Tecnologias físicas e soluções digitais acessíveis ajudam a melhorar o supply chain em armazéns, qualificando o deslocamento de produtos e maquinários
“Com cobertura da MIT Sloan Review Brasil, a Fundação Getulio Vargas (FGV) realizou na última quarta-feira (24) um webinar para discutir os avanços na indústria 4.0 em operações e logística. No encontro virtual, especialistas debateram o uso da internet das coisas (IoT), realidade aumentada e de modais não convencionais na geração de supply chain.
Desmitificar o encarecimento de investimentos em tecnologias 4.0 foi uma das preocupações iniciais levantadas pelos especialistas no encontro. Parte do setor de logística, entre outros, enxerga as soluções da indústria 4.0 como caras, sendo úteis do ponto de vista financeiro apenas para as organizações mais ricas e multinacionais.
No entanto, as tecnologias da quarta revolução industrial estão comercialmente mais acessíveis, especialmente os sensores e soluções de cloud computing. O especialista em gestão de operações de serviços e professor da FGV e FIAP, Paulo Hollaender, explicou que no passado somente as grandes organizações tinham acesso às tecnologias 4.0, mas atualmente “os preços das soluções de infraestrutura, tanto macro, quanto micro (de sensores), estão mais baixos, tornando as tecnologias cada vez mais acessíveis”.
A padronização de produtos e serviços possibilitou o acesso de pequenas e médias empresas às soluções disruptivas. Com um volume crescente de serviços ofertados, os investimentos mais altos foram alocados em contratos com consultorias que indicam quais tecnologias e aplicações digitais são ideais para as operações logísticas. Isso ocorre, segundo Hollaender, porque os conceitos sobre as tecnologias 4.0 ainda estão sendo difundidos nos ambientes industriais.
Outro mito que Hollaender procurou abordar foi sobre as aplicações 4.0 serem destinadas apenas para resolver problemas complexos e de difícil implementação. Para o professor, apesar do conceito complexo, as soluções padronizadas são fáceis de serem utilizadas, e as empresas não precisam contratar especialistas em inteligência artificial ou realidade virtual para poder utilizar os recursos tecnológicos.
Em operações em armazéns, por exemplo, a realidade virtual pode ser aplicada para que estoquistas tenham uma leitura mais apurada de informações. O aplicativo Augmented Warehouse, desenvolvido pela Accenture em parceria com a SAP, é uma referência neste sentido. A solução permite identificar os produtos dentro de embalagens por meio da leitura do código de barras, correlacionando outras informações de produtos, do estoque e da empresa nos óculos de RV.
Na prática, a solução Augmented Warehouse, utilizada na logística da Coca-Cola, Samsung e DHL, traz mais eficiência e segurança nos processos rotineiros em armazéns. A mesma tecnologia pode ser aplicada em lojas e supermercados, tornando mais eficientes as operações mais simples do dia a dia.
Além da RV, em logística, quando o assunto é autonomia de veículos, o kiva robots da Amazon já pode ser considerado um clássico. A tecnologia, que lembra muitos os robôs aspiradores, é utilizada sem milhares de armazéns, especificamente para estocar e deslocar produtos de pequeno peso.
Na prática, dentro dos galpões, os operadores não precisam ir até os produtos, pois o kiva robots leva os itens aos funcionários, como se fosse um cliente de supermercado levando as compras até o caixa. No galpão das empresas que utilizam a solução da Amazon, as aplicações IoT também ganham destaque: para que não haja colisões entre os kivas robots, os trilhos por onde passam os robôs se comunicam diretamente com os robôs.
Outro exemplo de veículos autônomos aplicados na logística é a Mina Autônoma da Vale. Trata-se de caminhões autônomos e caminhões controlados remotamente – eliminando o risco de acidentes com condutores humanos –, utilizados nos procedimentos mais convencionais de mineração. Os veículos são operados por um centro de comando, sendo monitorados por engenheiros. Além de caminhões, a Vale também utiliza tratores controlados remotamente.
A substituição de motoboys e outros condutores de veículos por drones foi outro assunto tratado no webinar. Nas grandes cidades, a tecnologia parece estar distante de ser implementada na cadeia de suprimentos por causa das inúmeras interferências de sinais de rádio, TV, celulares, dentre outros meios, que dificultam as operações remotas.
Outro empecilho é o espaço de voo. Os drones precisam voar com até 30 metros de altura, a fim de permitir a privacidade e a segurança das pessoas e, para não invadir o espaço dos helicópteros, quem manipula os veículos aéreos não tripulados deve respeitar um limite de 240 metros de altura.
Desse modo, o desafio, ou oportunidade tecnológica, está no desenvolvimento de drones que possam isolar a interferência de sinais e da capacidade de peso que os drones são capazes de carregar, um aprimoramento tecnológico que carrega um dilema comum em todos os veículos: peso versus autonomia, tanto de velocidade quanto de bateria. No momento, enquanto a tecnologia não é desenvolvida, segundo Paulo Hollaender, o melhor é confiar parte do supply chain aos motoboys e outros entregadores humanos.
Por fim, sobre os temas abordados ao longo do webinar, o superintendente regional da rede conveniada FGV Management, Alan Rabelo, destacou que as soluções tecnológicas mais complexas são empregadas para solucionar problemas simples do cotidiano. “O que me impressiona é que consigo monitorar essas tecnologias do meio do Pacífico ou do Atlântico. Ou seja, as soluções são fantásticas”, comentou Alan Rabelo.
O webinar realizado na última quarta-feira integra o MBA live em logística e supply chain management da FGV, curso coordenado pelo professor Alexandre Pignanelli, acadêmico que compôs a mesa de especialistas do evento.
Gostou do artigo? Saiba mais sobre tecnologia e logística assinando gratuitamente nossas newsletters e ouvindo nossos podcasts na sua plataforma de streaming favorita.””