Produtividade é um dos assuntos menos compreendidos entre os assuntos mais discutidos nos últimos tempos. Para entender como produzir melhor, é preciso desconstruir vieses e abraçar o que a ciência sugere
Antes de entendermos o poder da neuroplasticidade, eu preciso te levar para outra perspectiva. A primeira questão que devemos definir juntos é o conceito de produtividade.
Produtividade é o resultado da performance dentro do alinhamento de expectativas, utilizando o mínimo de recursos possível. Ou seja, entregar o que se espera sem uso ou gastos excessivos.
Aqui moram duas questões importantes:
1. De onde vêm as métricas e os indicadores de resultado para medir o que é produtivo em cada situação específica?
2. O que é, de fato, o resultado?
Esse assunto renderia um seriado, então vamos fatiar. Hoje, exploraremos o que não é resultado.
A métrica mais confundida por resultado e, por isso mesmo, uma das vilãs da percepção real da performance produtiva, é o tempo. Na maioria esmagadora das corporações, sejam elas grandes ou pequenas, usamos o tempo como medida de resultado.
Deixe-me tentar ser direto: TEMPO NÃO MEDE RESULTADO.
Se você investir 48h para montar um relatório, o resultado é a qualidade do relatório, não o tempo que você investiu nele. Portanto, a melhor qualificação que você pode se dar sobre produtividade é entender que TEMPO MEDE ESFORÇO.
Então, se o tempo mede o esforço, como posso melhorar produtividade? Vamos começar perguntando: “Como posso fazer a mesma coisa com menos esforço?”. Eu conheço algumas respostas para essa pergunta, mas a mais importante para hoje é: por meio da neuroplasticidade.
Eis a definição do NCBI (National Center for Biotechnology Information, EUA): “Também conhecida como plasticidade neural ou plasticidade cerebral, é um processo que envolve mudanças estruturais e funcionais adaptativas ao cérebro. É definida como a capacidade do sistema nervoso de alterar sua atividade em resposta a estímulos intrínsecos ou extrínsecos, reorganizando sua estrutura, funções ou conexões”.
A melhor forma de imaginar a plasticidade neural é lembrando de como deficientes auditivos ou visuais percebem e se relacionam com o mundo. De forma simples, há uma adaptação dos sensores no cérebro, ressignificando a forma que percebemos o mundo através deles.
Quando fui estudante do curso de neurociência para liderança no MIT, em 2015, eu conheci a professora e neurocientista Tara Swart. Durante a aula, ela nos apresentou um de meus livros favoritos sobre o tema, de sua própria autoria, chamado “Neuroscience for Leadership”. Nele, além de conceituar de forma prática sua teoria e sugestões científicas, ela traz exemplos de como a liderança pode melhorar sua qualidade de performance na vida e no trabalho.
De acordo com Tara, o que caracteriza a plasticidade neural é a ativação de três mecanismos neuronais: conexão sináptica, neogênese e mielinização. Conexão sináptica é a capacidade do cérebro de sobrepor informações novas por informações armazenadas há algum tempo nos neurotransmissores. Neogênese é a formação de novas células nervosas. Mielinização é a aceleração da capacidade de comunicação dos neurônios que ocorre em seus tentáculos, conhecidos como axônios.
A força dos três mecanismos melhora nossa capacidade de interação de memórias, armazenamento de informações novas e aprendizagem. Não importa qual idade tenhamos, a plasticidade neural nos ajuda a resgatar habilidades antigas e descobrir novas.
Há várias formas de estimular a neuroplasticidade, como fazer palavras cruzadas, por exemplo. Uma atividade simples, que coordena com frequência, melhora o desempenho do cérebro no longo prazo.
Mas vamos para um exemplo mais eficiente. Imagine que você tenha uma dificuldade enorme de aprender algo novo, ou está com problemas de memória e gostaria de conectar os pontos de maneira mais rápida. Há uma estratégia para preparar o cérebro para ter maior produtividade, independentemente de qual seja a atividade que você queira produzir.
De acordo com pesquisas recentes, incluindo a da própria Tara, aprender uma língua nova acelera a ativação dos mecanismos que compõem a plasticidade neural. Agora, nada será mais eficiente do que, na minha visão, é uma das maiores invenções da humanidade.
Sugestões de pesquisas apontam que uma diária tocando um instrumento musical equivale a 24h de exercício físico para o cérebro. É a forma mais potente para ativar os três mecanismos que estimulam a neuroplasticidade.
Com os estímulos em dia, você ainda pode se perguntar como sua produtividade está sendo impactada. Os estudos relatados no livro “Neuroscience for Leadership” nos mostram animadores resultados provenientes de grupos de controle. Os profissionais que estimulavam a plasticidade neural por meio de instrumentos musicais apresentaram decisões melhores.
Quando analisando o cérebro de pessoas que tocaram instrumentos musicais, notou-se algo diferente. Enquanto falamos ou ouvimos, apenas uma região em uma parte específica no cérebro se ativa em resposta àquela atividade. Mas quando tocamos um instrumento várias áreas em ambos os hemisférios se ativam, criando um caminho que passa pelo corpo caloso, uma parte estrutural do cérebro que permite a comunicação entre os hemisférios. Como resultado, eles criam uma estrutura de navegação de informações, que transitam entre razão e emoção, equilibrando seus pensamentos.
É por isso que, segundo neurocientistas, instrumentistas têm o corpo caloso ligeiramente maior. Isso, inclusive, aumenta sua capacidade criativa.
Podemos utilizar estratégias individuais que cabem na nossa rotina. A palavra de ordem aqui é experimentar, vale escolher diferentes alternativas para sentir como sua produtividade se transforma.
Eu sempre começo toda mentoria planejando gerenciar tudo que drena meus mentorandos, porque sei que terão mais resultados se estiverem bem resolvidos com questões que tiram seu bem-estar.
Não há como receber visitas com a casa suja. Toda produtividade começa pela expansão da capacidade cognitiva.
p.s. Foi durante o curso de neurociências no MIT que me inspirei e criei o No Brain No Gain Cast, que chegou a ser o décimo segundo podcasts de negócios mais escutado no Spotify em 2021. “