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Tendências na área financeira para 2030

Diante do contexto de pós-pandemia e guerra Rússia-Ucrânia, alguns fatores se mostram como tendências da área de serviços financeiros que vão impactar todos os outros setores da economia

Luís Rasquilha
30 de julho de 2024
Tendências na área financeira para 2030
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Este artigo é um resumo/base de um estudo escrito em co-autoria com o Renato Cecchettini da Inova, sobre as tendências na área financeira e tem sido base de inúmeras discussões e iniciativas de como aproveitar as oportunidades e os cenários que se desenham, com base no contexto atual, não apenas para as empresas financeiras mas para os negócio em geral.

Diante do contexto de pós-pandemia e guerra Rússia-Ucrânia, que tem colocado uma pressão enorme nos mercados e nos países em termos econômicos, mas também tem trazido diferentes vertentes de mudança com grande peso na questão digital, observamos alguns fatores que começam a se mostrar como tendências da área de serviços financeiros que vão impactar todos os outros setores da economia.

Vamos dividir esta análise das tendências em três frentes:

1. Bancarização.2. Meios de pagamento.3. Future currencies.

1. Bancarização

Dois eventos importantes se entrelaçam neste momento. Um direcionado para a necessidade de bancarização da população de baixa renda e outro que pode facilitar este processo. O primeiro evento foram os estímulos econômicos praticados durante a pandemia que tentou acolher os mais desfavorecidos e proteger (dentro do possível) a renda mensal. O segundo evento é a alta penetração do uso da internet hoje no mundo, com dados crescentes de penetração e uso das soluções digitais. Ainda com um caminho longo para reduzir o gap entre as diferentes classes sociais.

Isso traz a possibilidade de rápida bancarização da população mundial ainda que com desafios grandes uma vez que em um mundo mais cashless (sem dinheiro em espécie) como um cidadão desbancarizado (sem smartphone ou outro tipo de acesso) pode-se relacionar com a economia?

2. Meios de pagamento

Muitas mudanças pelas quais passamos foram consideradas improváveis até pouco tempo atrás. Particularmente, a pandemia da covid-19 e a Guerra na Ucrânia eram possibilidades distantes na análise geral. A questão principal é a customer experience (CX, na sigla em inglês; experiência do consumidor, na tradução em português).

Em termos de serviços financeiros, o que interessará será a contextualização de um momento do cliente que envolva alguma operação financeira. E qualquer operação financeira é importante, como, por exemplo, o pagamento de uma conta em um restaurante, o desbloqueio de um veículo num car-sharing, a contratação de um seguro-viagem, a contratação de um financiamento imobiliário, uma decisão de investimento dentro dos riscos assumidos e da remuneração pretendida ou outra situação qualquer. É preciso sempre levar em conta que a unidade de medida é o ser humano, com todas suas peculiaridades, limitações e capacidade de mudar rapidamente de opinião e preferências. O que hoje se chama de Payment Experience leva em conta vários fatores concomitantes, como o software utilizado associado ao hardware onde este é operacionalizado. Iremos sempre precisar de hardwares cada vez mais inteligentes para dar conta de uma melhor CX. Daí vem a dependência crescente que o setor financeiro tem das big techs. Estas passam a ser grandes parceiras e ameaçam a correlação de forças dentro do setor financeiro.

Tanto as fintechs quanto os bancos tradicionais já vêm fazendo movimentos para conseguir esta adaptação às circunstâncias do mercado. Uma das estratégias é buscar uma estratégia de unbundling de serviços. Ou seja, a separação de serviços para oferta ao mercado de um serviço financeiro específico para se especializar somente naquilo.

Esta estratégia de agregar novos serviços sob uma única oferta chamamos de bundling ou rebundling. A estratégia de unbundling-bundling/rebundling também é utilizada pelos grandes bancos tradicionais. Seja adquirindo fintechs para aumentar a gama de serviços aos seus clientes (rebundling) ou criando e/ou entrando em fintechs com serviços financeiros específicos (unbundling). Este movimento, como um vai-e-vem das marés, geram as soluções e reorganizações dos serviços financeiros sob uma nova configuração e pode trazer as adaptações da empresa a uma nova experiência do consumidor, como um novo meio de pagamento e nova experiência de pagamento.

3. Mundo cashless

A pandemia acelerou uma tendência que já ocorria no mundo que é a rápida eliminação do papel moeda para se realizar operações financeiras. As operações estão cada vez mais digitalizadas e durante a pandemia a troca de dinheiro em espécie poderia ser ainda um fator de disseminação do coronavírus. O dinheiro começou a cair em desuso.

Outro fator que contribui para isso são as soluções de bancos digitais, fintechs e novos meios de pagamento que eliminam o uso de dinheiro em espécie através de transferências cada vez mais simples como o Pix no Brasil e outras soluções em todo o mundo facilitadas pelos programas de open banking (banco aberto, na tradução em português). Isso sem falar nos órgãos fiscalizadores da Receita em vários países que têm controlado cada vez mais a movimentação de grandes somas em espécie, tentando assim coibir fraudes fiscais.

Um outro estímulo a um mundo cashless são as big techs como Apple, Google, Samsung e Amazon que através de digital wallets (carteiras digitais, na tradução em português) encurtam o caminho do pagamento e do recebimento de valores por parte das pessoas e dos negócios.

Mas o grande desafio para esta mudança são as poucas pessoas que ainda necessitarão movimentar dinheiro por não ter acesso a serviços bancários digitais. Isso pode aumentar ainda mais a desigualdade em países que já são muito desiguais como o Brasil. Como fazer quando os estabelecimentos comerciais forem estimulados a não aceitar mais pagamentos em espécie? Em outra situação, todas as pessoas estarão preparadas a gerir seus recursos sem lidar com eles em espécie? Como dar tranquilidade e confiança às pessoas sobre ameaças de ciberataques?

A tendência do cashless é importante, pois ao mesmo tempo que caminhamos cada vez mais rápido para um mundo sem dinheiro em espécie, precisamos encontrar uma solução para pessoas não incluídas nesta realidade.

CBDC

A criação das moedas digitais de bancos centrais (Central Bank Digital Coins – CBDC, em inglês) é a resposta de modernização da economia formal centralizada à proposta de descentralização do controle das moedas surgida inicialmente com o bitcoin em 2008, apoiada em blockchain e seguida pela criação de várias outras criptomoedas.

Apesar do apelo de modernização do sistema financeiro tradicional, muitos ainda vêem as CBDC’s como um controle e vigilância ainda maior sobre os cidadãos e suas operações. É o oposto à imagem libertária das criptomoedas auto reguláveis. E que, no final, diga-se de passagem, não mostraram ser tão libertárias como se pretendia.

A vigilância e o controle viriam da possibilidade de verificação imediata das operações e até a programação do que poderia ser feito ou não com as CBDC’s em posse de um cidadão. A ideia do dinheiro programável é uma espécie de dinheiro carimbado que serviria apenas a um determinado fim ou que proibiria seu uso para alguma finalidade específica.

A vantagem das CBDC’s é que estas poderiam facilitar o uso de fluxos internacionais de moeda, reduzindo custos de transação e dando mais transparência às operações. Um recente trabalho do Fórum Econômico Mundial trouxe o tema de maneira bastante profunda para auxiliar no entendimento dos diversos bancos centrais para desenvolvimento de suas moedas. Isso nos leva a uma tendência importante que falaremos a seguir que é o intercâmbio e a conversão entre moedas correntes (fiat money, em inglês) e as criptomoedas.

Cash + Crypto

A transição para novos tipos de moedas de controle descentralizado não será rápida. Elas vão conviver possivelmente para sempre. Portanto, as instituições financeiras e os negócios terão que estabelecer maneiras de conversão e interoperabilidade de sistemas para que os clientes que detém uma e-wallet com criptomoedas, tokens, Non Fungible Tokens (NFT) ou stablecoins (moedas estáveis, na tradução em português) possam transacionar seus recursos de um lado para o outro de maneira fluida. A circulação de pessoas e geração de negócios dentro de metaversos naturalmente fará com que as instituições financeiras facilitem este movimento.

Apesar da queda recente no valor das criptomoedas, o volume transacionado tem crescido, como podemos ver no gráfico de Capitalização Total do Mercado de Criptomoedas, que mesmo tendo caído em 2022 em valor (R$) ainda é maior que o dobro da capitalização de antes da pandemia. A questão não é escolher uma em detrimento da outra. O futuro é Cash + Crypto.

Encontre o detalhe e o desenvolvimento deste conteúdo de forma gratuita no link.

Luís Rasquilha
CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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