
No Brasil, a área pode se inspirar em exemplos europeus para sentar à mesa das decisões que geram valor para o negócio
As áreas de recursos humanos das empresas no Brasil passam por um processo acelerado de reinvenção. As razões são óbvias: todos nós vivemos grandes incertezas, e as empresas não são muito diferentes em seus esforços por sobreviver e prosperar nestes tempos incertos.
Meu objetivo aqui é fazer uma pequena contribuição com foco em como se pensa o tema lá fora. Quem sabe em artigo futuro possamos, eu ou alguém da MIT SMR Brasil, propor uma solução “jabuticaba” de gestão de RH?
As empresas norte-americanas têm no RH um pronunciado viés de conformidade, por três razões: 1) trata-se de uma sociedade extremamente litigiosa; 2) lá, são pouquíssimos os benefícios exigidos por lei, e até por isso 3) existe um histórico de altos níveis de sindicalização dos colaboradores. Nestas, a visão estratégica de RH, quando existe, resulta da visão privilegiada de alguém da alta gestão, nem sempre um profissional de RH.
Infelizmente, nós no Brasil tendemos a copiar modelitos norte-americanos, no que têm de bom e de ruim, em muitos dos modelos de gestão que adotamos.
As empresas europeias estão muito mais à frente, com programas engenhosos de atração e retenção de talentos, reconhecimento e remuneração de bom desempenho que vão muito além do nível tático.
Nessas companhias, a pessoa de RH tem que saber fazer cinema além de tirar fotografia. E uma reunião de diretoria (ou de conselho, que nas empresas europeias – na maioria dos casos – é a mesma reunião) sem alguém de RH seria causa de estranheza.
As empresas alemãs têm duas peculiaridades:
O resultado é que esse VP, e/ou alguém de RH bem poderoso reportando-se diretamente a ele/ela, tem assento tanto nas reuniões de diretoria como nas reuniões de conselho.
Algumas empresas escandinavas (cuja contabilidade, vale mencionar, é fortemente inspirada na alemã, o que inclui a forte relutância em criar vice-presidências) enxergam isso sob outro ângulo: que a responsabilidade de recursos humanos é tarefa da diretoria inteira, e que uma diretoria de RH acabará esvaziando as outras.
Assim, ou elas têm um RH deliberadamente restrito, ou terceirizam a parte processual de RH (folha de pagamento, contratar, desligar etc).
Nesse modelo, o grupo gestor, que varia entre 5 e 12 pessoas, tem uma reunião periódica (entre 4 e 6 vezes por ano) especificamente sobre RH. Em algumas delas, é incluído o que eles chamam de grupo estendido (30-40 pessoas), com as chefias de departamento.
A pauta dessas reuniões envolve decisões de recrutamento, desligamento, promoção, remuneração variável e fixação/atingimento de metas de DEI.
Eu me alonguei nas escandinavas porque acho que nós no Brasil temos muito a aprender com elas. Enxergo uma convergência cultural nossa com esses conceitos, além de termos muita presença escandinava no Brasil – AkzoNobel, Electrolux, Equinor, Ericsson, Nokia, Novo Nordisk, Sandvik, Vaisala, Volvo), a maioria muito competente em atrair talentos locais. Por isso mesmo, muitas dessas companhias formaram alguns dos nossos melhores executivos.
A partir do que temos observado em outros países, e considerando as particularidades do nosso mercado, qual seria o conteúdo mínimo do futuro profissional de RH no Brasil? Eu não me proponho a gerar uma agenda compreensiva, mas trago a seguir uma contribuição para o assunto.
E por último, mas não menos importante: