Destine 5% de suas compras de um determinado insumo para desenvolver um fornecedor local. Pode ser que esses 5% custarão 20% a 30% mais caro, mas essa diferença tende a diminuir quando esse fornecedor estiver integrado ao seu processo produtivo
Hoje muito se fala em consumo local para ajudar a manter ou sustentar economias locais, ou sustentar economias por meio do estímulo do consumo local. Nós nos acostumamos a importar tudo que compramos, importar de fora do nosso bairro, de fora da nossa cidade, de fora do nosso estado e de fora do nosso país. A globalização nos mostrou um lado muito negativo, que é um risco muito alto para nossa comunidade e nossas organizações.
Hoje, quase todos nós conhecemos alguém que perdeu o emprego em contato direto com a gente ou em segundo grau de distância. A pergunta que não cala é: O que podemos fazer? realmente é um momento de ajustes, nos distanciamos do propósito de nossa organização, esquecemos o nosso ecossistema, abandonamos a cultura e como líderes, deixamos de servir a uma causa maior, ao propósito, e isso rompeu o círculo virtuoso de geração de valor.
O que significa isso? Vamos para a prática. Vejamos a carta que o CEO da AirBnb mandou para seus colaboradores, dizendo de forma emocionada que teria que demitir 25% de sua equipe e como consequência do encerramento algumas iniciativas de negócios.
Olhando com mais cuidado, o que vemos é que o desinvestimento veio de áreas que tinham menos ou nada relacionado com o propósito da empresa. Isso mesmo. Então, de onde veio essa necessidade de investir em áreas menos relacionadas ao propósito? Da pressão de mercado de crescer constantemente, de ser MAIOR, em vez de ser MELHOR. A qualidade de ser melhor, quem dita é o outro, a qualidade de ser maior, quem estabelece é você na sua escala ou medida. Buscando ser maior, vale qualquer coisa.
Outra história nesse sentido, já conhecida, é da montadora Volkswagen, que em certo ponto de sua jornada percebei que poderia ser a maior montadora do mundo. Uma organização sempre focada em ser MELHOR, perdeu-se para o chamado do EGO. As vendas de SUV poderiam levá-los à posição de MAIOR montadora do mundo, mas o consumidor norte-americano queria potência e a empresa oferecia eficiência.
Para passar no teste de emissões, um pequeno ajuste no programa de regulagem do veículo permitiu que quando o GPS estivesse estacionário, e o carro em aceleração, o sistema ofereceria eficiência de combustão, e assim passando no teste de emissões. Quando o GPS estivesse em movimento e o carro em aceleração, o sistema ofereceria potência. Isso atenderia as duas demandas, do consumidor e dos agentes reguladores. Essa história de forma simplificada nos ajuda a entender o impacto de perder-se do propósito.
Mas isso aconteceu com muitas organizações em diversas dimensões e está sendo percebido de forma mais contundente diante da crise que estamos passando. O que aconteceu é que rompemos o círculo virtuoso de geração de valor que nos proporcionam os fundamentos do capitalismo consciente.
Um propósito claro, formalizado, cuidando do meu ecossistema de negócios (integração de stakeholders) por meio da criação de uma cultura responsável e liderado pela necessidade de servir a essa causa maior (propósito) é a grande vantagem competitiva que organizações tem para alcançar resultados extraordinários, até sete vezes superior à média de mercado e superar as crises de maneira mais fácil.
Então, onde esse ciclo se rompeu, na integração dos stakeholders. Esquecemos o nosso ecossistema. Esquecemos dois componentes críticos, nossas comunidades ou entorno onde estamos estabelecidos e o meio ambiente. Outras empresas esqueceram de funcionários e fornecedores também. Mas os dois pontos fundamentais hoje são a comunidade e o meio ambiente.
Como é isso? Pela necessidade de constante de redução de custo e manutenção da competitividade saímos para buscar parceiros ou fornecedores cada vez mais longes e abandonamos nossas comunidades, nossos fornecedores locais. O que podíamos fazer? Alguns exemplos de empresas brasileiras e estrangeiras nos podem ajudar.
Vou para o WholeFoods, que tem uma política de apoiar (investir em) fornecedores que trazem produtos de sucesso para suas lojas. O fornecedor sempre começa testando as vendas em uma ou duas lojas, o resultado loja a expandir a mais pontos de venda até que se alcance o limite do fornecedor e ele não consegue mais servir ao cliente.
Nesses casos, a WholeFoods solicita ao fornecedor um plano de negócios para atender todas as mais de 500 lojas da rede. Eles passam a ser investidores até que o fornecedor cresça e consiga atender todas as lojas. Nesse momento o investidor vende a sua participação, ganha dinheiro com isso além de ganhar vendas, e tem dinheiro para investir em dois ou ate cinco outros fornecedores locais. Isso fomenta uma corrida de apresentação de inovações para essa rede de supermercados. Cria-se um ciclo virtuoso de desenvolvimento local. Que volta fizemos para chegar no tal do capitalismo local.
Que lição fica para os empresários até aqui? Que olhem para sua área de “contas a pagar” e vejam quanto hoje é comprado de fora. Com isso comece a lançar desafios para fornecedores locais, universidades, empreendedores, grupos que fomentam o empreendimento como Sebrae para que comecemos a reconectar com a comunidade como um agente de mudança e impacto positivo.
Aí vem a pergunta: Como fazer isso sem ter que pagar mais caro?
Não é para fazer uma troca de 100% daquilo que vem de fora para um fornecedor local, existem muitas variáveis nessa transição. Minha sugestão: isso é um processo e não um turn-key, viro uma chave e pronto. Destine 5% de suas compras de um determinado insumo para desenvolver um fornecedor local. Pode ser que esses 5% custarão 20% a 30% mais caro, mas essa diferença tende a diminuir quando o fornecedor estiver integrado ao seu processo produtivo, participando constantemente com seus funcionários de oportunidades de melhoria. Isso certamente te levará a um fornecedor mais comprometido e engajado com o seu sucesso e com oportunidade de criar uma comunidade mais forte.
Empresas têm um grande papel no desenvolvimento de uma cultura de consumo local. Nem tudo pode ser comprado localmente, lembramos, mas certamente, muita coisa que não estamos comprando localmente poderia sê-lo. A cada real que gastamos estamos dando um voto de confiança para aquilo que queremos que se perpetue, se você não esta de acordo com alguma coisa, mude a forma de comprar, mude 5% a cada ano, no final você terá 100% de suas compras voltadas para aquilo que você acredita e seu ecossistema de negócios terá mais forca para superar as próximas crises.
O mesmo acontece com o consumidor, em algum momento iremos voltar a consumir, talvez menos, mas esta é a hora de decidir o que queremos que continue no mercado. Se não está de acordo com alguma empresa, ou com suas práticas, deixe de comprar, comece com 5% ou 10%. A empresa vai sentir o impacto se mais pessoas fazerem valer seu poder de transformação. Ou a empresa muda de ramo ou ela muda de prática!
E você pode estar se perguntando: e o meio ambiente? Como ele entra nesse tal de capitalismo local? Isso vai ser conteúdo para a nossa próxima conversa. Aguarde.
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