Deve-se trocar o “errar menos” pelo “errar depressa” e criar uma cultura em torno disso – por exemplo, celebrando a “Semana do Erro Rápido” como quem celebra a “Semana da Qualidade”
Em 2017, fui convidado para participar de uma reunião com companhias de private equity estrangeiras para viabilizar um projeto grande de energia solar e eólica no Brasil. Minha empresa estava sendo contratada para recrutar algumas pessoas-chave para o sucesso do negócio, e minha presença nesta reunião seria fundamental para compreender o que os futuros acionistas queriam. Um deles, israelense, foi logo perguntando se as pessoas em vista já haviam falhado antes. Ante a surpresa de todos, ele explicou que pessoas que já falharam no passado têm (1) uma vontade maior de fazer dar certo e (2) particular respeito pelo capital investido. Mais que isso, informou que só investem em empresas cujas pessoas já falharam.
Minha colega Ana Julia Ghirello escreve sobre empreitadas que não deram certo (todas sob o hashtag #Fail). Hoje eu gostaria de explorar um ângulo do tema que tem sido pouco explorado recentemente, e que no reboot da pandemia certamente adquirirá relevância enorme: como REALMENTE incorporar na cultura da sua empresa uma postura pela qual erros devem ser discutidos, divulgados e até celebrados?
(Os cínicos na plateia certamente acrescentarão, depois de celebrados, a frase “e não varridos para baixo do tapete…)
Sim, desde a faculdade somos treinados para errar menos. Em empresas grandes e estabelecidas há muitos anos, imagino que esse mantra continue valendo. Suspeito também que nas startups/scaleups há alguma pressão de investidores (venture capital ou private equity) para incorporar isso na cultura. Ainda que se diga o contrário publicamente.
Então, tenho uma proposta: vamos substituir “errar” menos por “errar mais depressa”. Como?
Eis o meu roteiro (conspiratório?) de dois passos para levar o erro de volta ao lugar que merece – uma oportunidade de aprendizado para todos:
– Trate um fracasso como um aprendizado para todos, provocando a todos para que pensem nas portas que ele abre para outras soluções.- Não leve nada para o lado pessoal. Afinal, quem decide sempre pode errar. Só quem não decide não erra (e os cínicos da plateia dirão: “já errou!”).
E eis aqui mais uma razão para aprendermos a errar mais depressa: a McKinsey afirma que 70% das transformações nas empresas não dão certo Ou seja, vai ter erro de qualquer jeito!
Tem mais: qualquer iniciativa sua como líder de empresa de criar uma cultura de transparência radical (objeto de coluna futura) necessariamente passa pela criação (prévia ou concomitante) de uma cultura de erro rápido.
O assunto não é novo: Tom Peters (quem lembra de Tom Peters?) escrevia sobre isso na década de 1990 (há textos dele em diversos lugares; mas experimente esta leitura de 3 minutos).
Agora vamos falar de um roteiro para implantar uma cultura de erro rápido na sua empresa, algo que requer a aplicação simultânea de soluções cirúrgicas e homeopáticas:
– As soluções cirúrgicas envolvem uma intervenção sua, rápida e vigorosa, com estas quatro perguntas toda vez que alguém cometer um erro:
1. Você pode definir qual foi o erro precisamente?2. Por que aconteceu?3. Como poderia ter sido evitado?4. Como fazer diferente no futuro?
– As soluções homeopáticas requerem que você gradativamente crie esta nova cultura.
– Assim como você já organizou a “Semana da Qualidade”, a “Semana da Segurança”, o “Dia do Meio Ambiente” e o “Ciclo de Palestras da Diversidade e Inclusão”, por que não instituir a “Semana do Erro Rápido”?
– Marque uma reunião mensal com seus reportes diretos, de 60 a 90 minutos de duração. Cada um deles apresentará em uma reunião um erro recente, como foi descoberto, como foi corrigido, e se/como todos aprenderam com ele.
Métrica: no dia em que você ouvir alguém orgulhosamente descrevendo um erro que fez, como o descobriu rapidamente, como corrigiu o rumo, e como compartilhou a experiência para que não se repita, você saberá que implantou com sucesso a “cultura do erro rápido!
Como sua empresa lida com erros?”