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Diversidade e inclusão

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É hora de praticar o Black Money no Brasil

Ainda 2 em 3 desempregados no Brasil são negros, mas há mudanças em curso e elas estão sendo aceleradas por movimentos étnico-raciais organizados que promovem o afroempreendedorismo e fazem a inclusão tecnológica

Colunista Nina Silva

Nina Silva

26 de Setembro

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Artigo É hora de praticar o Black Money no Brasil

Prazer, Nina Silva!

Executiva de TI há mais de 17 anos. Uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo de 40 anos de idade. Sócia-fundadora do Movimento Black Money. Membro honorário da rede Social Good Brasil, organização brasileira de tecnologia para transformação social. Mentora. Escritora. Palestrante. Todas essas frases e palavras falam sobre mim, mas é preciso muito mais que uma frase para explicar quem sou eu e os projetos que estou envolvida.

Minha rotina inclui palestras, atuação nas atividades e lançamentos do Movimento Black Money, estudos e participação em conselhos e, até recentemente, a atuação numa consultoria global de software  pioneira em metodologias ágeis e centrada em tecnologia. 

Em minhas palestras, costumo iniciar a fala sobre como uma menina negra nascida no Jardim Catarina, maior loteamento favelizado da América Latina (na década de 1980) chegou até a wikipedia e à lista da Forbes de Mulheres Mais Poderosas do país.

A resposta é simples: voltando a ser eu mesma!

Estou extremamente honrada pelo convite da MIT Sloan Review Brasil e espero nos próximos meses compartilhar mais sobre experiências, atualidades e tendências nas áreas que navego: transformação digital e tecnologia, empreendedorismo, diversidade, futuro do trabalho, liderança inovadora, sociedade 5.0, entre outros.

Sempre me perguntam como ser uma "Liderança nas empresas", eu devolvo a pergunta com: Como ter autonomia no mundo do trabalho com altos índices de desemprego como em nosso país e a transformação que já vivenciamos?

Acho que aí podemos começar nossa jornada …

A falta de oportunidades ao final de julho/2019 atingia 11,8% da população ativa no Brasil, cerca de 12,6 milhões de brasileiros. Em uma seara de escassez ainda nos deparamos com quanto esse problema atinge de modo mais brutal a população negra. 63,7% da população desempregada no país é preta ou parda – ou seja: de cada 3 DESEMPREGADOS no Brasil 2 são NEGROS. É hora de aprendermos a praticar o Black Money.

Desemprego em alta

Com esse cenário o brasileiro continua na missão cada vez mais difícil de se reinventar.

Ao olhar para a realidade do grupo que está ativo no mercado de trabalho, a desigualdade continua: o abismo socioeconômico onde negros recebem salários 40% menor que brancos. Ponto central do início da reportagem do programa de TV Pequenas Empresas & Grandes Negócios do dia 29/04/2018, que trouxe o estudo do Instituto Locomotiva onde demonstra R$ 800 bi seriam introduzidos na economia se brancos e negros recebessem o mesmo salário.

Empreendedorismo e população negra

Para a população negra no Brasil o empreendedorismo muitas vezes preenche a lacuna da empregabilidade como alternativa de manutenção/geração de oportunidades e renda. Abrir o negócio próprio e valorizar suas origens e cultura é a forma como grupos investem na economia para incentivar renda entre a população da sua comunidade. Hoje, a população afrodescendente movimenta R$ 1,7 trilhão na economia brasileira, corresponde a 54% da população total (segundo autodeclarações), mas não possui incentivo para sair da situação marginalizada nos âmbitos educacionais, socioeconômicos e políticos. 

Então, fazer circular riqueza intracomunidade para alavancar e trazer o grupo minorizado ao mesmo patamar de acesso e competitividade é uma filosofia que está em vários grupos étnico-raciais em todo o mundo e tem sido reconhecida na comunidade negra como a filosofia do Black Money. (Você pode entender o que é o Black Money e saber um pouco mais sobre a participação do Movimento Black Money e de outros agentes do ecossistema afroempreendedor de São Paulo no quadro abaixo e neste vídeo.)

Falar e agir Black Money

Falar e agir sobre o prisma do Black Money é falar de sustentação de toda a pirâmide: atuando na base, incentivando o consumo consciente do consumidor negro junto ao afroempreendedor (negros são 75% entre os 10% mais pobres do país), movimentaríamos toda a estrutura. Essa estratégia de sustentabilidade e emancipação de um grupo traz maior independência e oportunidades para negros e não negros.

O que o Movimento Black Money faz

O Movimento Black Money tem como meta estimular a geração de negócios de modo a ampliar as oportunidades de trabalho e renda para os negros no Brasil, com base em inovação e empreendedorismo. Fazer circular capital por mais tempo dentro da própria comunidade é o nosso mantra. Somos um movimento que atua com inovação, empreendedorismo e educação financeira para a população negra. Fortalecemos o conceito de panafricanismo e temos Marcus Garvey como um dos guias, pois não reinventamos a roda apenas adaptamos práticas validadas ao contexto atual no Brasil.

No momento, o foco da iniciativa são os serviços financeiros com taxas mais justas em máquinas de cartão  para dar fôlego e visibilidade a empreendedores negros. Contudo, o Movimento Black Money também trabalha a inserção da comunidade negra na tecnologia a partir da educação com cursos gratuitos e promove networking e comunicação, como o evento StartBlackUp. Números indicam que o afroempreendedorismo já é uma realidade e que só precisa de maior comunicação e alicerce da base para circulação e trocas dentro dessa rede: baseado na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), o Sebrae aponta que, em dez anos, a quantidade de empreendedores negros cresceu 29% no Brasil. 

No segmento das micro e pequenas empresas – aquelas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano –, o percentual de empresários negros passou de 43% para 50%. Somos os que mais empreendem mas ainda sofremos com escalabilidade e inovação tecnológica em serviços e produtos por não termos acesso a crédito e educação empreendedora. 

O Movimento Black Money além do fomento das relações dentro da comunidade negra, vem à luz com denúncias e informações junto às instituições financeiras e empresariais para engajar toda a sociedade para o compromisso da diminuição das desigualdades socioeconômicas no país.

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Colunista Nina Silva

Nina Silva

É executiva de TI há mais de 17 anos, uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo e sócia-fundadora do Movimento Black Money.

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