De nada adianta usar todas as ferramentas, digitais ou não, disponíveis para falar com sua equipe se não se valoriza o ser humano e o contexto
Nossos smartphones são as principais ferramentas de comunicação em qualquer lugar ou momento. Líderes de diversos setores se apropriaram de mídias sociais, e-mails, telefones, WhatsApp, Telegram, Slack, Microsoft Teams e muitos outros aplicativos e plataformas para interagir com sua rede de contatos, que inclui clientes, fornecedores e colaboradores. Não satisfeitos, querem atrair novos “seguidores” em suas áreas. Mestres no uso dessas tecnologias e influenciadores digitais estão sendo forjados nesses ambientes virtuais.
Mas, quando refletimos sobre a comunicação direta dos líderes com seu time, seus pares e outros contatos dentro das organizações, há grandes deficiências que precisam ser tratadas. Focamos demasiadamente nos meios e na quantidade de mensagens, mas esquecemos do mais importante: as pessoas que nos ouvem e o que elas farão com o que comunicamos a elas.
Às vezes também esquecemos que comunicação é uma via de mão dupla. Para que seja efetiva, precisamos considerar quem receberá a mensagem e o contexto organizacional complexo em que estamos inseridos. A tecnologia, apesar de ter acelerado a comunicação, aumenta a distância entre o líder e sua audiência, dificultando também a leitura do contexto. Por isso, mais do que nunca, uma mudança de atitudes e estratégias de comunicação é necessária.
Será que dá para você, líder, melhorar a comunicação com seu time com e apesar da tecnologia? Sim. Todos os dias eu converso com líderes. Todos os dias, sem exceção, ouço relatos de problemas relativos à maneira como as pessoas se comunicam em suas organizações. A partir dessas conversas, selecionei as três principais atitudes que considero nocivas para a comunicação nas organizações atualmente e a solução para elas. Ao final, ainda proponho cinco direcionadores de uma comunicação estratégica eficaz para líderes.
A partir dessas conversas, selecionei as três principais atitudes que considero nocivas para a comunicação nas organizações atualmente.
Isso ocorre quando trabalhamos em silos. Mais frequentemente do que deveríamos, acreditamos que nosso trabalho se resume ao nosso time e à área de gestão. Ignoramos o fato de que a empresa é formada por diversas outras pessoas e times e que é preciso haver sintonia entre esses elos para gerar resultados sustentáveis.
O problema do isolamento geralmente ocorre por excesso de competição entre os líderes de diferentes áreas. Mas pode estar relacionado a uma cultura passiva, na qual os líderes são condicionados a não interferir na área de atuação do outro. Quando não nos comunicamos, intencional e assertivamente, problemas como duplicação de atividades, conflitos e perda de tempo surgem.
Nesse ambiente, a desmotivação impera entre os colaboradores. Ora por estarem no meio de uma disputa entre seus chefes, ora por verem as oportunidades de sinergia sendo desperdiçadas. Por outro lado, quando todas as áreas de uma organização se comunicam e alinham seus esforços em prol de propósitos comuns, podemos ver resultados acima da média.
Quando nós deixamos de falar ou omitimos assuntos polêmicos com nossos times, perdemos a sua confiança. Na posição de líderes, queremos estar bem informados e envolvidos em todos os assuntos críticos. Porém, quando nós assumimos a figura do portador de más notícias, o medo nos consome.
Nós tememos as reações, julgamentos, indignações e, principalmente, não ter as respostas para as perguntas que surgirão. Por isso, muitos líderes adotam a postura de esconder o jogo. O falso conforto de não lidar com situações difíceis é temporário e tem consequências sérias. A moral do time e a confiança são sacrificados.
Os líderes devem manter os integrantes de seu time informados. As pessoas apreciam receber informações importantes, sejam elas boas ou ruins. Isso desperta nelas o senso de pertencimento, eleva a transparência e os níveis de confiança.
Quando inundamos nosso time com informações e solicitações, estamos tirando o foco daquilo que é importante. Essa atitude, muito comum em líderes dominantes e influentes, também contribui para a elevação dos níveis de estresse do time.
Isso até pode trazer resultados no curto prazo. Mas, com o passar do tempo, a exaustão toma conta da equipe, que não consegue mais focar em diversas frentes ao mesmo tempo. Se o líder insistir em tal prática, ele pode perder a credibilidade e ser tachado de intransigente ou incoerente.
Compartilhar informações é importante, mas você deve dosar a comunicação para não sobrecarregar o time. Abra espaço para que os funcionários também tomem iniciativa e se comuniquem.
O que todos esses problemas têm em comum? Primeiro, eles ignoram que há um contexto organizacional complexo. Além disso, cada uma dessas pessoas vem para a organização com uma bagagem de conhecimento e cultural que afeta a forma como entende as mensagens e reage a elas. Segundo, os problemas ignoram as caraterísticas individuais dos colaboradores.
Eu aprendi isso da maneira mais difícil. Dois anos depois de terminar a faculdade e entrar em uma empresa multinacional, assumi uma posição de coordenadora de área. Minha energia estava alta, meu foco era gerar resultados e crescer. Eu era jovem, solteira, sem filhos e meu maior compromisso era o trabalho. Então, impetuosa e ingenuamente, eu inundava minha equipe com informações e solicitações. Para piorar, raramente eu fazia perguntas de entendimento, hábito que vim a desenvolver anos mais tarde.
Felizmente, percebi a pressão que eu estava impondo ao meu time logo em meus primeiros feedbacks. Receber críticas construtivas pode ser doloroso e, se não ficarmos atentos, corremos o risco de congelar ou de negar os fatos. Quando isso acontece, a autoconsciência e a consciência social são fundamentais para interromper o ciclo de vitimização.
A comunicação estratégica é acompanhada de tensões e desafios. Em 2018, Emma Christensen, da Universidade de Lunds (Suécia) e Lars Christensen, da Copenhagen Business School (Dinamarca), conduziram um estudo para identificar os direcionadores lógicos contidos no processo de comunicação estratégica.
Tomei a liberdade de adaptar suas conclusões para facilitar a aplicação desses direcionadores ao nosso contexto organizacional. A comunicação deve preferencialmente ser deliberada, participativa, focada, consistente e transparente.
Apesar de o termo “emergente” abrir o diálogo para o uso de estratégias diversas, ele não deixa clara a intenção por trás do ato de comunicar. Já a comunicação deliberada é um ato intencionalmente desenhado, planejado e implementado, levando em conta os integrantes do time, outros receptores da informação e o contexto no qual todos estão inseridos.
Muitos líderes ainda acreditam que a comunicação de cima para baixo é a única maneira de obter o alinhamento de todas as áreas da organização. Essa abordagem de comando e controle traz conforto e segurança aos líderes mais tradicionais. Mas não é a melhor abordagem. Quando eles se abrem para o diálogo construtivo e participativo, conseguem levar sua mensagem muito mais adiante na organização.
Comunicação irrestrita pode confundir o time. Por outro lado, comunicação muito restrita pode gerar dúvidas e desconfiança. É papel do líder manter o time focado no seu propósito. Por isso, ele precisa balancear a quantidade, frequência e intensidade das comunicações.
Complexidade e incertezas podem exigir adaptações do líder. Mesmo se adaptando às mudanças, eles precisam manter sua comunicação e posicionamentos consistentes. Líderes que mudam de posição o tempo todo passam a mensagem subliminar de insegurança.
Por fim, a comunicação do líder deve, acima de tudo, prezar pela transparência. Quando não é transparente, ele permite que as pessoas preencham as lacunas e distorçam a realidade. A transparência do líder reforça o sentimento de pertencimento do time.
Todos esses direcionadores, quando aplicados de maneira intencional pelo líder, melhoram muito sua comunicação e a motivação do time. Em minha vida profissional e em mentorias eu os tenho aplicado regularmente, e os resultados são extraordinários. “