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Amazon e WholeFoods: capitalismo e consciência?

Livro de John Mackey que chegará ao Brasil em 2021 mostra como uma empresa que simboliza o capitalismo mais típico pode alavancar outra que é adepta de uma maior consciência corporativa

Thomas Eckschmidt
29 de julho de 2024
Amazon e WholeFoods: capitalismo e consciência?
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O recente livro de John Mackey, Conscious Leadership, publicado pela editora Portfolio com previsão de lançamento no Brasil em 2021, traz novos insights sobre a aquisição do Whole Foods Markets pela Amazon.

Relembrando, em 1980, John Mackey cofundou Whole Foods Markets, resultado da fusão do seu mercado Safer Way com a Clarksville Natural Grocery. Em 1992, lancou ações na bolsa de valores (IPO) e, de lá para cá, apresentou uma jornada de resultados extraordinários.

Desde o lançamento ao equivalente a US$ 1,47 até a compra pela Amazon a US$ 41,99, um período de 25 anos, a valorização da ação da Whole Foods foi de aproximadamente 2.700%. O resultado extraordinário revela o impacto da filosofia de negócios do capitalismo consciente.

Depois de atingir o pico de valorização em outubro de 2013 (US$ 63), a Whole Foods começou a sentir a pressão do capitalismo de curto prazo. Sempre focado no longo prazo, e com suas ações bastante pulverizadas, foi fácil de investidores ativistas começarem a fazer pressão. Investidores ativistas são aqueles que compram uma porção significativa das ações e começam a exigir mudança na forma de operar da empresa. Isso é muito comum no mercado dos Estados Unidos, principalmente quando não existe um controle acionário dominante em uma organização, quer seja por golden shares, que dão poder de voto diferenciado, quer seja por deter uma porção significativa do controle acionário.

Mackey foi bem testado

No livro novo de John Mackey, ele relata sua jornada e o despertar para sua liderança consciente. Antes mesmo de os investidores ativistas atacarem a Whole Foods, em 2000 John Mackey for ameaçado de perder o comando por um golpe orquestrado por um de seus líderes em conjunto com alguns membros do conselho. Voltar às origens, caminhar junto de sua equipe nas lojas o trouxe para mais próximo de seu propósito e fez recuperar sua posição de liderança.

O golpe mais difícil foi quando Jana Partners adquiriu 9% das ações do Whole Foods em 2017 e a partir desse controle começou a fazer demandas. Queriam fechar o capital da empresa, enxugar, melhorar os números no curto prazo e vendê-la pela melhor oferta. O plano estava claro, não importava a boa intenção ou propósito, integração de stakeholders, cultura responsável, e impacto positivo em seu ecossistema. A Whole Foods era uma oportunidade de ganhar muito dinheiro muito rápido visto que estava com seu valor depreciado.

E a Amazon, onde entra nisso?

A Amazon ajudou a proteger o legado de Mackey? Bem, a empresa de Jeff Bezos já havia adquirido uma empresa semelhante em cultura e propósito, a Zappos, em 2010. E de lá para cá, a Zappos cresceu dez vezes e foi deixada livre para operar como quisesse, mantendo sua abordagem “high touch”, com a Amazon alavancando o lado tecnológico do negócio (o “high tech”). A Amazon sabe como alavancar seus investimentos.

Como John comenta em seu livro, o encontro com executivos da Amazon foi “amor ao primeiro encontro”. Da primeira reunião à oferta de compra, foram três meses apenas. Essa negociação foi uma oportunidade de ganho em múltiplas dimensões, como se definem as relações na filosofia do capitalismo consciente.

Ganharam os clientes, pois a Amazon permitiu que as margens fossem reduzidas tornando os produtos da Whole Foods mais atrativos e ainda combinados com os programas da Amazon Prime oferecendo mais benefícios aos clientes dos dois espectros. Alem disso a Amazon é a empresa mais centrada no cliente que existe no mundo.

Ganharam os fornecedores, pois tiveram acesso a uma rede de distribuição oferecida pela Amazon que a Whole Foods não podia oferecer, participam do programa de fidelidade de maior alcance, e melhor logística.

Ganharam os funcionários da Whole Foods, que têm agora maior perspectiva de crescimento com a intenção da Amazon de abrir mais lojas, e mantendo a cultura e propósito da Whole Foods intacto, e ganharam também osfuncionários da Amazon, que, influenciados pelo Whole Foods, viram seu piso salarial subir para US$ 15 por hora.

Ganharam os investidores, pois a Amazon pagou um prêmio na aquisição do Whole Foods que gerou um volume adicional de US$ 4 bilhoes de recursos nas mãos dos investidores, inclusive nos do Jana Partners.

Ganhou a comunidade também, pois a Amazon não diminuiu a filantropia realizada pelo Whole Foods, ao contrário; aumentou os esforços com uma contribuição adicional.

Então: a Amazon tem consciência ou não?

Em resumo, podemos achar que a Amazon está mais para capitalismo e menos para consciência, mas ela tem uma visão de longo prazo invejável, e isso desde seu lançamento, em 1994. Essa visão de longo prazo permite que a Whole Foods viva seu propósito de maneira integral, sem perda de valores ou sem ser obrigada a atender a necessidades que a desviem de sua jornada. Da mesma forma que a Amazon administra a Zappos, está administrando a Whole Foods, deixando o high touch para os especialistas e ajudando com seu high tech.

Se você esta interessado em se aprofundar nesta filosofia, recomendamos o novo livro Jornada Ao Capitalismo Consciente disponível por preço de lançamento na www.Amazon.com.br ou assista aà minha entrevista com John Mackey sobre seu livro novo no YouTube, a partir de 1h23min.”

Thomas Eckschmidt
Cofundador e ex-diretor geral do movimento do capitalismo consciente no Brasil, Thomas Eckschmidt é autor de _Conscious Capitalism Field Guide_ e outros livros práticos para implementar os fundamentos de um capitalismo mais consciente. É ainda cofundador e CEO da Conscious Business Journey, uma rede de consultores com o propósito de acelerar a transformação para um ecossistema de negócios conscientes e atua como conselheiro em diversas empresas.Em seu site www.CBActivator.cc, Thomas disponibiliza um e-book sobre como ativar a consciência da sua organização. Ele encabeça o podcast Capitalista.Consciente, encontrado nos principais tocadores.

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