Não é nada legal passar o dia com a abelha que trabalha sem parar e o leão que ruge no teclado. Conheça seis maneiras de lidar com essa situação e extinguir essas formas selvagens de trabalhar
Já flagrou um bicho em sua casa? Não um cachorro, um gato ou um hamster, mas algo como um pássaro que entrou voando e começou a bater nas janelas freneticamente? Crescendo no interior dos Estados Unidos, às vezes encontrávamos uma cobra na sala de estar, e um vizinho vinha removê-la com um ancinho e um balde. Seja qual for o animal, a experiência é caótica e um tanto assustadora.
Durante os dias intensos da pandemia, os líderes deixaram alguns animais entrarem em casa. Ao mesmo tempo que inovamos em tempo real e encontramos novas maneiras de nos conectar e ser produtivos sob restrições antes inimagináveis, também abrimos espaço para algumas maneiras bastante selvagens de trabalhar. Toleramos e encorajamos práticas de que, à luz da era pós-covid, não parecem ser nem eficazes, nem civilizadas, nem lógicas.
Vamos conhecer esses bichos e explorar jeitos de tirá-los de sua casa. Afinal, ela também é seu local de trabalho.
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Sempre que alguém no trabalho me diz que está ocupado, tenho uma resposta reflexiva: “Ocupado é bom!” Até certo ponto, é verdade.
Um negócio saudável de qualquer tipo gera uma tonelada de atividade. Dito isso, durante a pandemia, levamos para o próximo nível uma tendência que já vinha de décadas, a intensificação do trabalho.
O que é intensificação do trabalho? É a tendência laboral mais perigosa de que você nunca ouviu falar. Quando eu estava conduzindo uma pesquisa para o meu livro, Work Here Now, fiquei fascinada em saber que pesquisadores acadêmicos estavam estudando e quantificando a crescente sensação de que o trabalho tinha se tornado mais e mais demandante ao longo do tempo.
Esse sentimento reflete a realidade dessa intensificação. Hoje as empresas exigem que realizemos mais unidades de trabalho por unidade de tempo do que antes.
Isso piorou na pandemia, porque todos nós estávamos ansiosos para parecer ocupados. “Não estou sentado em casa me divertindo com receitas para fazer iogurte ou crochê! Eu trabalho o tempo todo!”
Agendamos mais atualizações, enviamos mais e-mails, iniciamos mais chats… Tudo para manter aquela luzinha vermelha em nossos computadores (“estou trabalhando”) e não a verde (“estou livre”) ou, pior ainda, a amarela (“me afastei do teclado”).
Quando nossas vidas passaram por uma nova mudança nos últimos anos, esse preenchimento contínuo do tempo tornou-se insustentável. Some uma série de atividades do mundo real (tudo, desde o deslocamento para o escritório até assistir a jogos de futebol infantil) e estamos ficando sem tempo para fazer todas as coisas.
Prioridades críticas de trabalho se perdem em um amontoado de atividades. Você pode se sentir tão sobrecarregado hoje no trabalho quanto em 2020 – e pesquisas sugerem que estamos ainda mais esgotados do que estávamos durante a pandemia.
Então, como tirar a abelha laboriosa de perto de nós? Aqui estão algumas estratégias:
A porta do meu apartamento tem um guia de segurança contra incêndio obrigatório por lei com dois cenários diferentes: “O fogo está em sua casa ” e “O fogo não está em sua casa”. Uma forma de combater a ocupação opressora é entender quando o fogo está dentro de casa e quando não está.
As tarefas e iniciativas não são todas igualmente importantes, apesar de um ambiente eletrônico (a caixa de entrada de e-mail ou janela de bate-papo) poder torná-las semelhantes. Definir prioridades nítidas ajuda você a estar menos ocupado e a entrar com mais frequência em um estado de fluxo benéfico.
Sua empresa pode ter elementos culturais desafiadores em torno da necessidade de parecer ocupada, e isso é difícil de mudar unilateralmente. Mas, seja você gestor ou não, você pode influenciar como sua própria equipe fala, experimenta e lida com a intensidade do trabalho.
Simplificando: pare de falar sobre o quão ocupado você está e comece a falar sobre o que você está alcançando. Conversas sobre resultados têm uma maneira positiva de viralizar, e você cria espaço para que outras pessoas se concentrem no impacto, não na atividade.
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Claro que não vou chocar você com esta afirmação. É possível ser muito maldoso online, e as pessoas fazem isso frequentemente.
O termo técnico para maldade online é “incivilidade cibernética” e, felizmente, os pesquisadores estão começando a estudá-la. Como observou um pesquisador da Universidade de San Diego (EUA), é desafiador lidar com o desconforto virtual no local de trabalho, onde você não pode “bloquear” o agressor e nunca mais falar com ele.
Com uma maior proporção de trabalho remoto durante a pandemia, pessoas se sentiram mais livres para agir em ambientes virtuais. Alguns enviaram e-mails cortantes ou partiram para o ataque em chamadas de grupo, ao mesmo tempo em que se sentiam confiantes de que não teriam que enfrentar seus alvos ao vivo tão cedo.
O comportamento virtual incivil, no entanto, não nasceu no trabalho em ambiente virtual – organizações como GitHub têm uma tradição de décadas de trabalho remoto com comportamentos encantadores. Em vez disso, a aparente proteção dos ambientes virtuais durante a pandemia permitiu que as pessoas explorassem uma falha comportamental humana clássica: tendemos a dar mais importância à informação negativa do que à positiva. Ao acentuar o que não é tão positivo, os leões do teclado se destacam na mente dos colegas, dando-lhes mais espaço e, portanto, mais poder no ambiente de trabalho.
Duas categorias de estratégias ajudam aqui. Primeiro, qual é a melhor maneira de lidar com um rei do teclado agressivo que está tornando sua vida profissional miserável? Segundo, qual é a melhor maneira de desligar o seu próprio leão de teclado interno e ser a mudança que você quer ver?
Como aprendi uma vez no zoológico, a diferença científica entre um gato grande (o leão que você não quer em sua casa) e um gato pequeno (a quem você dá atum de alta qualidade e veste com gravatinhas) é o volume de seu rugido. Então, para desligar um leão do teclado, transforme o rugido dele em um miado:
O silêncio, nesse contexto, é poderoso.
Quando você tiver vontade de rugir sozinho, mude de lugar. O conselho tradicional é escrever o e-mail e não enviar, ou levantar-se e dar uma volta antes de falar – o que é sempre um conselho sábio.
Você pode expandir esse pensamento, no entanto: se estiver enviando e-mails, mude para o bate-papo. Ou, melhor ainda: mude qualquer modo escrito para uma chamada telefônica ou conversa presencial. Saia do frio do atirador virtual e entre em uma sala de estar quente. Você pode se ver agindo mais como gato doméstico do que como leão.
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As perturbações no trabalho geradas durante a pandemia não transformaram todos em leões cobrando os demais – também deixou algumas pessoas bobas. Especificamente, grupos que aceitam tudo compulsivamente, como bandos de gansos.
A mentalidade de rebanho é um exemplo fascinante de um conjunto de péssimos comportamentos que vêm de um lugar bem intencionado. Durante a pandemia, ficamos ansiosos por conexão, fazer parte de uma comunidade. Muitos de nós queríamos o calor que vem de relacionamentos agradáveis no trabalho, e assim atenuamos qualquer tendência natural de discordar.
No princípio, você é um colega de trabalho amigável, social. Até que vira um ganso, seguindo cegamente o bando, acenando e suprimindo quaisquer possíveis desafios às ideias de outros.
Diferentemente do zumbido alto da abelha ocupada e do rugido raivoso do leão do teclado, o comportamento do bando de gansos não parece ser um problema de imediato. Até o momento em que eles começarem a sujar sua varanda ou a bicar crianças pequenas.
No mundo do trabalho, o bando de gansos funciona bem até que seus membros comecem a fazer a mesma coisa errada. Então, é uma catástrofe: a maioria dos colapsos corporativos envolve um aspecto de pensamento de grupo.
Você precisa de duas estratégias diferentes aqui. Uma maneira de lidar com um bando de gansos de pensamento de grupo e uma maneira de evitar que você se torne um deles.
Os border collies são famosos por pastorear ovelhas, mas também afugentam gansos usando um olhar intenso. Derrotar o pensamento de grupo requer liderar com os olhos, concentrando-se em dados e evidências que você e os outros podem ver.
Você não vai ganhar uma guerra de opiniões com um monte de gente no modo grupo e, mesmo com dados em mãos, vai levar um tempo para ser ouvido. Concentrar-se em fatos claros e evidentes lhe dá a melhor chance de afastar o bando de sua varanda ou de seu bebê, por assim dizer.
Pode ser tentador apenas se divertir fazendo parte do bando de gansos. É um movimento aparentemente seguro, confortável e que não deixa você se sentindo exposto.
Para não se confundir com o grupo, chame seu cisne interior. Entenda exatamente o que torna seu ponto de vista único – onde está sua verdadeira percepção. Isso permite que você fale com confiança, mesmo que sua opinião seja um pouco controversa.
É importante ressaltar que essa estratégia é sobre abraçar suas ideias, não sua experiência: se você acreditar que precisa ser um especialista para se posicionar legitimamente, pode ser que você espere muito, até que seja tarde demais para dizer (e fazer) a coisa certa.
TER ANIMAIS SELVAGENS DENTRO DE CASA NÃO É DIVERTIDO. A boa notícia é que podemos banir abelhas laboriosas, leões do teclado e gansos com pensamento de rebanho apenas estando atentos sobre como deve ser o trabalho agora, em vez de ficar preso à referência dos piores dias da crise da pandemia.
Assim como nos adaptamos durante aquele momento difícil, podemos nos adaptar a uma nova era que carrega todos os seus próprios desafios. O trabalho não deve estar onde vivem os monstros.