Fundadoras mulheres, especialmente em startups B2B, enfrentam desafios únicos quando se trata de obter financiamento e apoio. Mas elas têm uma alternativa
Quando olhamos para os desafios que as mulheres enfrentam hoje ao empreenderem, sobretudo nos Estados Unidos, a discussão geralmente envolve o setor de tecnologia. Isso nos faz esquecer de um problema ainda maior.
Embora as mulheres tenham sucesso em startups B2C, como Stitch Fix e Eventbrite, ambas fundadas por mulheres, que estiveram nos holofotes nos últimos 12 meses, elas continuam muito atrás quando se fala em criar empresas B2B. Uma análise de 2018 feita pela Quartz observou as 351 principais startups gerenciadas por homens e mulheres desde 2013, e descobriu que apenas 2% das empreendedoras estão fundando empresas B2B, em comparação a 12% entre os empreendedores homens.
Como sócia geral de uma aceleradora que concentra seus esforços em startups B2B, enxergo claramente as barreiras impedindo mulheres de agirem para se tornarem fundadoras – especialmente no mercado de software como serviço (SaaS), que espera alcançar US$ 186 bilhões até 2024, a maior parte com empresas B2B: são as diferenças de mentoria e coaching.
AS DIFERENÇAS
Antes de se tornarem fundadores, muitos empreendedores B2B recebem insights para começar suas empresas trabalhando em empresas maiores. Entretanto, nessas funções anteriores, homens e mulheres geralmente recebem informações, mentoria e coaching diferentes, o que significa que terão conhecimento e habilidades diferentes ao estabelecerem suas próprias empresas.
Quando os fundadores vêm até mim, pergunto a eles sobre os tipos de mentoria e coaching que receberam ao longo de suas carreiras. Frequentemente, os homens recebem coaching acerca de estratégias de negócios e estratégicas, enquanto as mulheres são treinadas para estudar políticas internas, construir confiança e se apresentar no local de trabalho. Geralmente, as mulheres são ensinadas a se encaixarem na cultura do trabalho, com menos foco em como utilizar seus próprios pontos fortes para seguir adiante.
Até dá para entender por que isso acontece. As mulheres muitas vezes enfrentam desafios diferentes devido a ambientes profissionais e dinâmicos de liderança, e naturalmente buscam orientação de mentores em como enfrentar esses desafios imediatos.
Porém é fundamental certificar-se de que as mulheres recebam um treinamento tão tático e estratégico quanto seus colegas homens, a fim de se prepararem para papéis de liderança a longo prazo. Sem esses insights, as mulheres não ficam em uma posição igualmente vantajosa para criar empresas que resolvam desafios para empreender.
O QUE FAZER
Os gestores podem reverter essa tendência estabelecendo listas de habilidades fundamentais para as quais todos os funcionários devem ser treinados ou instruídos, para que o treinamento seja igualado entre os gêneros.
Em meu trabalho na Acceleprise, eu treino todos os fundadores, diretamente, para certos assuntos – não importa qual tipo de negócio estejam lançando. Isso inclui liderança, habilidades de comunicação, estratégia de negócio e fundamentos de vendas, e até como pedir ajuda a alguém. (Sim, as pessoas precisam ser treinadas para isso!”)
Nós também customizamos o coaching para cada participante do nosso programa, dando a eles conhecimento fundamental em assuntos que são específicos para suas necessidades comerciais. E eu encorajo empresas a fazerem o mesmo com seus programas de desenvolvimento, oferecendo coaching específico com base no individual.
A chave para todas essas decisões gira em torno do que ajuda as pessoas a se tornarem líderes de empresa fortes, independentemente do gênero ou histórico.
Devido à disparidade na qual homens e mulheres geralmente são treinados, eu encorajo grupos de funcionários a ajudarem a fechar esse buraco, concentrando almoços e eventos em assuntos comerciais essenciais.
Esse foco em igualdade de gênero também deve se aplicar às conversas privadas que líderes de negócios têm com seus subordinados. Algumas vezes, eu notei que os líderes têm mais probabilidade de compartilhar insights estratégicos informalmente com subordinados homens do que com subordinadas mulheres. Isso se deve à maneira como as pessoas passam tempo juntas no trabalho e fora dele – é o velho conceito do “clube do Bolinha”. Atividades sem gênero definido e diversificadas – que encorajam o desenvolvimento das relações e a confiança – são fundamentais para vencer a disparidade de gênero.
Com o venture capital
Obviamente, as desvantagens que as fundadoras B2B enfrentam também devem ser abordadas com investidores. As empreendedoras precisam de investidores que reconheçam o valor que empresas administradas por mulheres trazem à mesa. Um estudo do Boston Consulting Group e MassChallenge afirmou que startups criadas por mulheres são “apostas melhores”, observando que embora recebam bem menos financiamento, em média, elas têm um desempenho melhor ao longo do tempo.
Líderes de empresas de investimento precisam aprender a reconhecer os pontos fortes das fundadoras, que muitas vezes aparecem em padrões comportamentais diferentes dos homens. Por exemplo, as mulheres geralmente demonstram uma abordagem indireta, colaborativa. O Athena Center for Leadership Studies, do Bernard College, afirma o seguinte: “Embora talvez recém-reconhecida como atributo de sucesso no mundo dos negócios, a colaboração é há tempo um ensinamento central de uma boa prática de liderança feminina”.
Os investidores também precisam perceber que, cada vez mais, as pessoas das empresas que vão tomar decisões a respeito da compra de produtos e serviços B2B são mulheres, que geralmente respondem positivamente às empreendedoras. Em empresas norte-americanas, mulheres agora compõem 41% dos funcionários com autoridade para tomar decisões de compra. Esses valores também estão em ascensão na Europa e na Ásia.
NOVA PAISAGEM
Sim, a paisagem está mudando. Com novos programas de desenvolvimento e uma comunidade VC que adota a igualdade, podemos ver o aumento de empresas B2B fundadas por mulheres que _todos_ nós buscamos.