Ainda que não exista uma única resposta, já se sabem de algumas coisas
O impacto da Covid-19 na economia e na sociedade só será realmente dimensionado ao longo dos próximos meses. Porém, o vírus já mudou radicalmente o cotidiano de pessoas e organizações. De uma hora para outra, milhares de empresas ao redor do mundo precisaram adotar práticas de trabalho remoto e cultura de gestão enxuta e ágil para lidar com o isolamento recomendado – às vezes determinado – por governos.
O trabalho remoto é uma tendência há pelo menos uma década, mas, na escala de adoção que vimos nas últimas semanas, é algo inédito. Empresas de todos os tipos e portes precisaram implementar, às pressas, essa prática, que traz consigo necessidades pouco mapeadas, como a metrificação de performance por entregas (ao invés de horas), boas rotinas para reuniões virtuais e compliance ligado ao sigilo de dados – sem falar nos desafios da motivação frente ao isolamento social.
É natural encarar o trabalho remoto como uma das facetas da transformação digital nas empresas, que é o processo de aplicar tecnologias digitais para entregar a estratégia da companhia de forma ótima. A transformação digital exige mudanças fundamentais de tecnologia, mas não apenas isso. Estamos falando também sobre cultura, processos, modelos de negócio e sistemas de gestão. Todas essas camadas são transformadas pela lógica do mundo pós-digital. É uma aceleração de parte da transformação digital planejada para os próximos 5 anos em apenas 15 dias.
Gestão de crise e o paradigma digital
O grande objetivo das empresas competitivas não é chegar ao digital, mas se tornarem organizações adaptáveis. Transformação digital significa adaptabilidade, ajustes constantes de rota. Diversidade, capacidade de trabalho flexível com alta performance, tomada de decisão baseada em dados, utilização ótima da inteligência coletiva. Todos esses chavões da nova economia se traduzem em um resultado principal: resiliência.
Nas últimas semanas, conversei com diversos executivos sobre a mesma questão: qual o protocolo de gestão para lidar com uma crise dessa magnitude? Ainda que não exista uma única resposta, sabemos que a capacidade de manter operações funcionando com a menor disrupção possível durante crises e mesmo desastres de naturezas diversas se tornará um diferencial de negócio cada vez mais evidente nos próximos anos. Eventos imprevisíveis e disruptivos continuarão colocando em risco a performance econômica de segmentos inteiros. Empresas que não aprenderem com os eventos recentes continuarão mais vulneráveis e terão chances menores de sobrevivência.
Por isso mesmo, metodologias ágeis começaram a ser adotadas com maior intensidade nos últimos dias. Gestão enxuta e aplicação de ferramentas digitais de comunicação e gestão de projetos possibilitam maior agilidade e capacidade de adaptação à sua organização. Não à toa Google e Microsoft disponibilizaram suas ferramentas de trabalho e comunicação gratuitamente na semana passada. Notavelmente, a Covid-19 está também acelerando a transformação digital ao redor do mundo. Edtechs e Healthtechs são alguns dos modelos em franca expansão para lidar com os impactos do vírus nas escolas e mapear padrões de disseminação com uso de inteligência artificial, além de facilitar a triagem de pacientes. Nesse contexto, a União Europeia anunciou uma chamada pública para investir 164 milhões de euros em startups de saúde. A telemedicina deve experimentar crescimento igualmente acelerado.
A pandemia vai passar, mas as cicatrizes culturais e principalmente os aprendizados de liderança perdurarão com todos aqueles que forem capazes de sobreviver durante à crise. Enquanto assistimos ao derretimento dos mercados financeiros ao redor do mundo e ao impacto combinado da Covid-19 com a crise institucional que vivemos, algumas perguntas persistem ao fundo: como nos prepararemos para os acontecimentos que virão a seguir? Quais as oportunidades que podemos identificar se estivermos atentos? Será que esperaremos a próxima grande crise para cocriar futuros desejáveis? Nesta era de transformações, a sobrevivência, como melhor disse Darwin, é dos mais adaptáveis.
Crédito da imagem: Shutterstock/Nicku.”