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Compartilhar dados é o futuro

Conheça os ecossistemas de dados e entenda por que eles devem definir a competitividade muito em breve, e de uma maneira que todos sejam beneficiados

Bernardo Caldeira
15 de julho de 2024
Compartilhar dados é o futuro
Este conteúdo pertence à editoria Tecnologia, IA e dados Ver mais conteúdos
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Quando, em maio de 1997, o mundo se surpreendeu ao assistir à derrota do grande enxadrista da época, Garry Kasparov (nascido no Azerbaijão), para o Deep Blue, uma máquina produzida pela IBM, ele começou a ter uma ideia do potencial da inteligência artificial. O fato de que o Deep Blue era capaz de avaliar 200 milhões de jogadas por segundo demonstrou de modo pragmático o alcance e a potência da inteligência artificial (IA) com os dados juntos.

Hoje, a IA, o analytics de dados e tecnologias correlatas fazem parte do dia a dia das pessoas e das empresas, mas as surpresas estão longe de acabar. Um dos exemplos mais claros disso se encontra nos produtos e serviços financeiros hiperpersonalizado, que proporcionam ao cliente – pessoa física ou jurídica – um planejamento financeiro sem igual. Eles só são possíveis com a ajuda da IA e o sistema de open finance, no qual o compartilhamento de dados acontece entre as instituições de financeiras de maneira consentida.

Dessa vez, a razão da surpresa está principalmente nos dados: open finance é um ecossistema de dados. Toda vez que diferentes organizações se reúnem para compartilhar dados e insights de maneira a criar valor para todos os participantes, isso é um ecossistema de dados. Nele, distintos datasets podem ser compartilhados e cruzados por meio da IA de forma assistida, possibilitando a geração de insights não mapeados antes.

Dados em quantidades extraordinárias

A popularização desses ecossistemas é questão de tempo. Isso porque a geração de dados em tempo real deverá atingir quantidades quase inimagináveis nos próximos anos. Sobre isso, considere alguns informes do site Seed Scientific:

1. A quantidade de dados disponíveis no mundo, ao final do ano passado, era de 44 zetabytes. Em 2025, chegará a 463 exabytes por dia. Isso significa que, daqui quatro anos, todo o volume de dados relativos a 2020 será gerado em apenas 95 dias.

2. Até 2025, haverá 75 bilhões de dispositivos com uso de IoT ao redor do mundo – ou 9,2 dispositivos por pessoa, levando em conta a população global estimada até lá.

3. Até 2030, nove entre dez pessoas acima de 6 anos de idade serão digitalmente ativas, produzindo dados individualmente na internet e deixando seu “rastro digital”.

Então, como processar essa avalanche de dados? A utilização de novas tecnologias associada ao uso da nuvem, que dispensa discos rígidos e processadores armazenados em data centers, ampliará exponencialmente a capacidade de processamento de dados, de forma acessível e democratizada. Isso sem falar no uso de novos recursos, como os da computação quântica.

Se temos quantidade suficiente de dados e tecnologia disponível para processá-los e analisá-los, resta saber como armazená-los de modo adequado para que possam ser úteis para qualquer negócio. É neste ponto que entram os ecossistemas de dados, detalhados a seguir.

Entendendo melhor os ecossistemas

Na Capgemini, temos estudado bastante os ecossistemas de dados. Eles podem se manifestar de diferentes maneiras, como, por exemplo:

1. Data brokers: proveem dados agregados para seus clientes, atuando de forma centralizada tomando por base a ingestão de dados a partir de diferentes fontes.

2. Configuração de compartilhamento de dados recíproco: empresas participantes operam em conjunto, com uma das empresas sendo um parceiro de maior porte, porém, assistida por dados de processos operados por outras empresas na cadeia de valor.

3. Ecossistemas analíticos federados: o foco está na execução de análises diretamente nas bases de dados de cada participante, muito comum em segmentos muito regulados ou em que há presença de dados sensíveis.

4. Modelos de dados colaborativos: participantes atendem a um mesmo mercado, mesmo que sejam negócios concorrentes, fazendo com que a colaboração promova um melhor serviço para o cliente.

Seja qual for a maneira utilizada, os ecossistemas se definem por permitir que as organizações envolvidas gerem valor para seus negócios a partir do uso de dados, seja por meio de compartilhamento, geração de insights, criação de novos produtos e serviços ou mesmo revisão de modelos com novas fontes de receita a partir da diversificação do negócio. Esse processo se denomina monetização de dados.

Ecossistemas de dados são encontrados em diferentes indústrias e cadeias de valor. Segundo o estudo Data sharing masters: como organizações inteligentes usam ecossistemas de dados para obter uma vantagem competitiva imbatível, realizado pelo Capgemini Research Institute, uma em cada quatro organizações (25%) pretende aumentar em pelo menos US$ 50 milhões os investimentos em ecossistemas de dados nos próximos dois a três anos – seja na aquisição de infraestruturas tecnológicas, ferramentas, talentos e habilidades, processos de engenharia etc. Ainda de acordo com a pesquisa, as indústrias pioneiras no aumento de investimentos são: telecom, com 55%; bancária, com 43%; bens de consumo, com 60%; e varejo, com 54%, conforme demonstrado no gráfico a seguir. A maior parte dessas indústrias está, por enquanto, localizada nos Estados Unidos (47%), Reino Unido (36%) e Alemanha (27%).

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Os usos mais comuns dados aos ecossistemas são estes:

– Monitoramento de campanhas de marketing e seleção de público-alvo.- Dados e insights em trabalhos de P&D.- Consumo de produtos e serviços.- Dados para planejamento em smart cities como estacionamentos, detalhamento de mapas e similares.- Dados de compras realizadas online.

Como participar de um ecossistema de dados

Conforme nossos estudos na Capgemini, os benefícios financeiros do compartilhamento de dados podem atingir até 9% da receita anual de uma organização nos próximos cinco anos. Esse percentual representa algo como US$ 940 milhões para uma companhia com receitas globais anuais de US$ 10 bilhões. Além disso, há outras consequências positivas para o desempenho dos negócios que apostam na força do ecossistema de dados, conforme descreve o gráfico abaixo:

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Os números indicam que, nos últimos três anos, as organizações pesquisadas apresentaram ganhos significativos em satisfação do cliente, produtividade e inovação, assim como em redução de custos e riscos. Dados como esses reforçam a decisão de 48% das empresas participantes de ingressarem em novos ecossistemas ou iniciativas nesse sentido, enquanto 36% esperam fortalecer ações já realizadas.

Por outro lado, o levantamento da Capgemini mostra também que a maior parte das organizações (61%) ainda atua em ecossistemas de dados focados apenas em compartilhamento, com baixos níveis de colaboração entre os participantes (apenas 14% das empresas atuam, de fato, de forma colaborativa) e isso demonstra uma oportunidade de melhoria.

No entanto, atuar conectadoalgumas dicas a um ecossistema de dados requer alguns passos prévios. Veja quatro medidas para dar o pontapé inicial em uma iniciativa:

1. Decidir quais dados serão compartilhados em um ecossistema e quais os parceiros envolvidos.2. Definir o melhor modelo de trabalho do ecossistema: compartilhamento de dados, geração de insights coletivos etc.3. Realizar projetos-piloto antes da implantação em escala, buscando casos de uso internos alinhados aos objetivos e às expectativas do negócio.4. Ajustar a governança com base na abrangência das soluções e de forma proativa quanto a temas como ética, confiança e rastreabilidade, de acordo com as regulações vigentes.

Conforme sugereno estudo Data sharing masters, há quatro estágios do desenvolvimento de um roadmap para uma estratégia de ecossistema de dados, e é importante que as empresas façam quatro perguntas em cada um deles:

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O FUTURO É DO COMPARTILHAMENTO DE DADOS, como fica cada vez mais claro. Sem isso, as organizações não conseguirão acelerar a adaptação de seus negócios à velocidade do mundo que vem pela frente. E esse futuro marcado pelos ecossistemas de dados não é um futuro tão distante assim. Não vai demorar para que trabalhar no modo data-driven não seja mais um diferencial, e, sim, uma condição básica de competitividade no mercado.

O Fórum: A era da hiperpersonalização é uma coprodução MIT Sloan Review Brasil e Capgemini. Acesse os demais conteúdos deste fórum para conhecer todo o potencial que a hiperpersonalização fornece ao seu negócio clicando aqui.

Se você deseja falar com um dos especialistas Capgemini, entre em contato aqui.”

Bernardo Caldeira
É gerente de soluções digitais na Capgemini Brasil.

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