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Governança

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GRC e ESG: um casamento indissolúvel

Gestão de riscos, transparência e governança são aliadas na manutenção e sustentação do propósito ESG definido na estratégia empresarial

Angela Miguel

21 de Julho

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Artigo GRC e ESG: um casamento indissolúvel

O termo não é novo, mas está em toda a parte. As três letras que têm mexido com executivos em todos os segmentos da economia mundial: ESG, a sigla em inglês para environmental, social and governance (ou ambiental, social e governança, em português). Com um patrimônio global projetado em US$ 4,3 trilhões até 2030, segundo projeções da consultoria PwC, a estratégia surgiu para aprofundar as discussões e os investimentos (reais) que negócios devem realizar nessas três dimensões, de forma a gerar valor para a sociedade, para as organizações e para o planeta.

No Brasil, a relevância desse tema cresce a cada dia, se tornando até mesmo um pré-requisito para que companhias recebam aportes do mercado de capitais e de fundos locais e internacionais, elevando assim a régua na avaliação das métricas ESG nas organizações. A B3, inclusive, planeja incluir a agenda ESG nas discussões sobre potenciais reformas nas regras de admissão de empresas no segmento Novo Mercado, que detém os níveis mais exigentes de governança. Além dela, CVM, Bacen, Anbima e diversas outras entidades estão olhando para novas regulamentações que preveem avaliações sobre o assunto ESG – e isso que nos leva à conclusão: GRC e ESG formam o casamento perfeito e indissolúvel.

Governança é fiel da balança

Toda companhia que deseja ser antifrágil e ambiciona promover produtos e serviços de alto valor, ter alcance e impacto, tem claro entendimento que a tomada de decisão passa essencialmente por uma estrutura de governança. Por governança, é entendida a tomada de decisões e o exercício da autoridade, a fim de orientar o comportamento de indivíduos e organizações. Muitas vezes, a governança está diretamente conectada a outras duas letras, o R e o C, completando a estratégia GRC, acrônimo para governança, riscos e compliance. Essas três práticas presentes nas empresas que contemplam uma estrutura mais desenvolvida de governança apresentam ligação direta com o tema do ESG.

Ao pensarmos em garantir que iniciativas de cunho ambiental e social aconteçam de forma estruturada, ética e causem impacto relevante, a aplicação dos conceitos de governança, riscos e compliance representa um grande direcionador que demonstra robustez e seriedade por parte das empresas.

Conforme explica Claudinei Elias, fundador e CEO da Bravo GRC, “quando falamos de ESG, não podemos olhar apenas para dentro, focar somente no benefício corporativo, nas questões regulatórias ou manter a atenção nos fundos de investimento, que hoje estão extremamente atentos a companhias que aplicam a estratégia ESG, e deixarmos de lado o arcabouço de riscos, assuntos de controle e compliance que estão diretamente conectados ao tema”.

Elias continua: “as práticas ESG possibilitam o alcance e o aprimoramento da visão de portfólio de riscos, do tratamento do apetite e da tolerância e articulam as questões de compliance, auditoria e demais disciplinas de GRC, como GCN, gestão de continuidade de negócios e gestão de crises. Logo, temos condições de realizar uma avaliação sólida da condição de riscos e oportunidades das companhias”.

Ainda segundo o executivo, a definição oficial de GRC, conforme encontrada no OCEG (Open Compliance and Ethics Group) em GRC Capability Model, é a capacidade de atingir objetivos governança de maneira confiável, ao mesmo tempo que aborda a incerteza gestão de riscos e age com integridade conformidade. “Fica clara a articulação instrumental do tema com as melhores práticas ESG”, afirma.

Quando surgem perguntas sobre a diferença entre ESG e RSE, sigla que caracteriza responsabilidade social corporativa, o executivo explica que ESG trata os assuntos contidos no RSE. Sendo assim, a resposta passa pela letra G do acrônimo. Afinal, é por meio da integração, da transparência e da gestão eficiente que decisões a respeito de investimentos sociais e ambientais podem ser feitas com mais confiança e certeza, seja para shareholders e stakeholders. A governança é a ferramenta que mantém e sustenta o propósito ESG definido na estratégia empresarial.

“No meu entendimento, é o G que irá fazer a diferença no ESG. Percebemos finalmente que as ações relativas a questões socioambientais não têm efetividade se não houver governança, por melhores que sejam as intenções dos respectivos gestores. É coletando dados dentro e fora da empresa, com todos os stakeholders, analisando-os e decidindo a partir deles que se consegue efetividade”, disse o fundador da Bravo GRC em entrevista à revista HSM Management.

Gestão transparente e integrada

Em relatório, a Bloomberg apontou que há mais de US$ 30 trilhões em ativos ESG no mundo, e esse número deve seguir em alta. Só em 2020, os fundos ESG captaram R$ 2,5 bilhões no Brasil, segundo levantamento de Morningstar e Capital Reset – e mais da metade desses fundos foi criada nos 12 meses anteriores. Além disso, as emissões de títulos ESG no mesmo período registrados pela B3 foram na ordem de R$ 5,3 bilhões.

Com tanto dinheiro em jogo, é fácil imaginar porque toda empresa visa embarcar nessa onda, e é aqui que o GRC se torna um forte aliado. No momento de acelerar a criação e a implementação de estratégias condizentes à filosofia ESG, companhias por toda a parte podem derrapar. Há muito ESG-washing por aí.

“Não adianta ter políticas incríveis e não praticar. Ou pior, ‘pintar toda a empresa de verde’ e esmagar seu fornecedor para conseguir a margem desejada. Sendo muito direto, o ESG já envolve valores tão altos que é preciso manter a integridade, a conformidade e a transparência em todas as relações internas e externas das companhias e organizações. Só assim podemos estabelecer práticas sustentáveis aceitáveis”, alerta Claudinei Elias.

Para evitar incongruências entre discurso e prática, além de estabelecer métricas e processos claros e transparentes para a gestão de projetos ESG, é interessante que a temática ganhe espaço nas estruturas organizacionais com especialistas. Para o fundador da Bravo GRC, a criação de um departamento ESG pode ser um caminho.

“Uma forma inteligente e estrutural é ter a função organizacional conectada ou até mesmo dentro da estrutura de GRC. Ter as áreas de governança adequadamente estruturadas é tão importante quanto a existência de áreas como recursos humanos e marketing.” São esses profissionais que terão a missão de orquestrar, arquitetar e investir em certificações e tecnologias, disseminar medidas de transparência e análises sem vieses, levar conhecimento, provocar engajamento e envolver o business. Ademais, os líderes precisam absorver e advogar a respeito da mentalidade ESG e GRC.

7 questões fundamentais

Na edição 7 da revista MIT Sloan Review Brasil, a matéria ESG: muda a narrativa, cresce a demanda, de Marcelo Furtado, membro do conselho do Rainforest XPrize, Conectas Direitos Humanos e WRI, trouxe as sete questões fundamentais que podem nortear organizações e investidores na definição de frameworks ESG. Essas perguntas são da expert em finanças, sustentabilidade e ESG, Siobhan Cleary.

  1. Como a empresa/o investidor posiciona sua abordagem de ESG? (Há uma visão integrada ou holística sobre o tema?)

  2. Como a empresa/o investidor trabalha questões de sustentabilidade de maneira diversa em diferentes localidades?

  3. Como a empresa contabiliza os impactos ambientais em seus relatórios financeiros? (E há alguma provisão para mitigar esses impactos?)

  4. Os compromissos ESG assumidos pela empresa possuem métricas claras, rastreamento e transparência na prestação de contas?

  5. A alocação de recursos financeiros e de pessoal está de acordo com os compromissos ESG apresentados ou apenas é um “nice to have”?

  6. Os progressos em ESG são relatados ao público e revisitados continuamente?

  7. A organização atua em colaboração e por meio do diálogo com os stakeholders? Há inclusão social de verdade?

O Fórum: Governança 4.0 é uma coprodução de MIT Sloan Review Brasil e Bravo GRC.

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Autoria

Angela Miguel

Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas MIT Sloan Management Review Brasil e HSM Management.

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