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WEB3 15 min de leitura

Os desafios da identidade descentralizada

Entenda como uma identidade descentralizada supera os problemas de identificação tradicionais e o papel do blockchain nisso – ao que tudo indica, a era figital também será a era da identidade digital descentralizada

Tatiana Revoredo
9 de março de 2025
Os desafios da identidade descentralizada
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Que vivemos a era “figital” (onde físico e digital se combinam), não há mais dúvidas, porém poucos vêm se dando conta de que estamos ingressando também na “era da descentralização”, e que tem como um dos pilares a identidade digital descentralizada das pessoas. Esta busca resolver todos os problemas de identificação tradicional ao permitir que um indivíduo acesse sua identidade em múltiplas plataformas – e que ele, ou ela, faça isso sem sacrificar sua segurança e a experiência no processo. 

Em uma estrutura de identidade descentralizada, há muito mais comodidade: nós precisamos apenas de uma conexão à internet e de um dispositivo para nos identificarmos em qualquer que seja a situação. Nessa estrutura, tende a haver mais segurança igualmente, uma vez que a autenticidade da identidade é validada por tecnologias de ledger distribuído (DLT, na sigla em inglês) e , em particular, pela tecnologia blockchain.  

Há quem diga que não é necessário blockchain para termos a identidade digital descentralizada, mas a verdade é que, até hoje, foi a tecnologia blockchain que se mostrou mais viável para a identidade digital, – chamada de identidade auto-soberana – resolver todos os problemas existentes no sistema tradicional de identificação de pessoas. Ao fornecer uma arquitetura consistente, interoperável e à prova de adulterações, blockchains permitem o gerenciamento e armazenamento seguro das identidades, gerando benefícios significativos para organizações, usuários, desenvolvedores e sistemas de gerenciamento da internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).

No entanto, é claro, nem tudo são flores. Há desafios importantes a vencer na identidade digital.

Entendendo os desafios

A insegurança perante os hackers, o baixo acesso pela população e o fato de que poucas empresas de identidade digital têm desvantagem em relação aos fraudadores estão entre os principais desafios deste novo mundo, como exploramos a seguir. A boa notícia é que eles podem ser resolvidos pelos sistemas de gerenciamento de identidade em blockchain.

Os dados são um pote de mel para os hackers

Um dos problemas mais comuns nas informações de identidade armazenadas em bancos de dados governamentais centralizados são os contratempos na segurança.

Os bancos de dados são executados em softwares legados e apresentam múltiplos pontos únicos de falha. Portanto, os sistemas centralizados com informações pessoalmente identificáveis (PII, na sigla em inglês) de múltiplas contas de usuários são comumente alvo de vazamento de dados e um pote de mel para os hackers. Quase todos os dias hackeamento de empresas e vazamento de dados de clientes viram manchetes nos jornais e na grande mídia.

De acordo com uma pesquisa recente, as informações pessoalmente identificáveis (PII) representavam uma grande parte dos dados vazados no caso de violações cibernéticas. 

De fato, o comprometimento de registros de dados dos consumidores resultaram em um custo aproximado de mais de US$ 654 bilhões para as empresas só no ano de 2018.

Falta generalizar o acesso à identidade digital

A necessidade de soluções blockchain de identidade digital também se justifica na forma como a identidade digital atual ainda está inacessível para muitas pessoas. 

Geralmente, os sistemas tradicionais de identificação vêm com o peso de complicados processos burocráticos, acesso limitado e falta de conhecimento sobre identidade pessoal e despesas. Por esse motivo, um grande número de pessoas ainda não podem de ter uma identidade própria.

Nesse passo, a identidade baseada em blockchain pode ganhar impulso, pois a maioria das pessoas sem acesso à identidade digital tem acesso telefones celulares. Como resultado, ela pode ajudar a promover soluções de identidade baseadas em blockchain através de telefones celulares, resolvendo a falta de acesso à identidade digital dos cidadãos.

Precisamos de mais IDtechs para combater fraudes

O cenário da identidade digital precisa de mais empresas de identidade digital em blockchain para revolucionar a forma como os usuários preservam sua identidade digital online. 

Atualmente, os usuários precisam fazer verdadeiros malabarismos para identificarem-se em sites e aplicativos, precisando memorizar ou anotar uma infinidade de nomes de usuário e senhas. Nesses casos, os usuários não têm uma abordagem padronizada para utilizar dados gerados em uma plataforma em aplicações em outra plataforma diferente. 

Além disso, a associação limitada de identidades digitais e físicas também facilita a criação de identidades falsas, o que gera muitas dores de cabeça para seus proprietários.  

O papel da rede blockchain na identidade descentralizada

Identidade auto-soberana é um conceito que se refere ao uso de ledgerd (livros contábeis) distribuídos para gerenciar o PII.

A noção de identidade auto-soberana (SSI) é fundamental para a ideia de identidade descentralizada. 

Em vez de ter um conjunto de identidades através de múltiplas plataformas ou uma única identidade gerenciada por terceiros, os usuários de uma SSI possuem carteiras digitais [wallets] nas quais várias credenciais são armazenadas e acessíveis através de aplicações confiáveis.

As identidades auto-soberanas possuem três componentes principais (conhecidos como os três pilares das SSIs): 

  • Blockchain.
  • Credenciais verificáveis (VCs). 
  • Identificadores descentralizados (DIDs).

Blockchain é um ledger digital descentralizado, um registro de transações duplicado e distribuído entre computadores conectados em rede que registra informações de uma forma que dificulta ou impossibilita a mudança, o hackeamento ou a fraude.

Já as credenciais criptografadas (VCs) são à prova de adulteração e de verificação que implementam a identidade auto-soberana (SSI) e protegem os dados dos usuários. Eles podem representar informações encontradas em credenciais em papel, como um passaporte ou licença e credenciais digitais sem equivalente físico, como, por exemplo, a propriedade de uma conta bancária.

E por último, mas não menos importante, as SSIs exigem o DID, novo tipo de identificador descentralizado que permite aos usuários ter uma identidade digital descentralizada e verificável criptograficamente. Um DID pode identificar a qualquer coisa como uma pessoa, uma empresa, um conjunto de dados, uma entidade abstrata, etc., conforme determinado pelo controlador do DID. Eles são criados pelo usuário, de propriedade do usuário e independentes de qualquer organização. 

Projetados para serem desacoplados de registros centralizados, provedores de identidade e autoridades certificadoras, os DIDs permitem que os usuários comprovem o controle sobre sua identidade digital sem requerer permissão de terceiros.

Como funciona a identidade descentralizada em blockchain

Devemos fazer questão de entender o mecanismo. Vou aqui usar o exemplo  de identidades digitais descentralizadas na plataforma Ethereum para explicar o funcionamento.

A tecnologia blockchain pode resolver as preocupações com a gestão da identidade com melhorias promissoras. 

A identidade digital que se utiliza do protocolo Ethereum se concentra em componentes importantes, como gerenciamento de identidade, identificadores descentralizados e criptografia integrada.

Os usuários têm que se inscrever em uma plataforma de identidade e dados de auto assinatura para criar e registrar um identificador descentralizado ou DID. 

O processo envolve a criação de um par de chaves públicas-privadas e os usuários podem armazenar as chaves públicas no cadeia (rede) ou mudar seu armazenamento para evitar riscos de segurança. 

O identificador descentralizado ou DID é um conceito importante para explicar o uso de soluções blockchain de identidade digital. 

Na verdade, estamos falando aqui de um identificador para determinado objeto, pessoa ou empresa específica, e uma chave privada que protege esse DID. 

Dessa forma, os indivíduos que possuem a chave privada podem provar a propriedade ou controle sobre uma identidade específica. 

Uma pessoa pode ter múltiplos identificadores descentralizados (DIDs), o que pode restringir o rastreamento de seu comportamento digital no seu dia a dia. Por exemplo, você pode ter um DID para o aplicativo de informação de crédito, e um DID para sua conta de games. 

Os identificadores descentralizados também possuem uma coleção de atestados ou credenciais verificáveis que identificam os traços específicos do seu DID. 

Geralmente, os emissores das credenciais verificáveis assinam as credenciais de forma criptografada. E os proprietários de DIDs poderiam armazenar as credenciais por conta própria sem depender de um único prestador de serviços. 

Por outro lado, a criptografia ajuda a proteger as identidades descentralizadas, o que é particularmente fácil com a segurança oferecida por pares de chaves público-privadas. Para facilitar a compreensão, imagine que pares de chaves publico-privadas são, a grosso modo, um “par de senhas”.

A chave pública ajuda na verificação da identidade, enquanto a chave privada ajuda na decodificação da mensagem associada com a sua identidade. 

Você pode entender “o que é identidade digital em blockchain” compreendendo como as identidades descentralizadas são implementadas em casos de uso real. 

Imagine que você, para se identificar perante determinado site ou aplicativo, fornece um QR code como prova de sua identidade, a fim de acessar determinados serviços específicos. 

Dessa forma, essa site ou aplicativo (identificador) verificaria a prova de propriedade da sua credencial e verificaria se ela está relacionada com o seu DID (identificador descentralizado).  

Agora que você já sabe quais os problemas existentes nas identidades digitais, os principais componentes de uma identidade digital auto-soberana e como funciona uma identidade digital descentralizada em blockchain, vejamos por que como projetos de identidade descentralizada que usam a tecnologia blockchain são eficientes e resolvem a maioria dos problemas existentes.

O que torna a rede blockchain essencial

Muitas inovações tecnológicas e projetos, incluindo automação de processos robóticos e machine learning, surgiram para resolver os problemas das identidades digitais. Mas estas novas soluções se tornam caras e menos eficientes quando implementadas em sistemas centralizados de gerenciamento de identidade digital. 

Em vez de atribuir o controle de dados de identidade a partes centralizadas, os projetos de identidade digital em blockchain podem fornecer agora uma resposta ideal para problemas de gerenciamento de identidade digital. 

A descentralização da identidade por meio da tecnologia blockchain, com identificadores descentralizados traz as seguintes vantagens para soluções de gerenciamento de identidade digital:

Segurança. Esse é um dos principais destaques para o crescimento das empresas de identidade digital blockchain. A rede blockchain apresenta os elementos de manutenção de dados de forma imutável e criptografada. Ela também oferece o benefício da segurança através da criptografia na manutenção dos dados de identidade digital. 

Nesse contexto, a rede blockchain pode ajudar a garantir que a identidade digital seja segura. Além disso, os sistemas de identidade digital baseados em blockchain removem os problemas de vulnerabilidade devido à proteção por senha. 

Privacidade. Outro valor importante trazido pela identidade digital baseada em blockchain refere-se à privacidade, uma vez que os reguladores estão alimentando debates sobre a salvaguarda das informações pessoais e sensíveis dos cidadãos. 

A eficiência da criptografia em blockchain, juntamente com a facilidade de assinaturas digitais, garante a eficácia da “privacidade by design”. Além disso, as assinaturas digitais associadas a todas as transações na Internet podem ajudar a torná-las imunes a adulterações. 

Integridade. O sistema de identidade digital baseado em blockchain proporcionaria flexibilidade para manter os registros de cada identidade em todos os nós da rede. Independentemente da distribuição dos dados em redes peer-to-peer, a verificação contínua da identidade e as atualizações a tornam digna de confiança. 

Além disso, como a rede em blockchain não possui um ponto único de falha, quando realmente descentralizada, os hackers encontram maior dificuldade para comprometer a integridade dos dados de identidade digital. 

Confiança. As vantagens dos sistemas de identidade digital baseados em blockchain também trazem melhorias sensíveis na confiança. Os sistemas baseados em blockchain mantêm os metadados de comunicação em um ledger distribuído, e mecanismos de consenso ajudam a verificar a autenticidade dos dados em múltiplos nós. A descentralização também oferece outro destaque promissor para as identidades digitais, especialmente com o uso de identificadores nacionais através de múltiplas agências. 

Simplicidade. O principal benefício das soluções blockchain de identidade digital também traz simplicidade ao processo de identificação. 

As estruturas blockchain tem a capacidade de simplificar os processos associados a cada parte interessada. As estruturas de gerenciamento de identidade baseadas em blockchain podem definir papéis claros para os emissores de identidade, proprietários de identidade e verificadores de identidade. 

Perspectivas para o futuro (próximo)

Estamos caminhando para uma sociedade figital, onde as fronteiras não só nacionais, mas também entre os mundos físico e digital tendem a desaparecer, com negócios e interações assumindo uma dimensão realmente global. 

Paralelamente a isso, vemos o movimento da web3 tomando forma. Certo?

Nesse contexto, a identidade digital descentralizada ganha espaço e força, passando de uma simples ideia para tornar-se um dos principais focos no desenvolvimento da infraestrutura necessária para a web3. Você está se preparando para isso?

Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é especialista em aplicações de negócios blockchain e em estratégia de negócios em inteligência artificial pela MIT Sloan School of Management, em inteligência artificial pelo MIT CSAIL e em mitigação de riscos cibernéticos pela Harvard University. Estrategista de blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford, ela é professora do curso “Blockchain para negócios“ no Insper e autora de três livros sobre esses temas.

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