Instituição inspirada e apoiada por MIT Sloan Management Review Brasil tem sua primeira apresentação oficial
Em julho, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP apresentou o pré-estudo de viabilidade para o Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT), que MIT Sloan Management Review Brasil vem acompanhando de perto. O projeto se baseia na criação de uma rede de inteligência colaborativa para criar estratégias que consigam resolver os problemas da região.
“Não existe nenhum país tropical que desenvolveu uma bioeconomia baseada em seus recursos naturais, em sua biodiversidade. Vamos encarar esse desafio”, diz Carlos Nobre, pesquisador e climatologista da USP, destacando o aspecto inovador da iniciativa. “Estamos na maior emergência que a civilização já enfrentou, que são as mudanças climáticas, o desaparecimento da biodiversidade. O que queremos é juntar as soluções baseadas na ciência e tecnologia com as soluções baseadas na natureza.”
Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (INCT/Adapta), explicou o objetivo do projeto. Trata-se de sistematicamente “transformar o conjunto de informações que temos em ações práticas, que possibilitem a conservação ambiental, a inclusão social e a geração de renda”. Para Val, a tecnologia é capaz de revelar as informações da diversidade ambiental, ecológica e, principalmente, cultural, ali escondida.
A ideia é que o AmTI seja implantado já em 2023, com um fundo internacional para ciência e tecnologia na Amazônia. Em dez anos, os primeiros resultados nas três frentes devem ser apresentados.
Até 2025 – Planejamento dos cursos de graduação e recrutamento de pós-doutorado, sobretudo online.
Até 2027 – Implementação dos primeiros cursos de graduação e expansão do quadro pessoal, com a aquisição de dois laboratórios flutuantes (que ficarão no rio Amazonas) e treinamento técnico. Surgimento das primeiras soluções criativas.
Até 2029 – Aquisição de três laboratórios flutuantes para os rios amazônicos e treinamento técnico. Novos programas de pós-graduação e implantação de centro de dados. Criação das primeiras startups.
Até 2031 – Rede totalmente funcional, já com as primeiras pós-graduações disponíveis. Implementação do ambiente inovador legal, com centros de desenvolvimento e estudo em funcionamento.
Hoje, a verba do governo federal brasileiro para a região amazônica equivale a 2,5% do necessário para financiar isso. Então, de onde virá o dinheiro? Da coalizão de diferentes atores, nacionais e internacionais, interessados na preservação da floresta, nas informações contidas nela (que pode gerar inúmeras inovações) e também no mercado consumidor ali existente. A proposta é que o AmIT seja uma instituição público-privada de alcance pan-amazônico, reunindo governos, instituições intergovernamentais, universidades, institutos de pesquisas, empresas do setor privado e sociedade civil.
Por que empresas privadas se interessariam particularmente? Por causa das oportunidades ainda inexploradas, que servem para a construção de soluções em diversas indústrias, e do mercado de não-consumidores que podem se tornar consumidores. “Estima-se que a Pan-Amazônia tenha hoje 50 milhões de pessoas. Não é só bicho, árvore e rio. É um mercado”, lembra Val.
Essa instituição pode ser materializada, por exemplo, em cinco centros de desenvolvimento e estudos temáticos: águas da Amazônia, floresta, paisagens alteradas, Amazônia urbana e mineração inteligente. “O AmIT se propõe a transitar pelos cinco centros”, explica Val, mostrando que o olhar econômico está presente, inclusive com mineração.
O projeto está sendo coordenado por Val, em colaboração com pesquisadores do MIT e com o apoio de Carlos Nobre e de Maritta Koch-Weser, coordenadora do grupo de pesquisa ”Amazônia em Transformação”, do IEA-USP. “Temos pressa. A natureza da Amazônia está sob ataque. Já perdemos oportunidades e podemos acelerar”, diz Koch-Weser.
John Fernández, professor do Environmental Solutions do MIT, que trabalha há algum tempo no projeto, acompanhou a apresentação. “É importante para uma nova era, por considerar o caminho em que a tecnologia e a inovação servem ao Antropoceno {período mais recente da Terra, marcado pela existência dos humanos}”, destaca. “Cumpre um dos papéis mais importantes das universidades de pesquisa, que é entender como vamos fazer a transição que seja uma mudança de paradigma industrial.”
Para ele, o AmIT atende a todas as prioridades e se baseia no entendimento de que há uma ligação íntima entre as ações das mudanças climáticas com a redução da biodiversidade. “Precisaremos de avanços tecnológicos para que possamos habilitar o maior número possível de ações benéficas”, diz.
Fernández enfatizou o pioneirismo do projeto, que servirá de modelo ao planeta “Sabemos que o trabalho que podemos fazer na Amazônia não só será relevante para o futuro da Amazônia. É extraordinariamente relevante e importante para as florestas tropicais e os hotspots de biodiversidade em todo o mundo, em particular o Congo e o Sudeste Asiático”. Como disse Val, “essa é a primeira chamada para a cooperação”. “