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Mulheres de março

5 min de leitura

A ascensão delas no mercado de energia

Setor é um dos que apresentam menor equidade de gênero, mas começa se movimentar. A 2W lançou um programa para aumentar a participação feminina na equipe de consultoras

Paulo César Teixeira

29 de Março

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Artigo A ascensão delas no mercado de energia

Março está acabando e as mulheres seguem tendo dificuldade para conquistar espaço no mercado de trabalho brasileiro. Os obstáculos alcançam praticamente todos os setores da economia, especialmente o de energia. Em nível global, apenas 22% das vagas em companhias de energia tradicional estão ocupadas por mulheres, conforme estudo divulgado pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). No que diz respeito às energias renováveis, o percentual é de 32% – levemente maior, mas nada que mereça muita celebração.

Para começar a reverter esse cenário no Brasil, a 2W – plataforma de soluções em energia elétrica, que atua no Brasil com mais de 150 profissionais no quadro próprio e 1300 consultores de energia – está implementando o Programa de Liderança Feminina diferente, que pode ser disruptivo: o objetivo é atrair e capacitar mulheres para serem consultoras de energia no mercado livre. O lançamento do projeto aconteceu na última segunda-feira, dia 28 de março, em evento híbrido realizado no Novotel Morumbi, em São Paulo.

A 2W decidiu lançar o programa depois de constatar que, em 2021, apenas 8% de suas consultoras de energia da empresa eram mulheres. A empresa identificou também que, embora constituam absoluta minoria, elas são as que mais têm a venda de energia como principal fonte de renda.

Executiva de vendas da 2W, Juliana Nogueira, diz que “basta ir aos eventos para comprovar que a maioria das pessoas enviadas pelas companhias de energia são homens”. Nas reuniões para a venda de energia aos grandes consumidores no mercado livre, a interação é também majoritariamente masculina. “São eles que decidem pela contratação de energia ou não.”

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Juliana Nogueira

Para ela, o aumento da participação feminina deixará o mercado mais ágil e dinâmico. “As mulheres são mais práticas na hora de resolver problemas e têm menos vaidade profissional”, diz. Esse desprendimento ajuda na hora de fechar negócios. Tempos atrás, em outra empresa, Juliana conseguiu reverter o cancelamento de um contrato após uma divergência entre homens na mesa de negociação. “Os egos inflaram e ninguém queria abrir mão de suas convicções. Pedi para baixar os ânimos e retomar as conversas. Com isso, conseguimos salvar o negócio.”

Discriminação generalizada

Se integrar o quadro funcional de uma empresa do setor energético já é complicado, ascender na carreira é ainda mais difícil. Ainda segundo o levantamento da IEA, as mulheres representam não mais do que 13,9% da alta administração nas companhias globais de energia. No Brasil, de acordo com a empresa de seleção de executivos Fesa Executive Search, elas ocupam só 6% dos cargos de liderança da indústria energética. Em cargos de diretoria, a presença sobe para 19%. Já em posições de apoio ao negócio (como jurídico, regulatório, RH, financeiro ou comunicação), as mulheres são apenas 13%.

A falta de oportunidades alcança também as áreas de inovação. Nas patentes associadas ao setor, somente 11% dos pedidos correspondem a inventoras. Entre as startups, apenas 11% dos fundadores são mulheres, de acordo com a plataforma de informações de negócios Crunchbase.

Nem mesmo subsetores fortemente ligados à sustentabilidade fogem à regra. Um estudo coordenado pela Câmara do Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK RIO), em parceria com a Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (MESol), mostrou que as mulheres também são minoria nas empresas de energia eólica no Brasil (32% dos colaboradores na média histórica, percentual alinhado aos padrões internacionais). Mais grave é que 57% das profissionais que atuam em companhias de energia eólica afirmaram já ter sofrido algum tipo de violência no ambiente de trabalho, com destaque para violência psicológica (47,4%).

Por tudo isso, o Programa de Liderança Feminina da 2W deverá servir de estímulo para que as demais companhias do setor busquem novos caminhos de diversidade, equidade e inclusão. O projeto conta com dois pilares: produção de conteúdo relevante por meio de eventos e uma série de capacitações para mulheres no canal de venda direta 2W e VC.

“O mercado de venda direta de energia é bastante atraente com comissões e remuneração compensatórias, acreditamos que será um excelente estímulo para as mulheres que desejam empreender”, aposta Roberta Antoniazzi, gerente comercial nacional da 2W.

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Roberta Antoniazzi

Em busca de equidade

Quando trabalhava em empresas promotoras de eventos, a atual head do setor na 2W, Beatriz Borges, convivia com um público 90% feminino. Mas ao ser contratada por uma empresa de energia, a multinacional americana Duke Energy, há 15 anos, a proporção se inverteu. “Havia só 3% de mulheres. Era praticamente eu e a secretária. Confesso que foi assustador”, recorda.

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Beatriz Borges

Algum tempo depois, trabalhou no Grupo CanalEnergia, onde promovia eventos para empresas elétricas. Então, voltou ao patamar anterior, convivendo com maioria esmagadora de mulheres. Tudo isso ajudou Beatriz a ter flexibilidade para se adaptar a diferentes situações, o que possibilitou superar os obstáculos de trabalhar em um setor com predomínio dos homens.

“Percebo que, de modo geral, há diferenças no tratamento dispensado a homens e mulheres. Elas, por exemplo, precisam ser mais graduadas (Beatriz é pós-graduada em marketing pela ESPM) para ganhar espaço, ao passo que deles não se exige tanta formação acadêmica. Mas, pessoalmente, não tenho do que reclamar. Sempre fui tratada com muito respeito”, afirma.

Para encarar os desafios, Daniele Almeida, a gerente de marketing e comunicação da 2W, também recorre a uma postura firme. Ela tem clareza sobre o quanto é importante para a mulher se posicionar e ser protagonista de sua história.

“A diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho existe. Mas é preciso entender que isso não é necessariamente algo determinante. O segredo é manter o foco para fazer as melhores entregas de um jeito leve e, ao mesmo tempo, alinhado às expectativas da empresa”, conta.

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Daniele Almeida

Há 11 anos no setor de energia, e há cinco meses na 2W, Almeida acredita que a ampliação da presença feminina vai trazer muitos benefícios para as empresas. “As mulheres conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo e têm uma percepção mais aguçada”, diz. A gerente está convicta de que o Programa de Liderança Feminina da 2W chegou em boa hora: “A mulher empreendedora pode, sim, vender energia. É o momento de construirmos juntas essa força de trabalho feminina”.

Em breve estreia por aqui o Fórum: Os 3 Ds da energia, uma produção conjunta MIT Sloan Review Brasil e 2W Energia, com tudo que você precisa saber do mercado livre de energia, das energias renováveis e da revolução 3D, que está mudando tudo nessa área (os 3 Ds são descarbonização, digitalização e descentralização).

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Autoria

Paulo César Teixeira

Colaborador de MIT Sloan Review Brasil