Um olho no presente e outro no futuro. A ambidestria nos negócios é algo muito falado, mas pouco praticado. Mas estes nove passos podem ajudar você
O tema é recorrente: o desafio da ambidestria, ou seja, olhar o negócio atual e pensar o negócio futuro, requer um líder diferente do padrão. É preciso que ele, ou ela, esteja preparado(a) para a realidade atual, mas focado(a) no futuro. Todo mundo aprendeu, todo mundo sabe. O difícil é colocar em prática, certo?
Na Inova Business School, que tem advogado ativamente essa ambidestria alinhada ao conceito de “trends innovation” (inovar com base em tendências), temos um conjunto de recomendações que sugerimos aos líderes que querem ser ambidestros. Essas recomendações foram adaptadas do livro The Future Leader, de Jacob Morgan.
É preciso que os líderes cultivem quatro mentalidades e cinco habilidades que ajudem a pensar a longo prazo, a adotar mudanças tecnológicas e a questionar a maneira habitual de fazer as coisas para enfrentar os desafios futuros. Elas são uma capacitação para a mudança rápida e para lidar com a incerteza.
Antes de entrar nos detalhes de mentalidades e habilidades, faço uma observação: uma vez que as empresas são pessoas (todo CNPJ é um somatório de CPFs), não tem como elas fazerem uma jornada de transformação, ambidestra ou não, sem considerar suas pessoas. Por isso, a humanização é um passo obrigatório para a mudança e para a ambidestria.
São pessoas que olham para o hoje e para o amanhã. São pessoas que decidem e definem as lentes da ambidestria na gestão, cada uma em sua função, mas todas contribuindo para o grupo.
A quarta revolução industrial tem fortalecido a importância da tecnologia, sem dúvida, mas ao mesmo tempo das pessoas. Para cada recomendação fica uma pergunta: como incorporar isso na minha realidade pessoal e profissional?
Procura-se uma cabeça que pensa no longo prazo, tem agilidade para adotar mudanças tecnológicas e sabe questionar a maneira de se fazer as coisas para enfrentar desafios futuros. Ao mesmo tempo, ela cuida do presente, do resultado e da forma como a empresa entrega qualidade. As quatro mentalidades giram em torno desse eixo: cuidar do hoje e preparar o amanhã simultaneamente.
Os exploradores são curiosos e têm mente aberta. Eles aprendem continuamente e se adaptam às circunstâncias. São inovadores e aceitam o desconforto de caminhos inabituais e incertos. A curiosidade é a base da atitude que gera as ideias capazes de mudar as empresas e o mundo.
Sabemos, no entanto, que o foco em resultados de curto prazo e a necessidade de estabilidade travam muitas vezes a curiosidade. As empresas cultivam a mentalidade de explorador ao incentivar os seus funcionários a experimentarem e a lutarem por seus interesses de forma colaborativa e co-criada.
O papel do líder explorador é questionar permanentemente, desafiar os procedimentos habituais e o status quo e apoiar os que fazem isso. Essa é a base das empresas e negócios que se adaptam e crescem no momento atual de volatilidade, gerada pela pandemia e, mais recentemente, pelos momentos delicados de guerra na Ucrânia.
Quer ser explorador? Dê a si mesmo, e aos outros, tempo para refletir. Pense no longo prazo. Comprometa-se com a aprendizagem contínua e com o crescimento pessoal, seu e de seus liderados. Aprenda com pessoas diferentes de você, aceite riscos e aprenda com erros. O aprendizado contínuo, ao longo da vida, é hoje uma das tendências mais fortes e relevantes na gestão.
A mentalidade de chef combina elementos humanos e de tecnologia da informação (TI) para otimizar o resultado. Os “chefs” usam a tecnologia para melhorar a vida das pessoas e humanizar as empresas. Num mundo em que assistimos à substituição de trabalhos feitos por pessoas por máquinas, a discussão gira em torno do equilíbrio.
Tecnologia é um meio, não o fim. Propiciando às pessoas as tecnologias que as ajudam a ter melhores resultados, podemos equilibrar focos e esforços nas duas variáveis que compõem o humanismo digital.
Você pretende ser um “chef”? Fomente um local de trabalho significativo e orientado por propósitos. Cuide da sua empresa e do seu papel na comunidade interna e externa como forma de fortalecer o posicionamento. Solicite o feedback das partes interessadas.
O “chef” interage com os funcionários e se responsabiliza pelo resultado garantindo o perfeito equilíbrio entre os dois. São pessoas que fazem a empresa girar. São elas que trazem resultados.
Nas empresas saudáveis, todos servem uns aos outros. Os conceitos de empresas inspiradas no modelo taylorista (departamentalizadas, orientadas por processos repetitivos e na lógica das 44 horas semanais de trabalho) estão caindo.
A colaboração é, hoje, fundamental para a capacidade de enfrentar os cenários, resolver os problemas e aproveitar as imensas oportunidades que o mundo nos reserva no futuro próximo. Para servir aos seus líderes, colabore na solução dos problemas de forma construtiva e inovadora. Para servir a sua equipe, contribua para o sucesso dos seus colegas e a criação de outros líderes de forma a garantir a longevidade da empresa. Lembre-se, “sozinho vou mais rápido, mas juntos vamos mais longe”. Estamos numa maratona, não em uma corrida de velocidade.
Auxilie seus colegas também fora do expediente. Com os novos modelos de trabalho, em que o híbrido desponta, é preciso garantir um ambiente saudável em todos os momentos.
Propicie a seus clientes experiências, não apenas produtos. Joe Pine defende a economia da experiência como eixo diferenciador da gestão. Isso significa que precisamos passar de uma visão orientada no produto para uma focada no cliente. Coloque-o no centro de sua cultura.
Quer estar na turma dos líderes servidores? Conheça seus pontos fortes e fracos e valorize as habilidades e contribuições dos outros. Adote a humildade e a vulnerabilidade. Apoie diariamente os seus líderes, equipe, clientes e a si mesmo criando um grande movimento de colaboração e contribuição.
Esse tipo de líder respeita de verdade a diversidade humana, seja em cultura, religião, etnia, ideias ou orientação sexual. Ele promove equipes diversas. Essa postura gera compreensão, atrai e influencia funcionários em todo o mundo.
E por quê? Porque empresas com diversidade são mais inovadoras, criativas e competentes. Com funcionários de diferentes origens e experiências, surgem novas perspectivas e novas soluções para problemas antigos e atuais.
Quer ser cidadão do mundo? Para cultivar essa mentalidade, antes de tudo, viaje muito. Conheça culturas e ambientes incomuns para aprender a liderar em contextos variados. Abra a sua mente e o seu coração à diversidade porque ela fortalece laços e competências necessárias a navegar neste mundo globalizado onde, todos os dias, novas abordagens, ideias e iniciativas são pensadas e testadas.
Preparar-se para a mudança rápida e para a incerteza requer, entre outras coisas, privilegiar a diversidade, desenvolver os funcionários, contribuir para o bem social. Cinco habilidades ajudam muito um líder a fazer isso:
Considere múltiplos cenários – incluindo os desejáveis, os prováveis e também os possíveis, mas improváveis – e analise o que pode influenciar o resultado no curto, médio e longo prazos. Construa o futuro mediante uma liderança sábia que permite a exploração e a experimentação de temas sobre o futuro. A visão do futuro reduz a ambiguidade e a incerteza e direciona melhor os recursos e as convicções das apostas e das renúncias.
Nessa análise, pergunte-se: por que isso pode ocorrer? Por que não? O que mais pode acontecer? Que resultado eu quero e como atingi-lo? Que outros fatores poderão intervir?
Em seguida, mãos à massa. Utilize ferramentas de prospectiva e de foresight para mapear os cenários e de coolhunting para identificar as tendências que podem apoiar ou alterar o curso da empresa.
O tanto que se fala em inteligência artificial tem ofuscado a inteligência emocional. Usá-la permite criar um ambiente de colaboração e segurança psicológica que será fundamental para conseguir ter uma equipe preparada.
A motivação e as habilidades sociais são componentes da inteligência emocional, fundamentais para lidar com o contexto volátil pelo qual estamos passando. Ao lado delas estão a empatia, que ajuda você a interagir construtivamente, e a autoconsciência, que o leva a controlar as suas emoções e a entender como os outros o veem.
Envolva os membros das equipes nas decisões e reconheça as suas contribuições, por menores que sejam. Use perguntas com “como?” e “por quê?” em vez de ordens ou direcionadores engessados. Modere os conflitos com abertura e calma e fomente o entusiasmo e o compromisso de todos. Cultive a empatia ao se imaginar no papel dos outros e ao ouvir sem julgar.
Reconheça que as emoções dos outros são semelhantes às suas. Reflita antes de agir ou responder. Peça feedbacks sinceros e crie um ambiente propício à troca de opiniões. Esse ambiente vai fortalecer a cultura empresarial e a forma de lidar com a realidade.
> “É essencial que, todos os dias, a comunicação seja coerente, confiável, eficaz, atenta, previsível, afetuosa e gentil” – Melissa Reiff, CEO da The Container Store.
Liderar é acima de tudo comunicar. Compreenda os funcionários, clientes, concorrentes e o mundo. Quanto mais alto você estiver na hierarquia, maior será a distância para a maioria dos funcionários e colaboradores. Escutar encurta essa distância. Incentive que todos falem francamente com você.
A comunicação possibilita a união em torno de um plano. Canais de comunicação diferentes requerem técnicas e, muitas vezes, mensagens diferentes, que se adequam a públicos diferentes.
Ouça e se comunique eficazmente. Mantenha o contato visual e não interrompa, use a linguagem corporal e verbal para revelar que você está atento. Mostre que compreende os sentimentos dos outros. Faça perguntas construtivas para estimular a percepção e a descoberta, mas não monopolize a conversa.
Compartilhe gentilmente sugestões e alternativas. Verifique como o seu interlocutor recebe a sua mensagem. A maioria das situações se resolvem com boa comunicação.
O coach, como agente da mudança, propicia às pessoas o que elas mais valorizam. Inspire e as envolva de maneiras variadas, incluindo na colaboração estreita, no pensamento criativo e na conexão emocional.
Fomente as experiências positivas no local de trabalho, pois pessoas motivadas e felizes entregam mais e inovam de forma natural. Ser motivador e inspirador diferencia o líder do chefe.
O futuro da sua empresa depende do que ela faz hoje para ter os líderes certos mais tarde. Como coach, sua maior responsabilidade e privilégio é ajudar os outros a ter mais sucesso do que você.
Construa relações com seus colegas para além das de trabalho. Conheça o que os preocupa e aflige, conheça suas vidas familiares. Identifique os seus pontos fortes e fracos, suas aspirações e preferências. A capacidade de estar plenamente presente e atento é a característica crucial do líder inspirador.
A tecnologia é crítica para o sucesso empresarial. No entanto, os líderes não precisam conhecer os seus detalhes – o importante é entender o impacto que ela tem no seu negócio. Mas precisam saber o que ela pode proporcionar.
Identifique as ferramentas mais promissoras para a sua empresa de forma que elas sejam alinhadas com o negócio e com a jornada de transformação digital. Recorra a especialistas que aconselhem e treinem no melhor caminho. Seja um aprendiz incessante para se manter atualizado e conectado.
Cultivar as mentalidades e praticar as habilidades aqui descritas é o que torna qualquer líder mais preparado. O equilíbrio humano e tecnológico é a base da ambidestria, é o que define a forma como nos adaptamos ao presente e preparamos o futuro.
Mas existe uma reflexão importante aqui. Em que medida o ego e a cultura das empresas permitem que se pratique, de forma efetiva, essas mentalidades e habilidades? Será que você está predisposto à mudança? E sua empresa? Pense nisso.”