O papel dos dados na criação de oportunidades no cinema e na TV
A história de Kartik Hosanagar com a indústria cinematográfica começa quando ele escreveu um roteiro durante um período sabático. Ao tentar vender a ideia a produtores, descobriu que o setor tem medo de apostar em autores e diretores desconhecidos, o que significa que muitos jovens talentos são desperdiçados. Para ajudar a abrir caminho para essas pessoas, Hosanagar resolveu criar a Jumpcut, startup que utiliza dados para democratizar oportunidades no cinema e na TV, ajudando, assim, a revelar novas vozes no entretenimento.
Hosanagar é professor de administração e marketing na escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, a Wharton School. Ele concentra seu trabalho na economia digital e nos impactos que os dados e algoritmos têm no consumidor e na sociedade. No primeiro episódio da terceira temporada de Me, Myself, and AI, podcast da MIT Sloan Management Review sobre o uso de inteligência artificial (IA) no mundo empresarial, o professor conta sobre como a Jumpcut usa a IA para descobrir novos talentos no mercado audiovisual e os ajuda a deixar suas ideias prontas para a produção por um estúdio.
Confira como foi a entrevista concedida a Sam Ransbotham, professor de sistemas da informação da Boston College e editor convidado do programa AI and Business Strategy Big Ideas, da MIT Sloan Management Review, e Shervin Khodabandeh, sócio sênior do BCG.
Kartik Hosanagar: O que tentamos fazer é, basicamente, criar uma produtora data-driven para reinventar o modo de produzir filmes e programas para a TV com a meta específica de revelar novos talentos. O que despertou o meu interesse foi o fato de que essa indústria sempre foi um clube fechado — um grupo de executivos que decidem quais filmes serão produzidos, quem aparecerá neles, e com que orçamento. E tudo isso feito na base da intuição e de relacionamentos. E tomar decisões dessa maneira tem custos como o econômico já que a média de acertos de Hollywood é historicamente muito baixa.
Há também o custo social, pois seja qual for o critério utilizado, essa indústria nunca foi particularmente inclusiva. E tem o custo para o público. O que estamos tentando fazer é mudar esse esquema e usar dados para tomar decisões melhores, mais objetivas. Em última análise, isso nos permitirá avaliar as ideias e seus autores pelo mérito, e não com base em quem conhece quem ou só pelo instinto de um grupo de pessoas. Ou seja, estamos tentando democratizar Hollywood com o uso de dados.
Eu sempre tive interesse em conteúdo, em storytelling, em cinema. Aliás, sou um cineasta amador. Logo quando virei professor, como não tinha filhos, nos finais de semana eu produzia algum curta-metragem e subia o material no YouTube. Era só um passatempo, algo que gostava de fazer.
Durante meu primeiro ano sabático, já na Wharton, escrevi um roteiro. Fui a Mumbai e lá falei com uma série de produtores de cinema para apresentar a minha ideia. A resposta que tive de muitos deles era: “Gostamos muito, mas como vamos apostar em um roteirista/diretor totalmente desconhecido?”. Um deles disse que iria comprar meu roteiro, mas eu não poderia dirigir porque ele não poderia chegar a um produtor e a atores e pedir para apostarem em alguém novo. Na época entendi que fazia sentido, mas não queria entregar meu roteiro. Então, vim embora e voltei a dar aulas.
Ao longo dos anos conheci muitos roteiristas e diretores que tinham passado por uma experiência similar. Um dia percebi que minhas habilidades e dados poderiam ter alguma relevância na solução desse problema. E nos últimos anos tivemos filmes ou programas de muito sucesso, como Get Out ou Stranger Things, vindo de lugares inesperados, e isso me fascinou.
Você falou algo muito interessante sobre minimizar riscos. Em Hollywood todos estão preocupados com a questão do risco. Alguns executivos da indústria me disseram que a razão pela qual todo mundo é avesso ao risco é que se a produtora fizer um filme com o Brad Pitt e não der certo, ninguém vai perder o emprego. Já se apostar em algo novo e inesperado e algo sair errado, terá de dar explicações.
Tive acesso a um dado sobre a indústria cinematográfica segundo o qual 74% dos filmes de maior bilheteria são continuações ou adaptações da propriedade intelectual existente. Esse dado ilustra que ninguém está disposto a se arriscar com algo novo. A sacada que eu tive foi que a propriedade intelectual não é a única maneira de minimizar o risco, há outras formas de fazê-lo e envolvem três aspectos.
Saiba quais são esses três aspectos na parte 2 desta entrevista!”