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Aumento desproporcional de retorno com um pequeno incremento de risco

Aplicar a lógica da convexidade, como faria um operador de derivativos, ajuda a tomar decisões sobre tomar vacina e sobre evitar o aquecimento global

Carlos de Mathias Martins
29 de julho de 2024
Aumento desproporcional de retorno com um pequeno incremento de risco
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A imagem de sir Ian Mckellen um dos maiores atores britânicos de todos os tempos, rodou o mundo dias atrás. Ver Magneto, o genial e poderoso mutante da série X-Men, tomando vacina é um alento, e também uma prova de que a vida imita a arte ou vice-versa. Para quem ficou assistindo a séries de TV sobre jogos de xadrez e não conhece McKellen no papel de Magneto, ele liderou a revolução dos mutantes contra a vacina.

Películas de super-heróis, tal como aquelas da franquia X-Men que desafiam todas as leis da física, remetem aos filmes de ação protagonizados pelo ator americano de segunda categoria Tom Cruise. Recentemente Cruise esperneou no set de filmagens quando percebeu que a sua equipe de produção não respeitava os protocolos de proteção contra o vírus da Kung Flu.

Nem lá, nem cá, nem lá

Aparentemente o ator e diretor aumentou o tom de voz para alertar seus colegas de ofício que todos ali deveriam seguir os ditames da ciência. Bastante alentador uma vez que Cruise é discípulo da cientologia, uma religião que estabelece que o ditador inter-galático Xenu enterrou alienígenas nos vulcões do planeta Terra e na sequência explodiu estes seres malignos com bombas de hidrogênio. Segundo a cientologia, as almas penadas desses alienígenas são a causa de todo tipo de desequilíbrio psicológico que atormenta a nós humanos.

Esse tipo de conflito entre religião e ciência remete ao grande cientista britânico, o biólogo Richard Dawkins, ateísta convicto que nega peremptoriamente a existência de um criador sobrenatural e afirma que a fé religiosa não passa de uma ilusão. Lamentavelmente, em vez de passar o dia no laboratório em Oxford, Dawkins, despende seu tempo valioso tentando explicar a teoria da evolução para religiosos de diferentes matizes.

A ciência da teoria da evolução remete ao grande naturalista britânico Charles Darwin que está, neste exato momento, tendo seu nome envolvido em processos de cancelamento. As mídias sociais estão entulhadas de mensagens de passadores de pano da turma do cancelamento que, a partir de uma superioridade moral auto-atribuída, sugerem a pena capital da seleção natural para aqueles que ousam questionar a eficácia da vacina. Lacradores que desejam a morte do tiozão do pavê que desafia a ciência deveriam acautelar-se, pois a teoria da evolução também vale para o vírus.

Esse tipo de carteirada para defender o uso da vacina remete ao economista americano Robert Cox Merton, laureado com o prêmio Nobel em 1997. Favor não confundir com o cientista social Robert King Merton. (Aqui vale um comentário: cientista social é um oximoro. Um individuo não vira cientista por ter estudado ciências sociais ou ciências atuariais. O curso de ciências atuariais forma contadores e o curso de ciências sociais forma sociólogos.)

Mas eu divago. Enfim, o economista Merton ganhou o Nobel modelando as propriedades da convexidade e da função risco-retorno para investimentos. Entende-se por convexidade a propriedade de um ativo observar aumento desproporcional de valor com um pequeno incremento de risco. Ocorre que em 1998 o fundo de investimentos administrado por Merton quebrou, deixando bilhões de dólares em prejuízos para investidores. O fato de um especialista em avaliação de risco financeiro estar tão alavancado a ponto de ser levado à bancarrota é, para mim, um ótimo exemplo da soberba da classe científica.

Coronavírus e aquecimento global: quais as decisões mais racionais e vantajosas

Não obstante, aplicando-se a teoria do professor Merton no combate ao vírus da Kung Flu, e partindo das evidências cientificas disponíveis até o momento, tomar a vacina é uma decisão racional e vantajosa para a grande maioria dos indivíduos.

Excluídas as pessoas pertencentes ao grupos de risco, a convexidade da vacina é largamente favorável ao ser humano. A mesma análise, mas, de sinal trocado, vale para o enfrentamento das mudanças climáticas. A convexidade dos efeitos do aquecimento global é largamente desfavorável ao ser humano. É fato que não existe modelo preditivo acurado para estimar o impacto do aumento da temperatura da atmosfera e os efeitos de segunda ordem nos ecossistemas da Terra. Existe evidência suficiente entretanto, para aceitar como verdade que o cenário de colapso desses ecossistemas pode levar à extinção da humanidade. Em outras palavras: não vale o risco. “

Carlos de Mathias Martins
Carlos de Mathias Martins é engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da USP com MBA em finanças pela Columbia University. É empreendedor focado em cleantech.

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