam se adaptar. E correr para entregar o escopo regulatório no prazo sem perder de vista as necessidades estratégicas que estão surgindo.
Para as seguradoras que priorizam a adequação regulatória, a Accenture destaca alguns direcionadores para iniciar as discussões de cunho estratégico. É preciso iniciar a educação do cliente e captar o interesse prévio no compartilhamento de dados. Além disso, definir clientes prioritários é estratégico.
Cada seguradora pode estar vivendo um momento específico. Mas a Accenture lembra que existem aprendizados estratégicos do open banking para um bom caminho de adequação. Confira a seguir:
– É fundamental ter um time de negócios experiente e com alto envolvimento para influenciar discussões regulatórias a favor da agenda da seguradora.- Encare o open finance como uma nova linha de negócio e mobilize os recursos necessários para garantir foco nas novas oportunidades existentes.- Aprenda com erros dos outros: ao focar em atender apenas o regulatório, alguns bancos tiveram retrabalho para atender estratégias de negócio.- Defina incentivos e faça a educação do consumidor desde o princípio.- Crie capacidades para gerir e consumir os novos dados.- Conecte-se com ecossistemas e cadeias de valor para acelerar a jornada e a captura de benefícios.- Estabeleça a governança interna (metas, accountability, prioridades de atuação etc.) para gestão do programa desde o início.- Durante a fase regulatória, estruture uma fundação técnica que sirva de chassi para a evolução da agenda negocial.
Desde o início da pandemia, o número de pessoas que apontam preocupação com a própria segurança financeira aumentou de 37% para 50%. Além disso, a parcela de brasileiros dispostos a comprar seguros online subiu de 43%, em 2018, para 63%, em 2020.
Apesar disso, complicações durante a pandemia geraram uma crise de confiança no setor: apenas um terço dos consumidores afirma confiar nas seguradoras. Para Karen Abe, a resposta é a colaboração: “”Precisamos acabar com a lógica de ‘rouba-monte’. A guerra por preço acaba prejudicando toda a cadeia””.
O mercado brasileiro de seguros vem crescendo desde 2016, mas em termos de prêmios de seguro e arrecadações o aumento poderia ser maior. Para expandir as operações, Abe ressalta a educação do cliente e a capilaridade.
É preciso abrir novas fórmulas de comercialização. Hoje, o mercado atinge somente uma parcela restrita da população bancarizada. O open insurance é uma alternativa para compreender essa jornada de compra e superar a dependência do sistema de parceria com os bancos, o chamado bancassurance.
No Brasil, o open insurance será implementado de forma gradual. A primeira etapa, que começou em dezembro, deu início ao compartilhamento de dados públicos das empresas. Na segunda fase, prevista para começar em 1º de setembro, os clientes poderão compartilhar dados pessoais. Já a fase final, que prevê a execução de serviços por meio do ecossistema, terá início em 1º de dezembro.
Veja o cronograma completo do open insurance no Brasil:
15/12/21–30/06/22Open DataCompartilhamento de dados públicos das seguradoras, como canais de atendimento e disponibilização de produtos.
01/09/22–15/06/23Compartilhamento de Dados PessoaisInclusão de dados pessoais, como histórico de pagamentos e dados da apólice e sinistros, a partir do consentimento do cliente.
01/12/22–15/06/23Serviços de SegurosEfetivação dos serviços, com a realização de modificações/endossos, acessos, resgates e avisos de sinistros.”