A maior riqueza que a mulher oferece ao mundo corporativo não está nas suas características específicas, mas naquilo que ela promove em equipes plurais
““Quem sabe mais, o homem ou a mulher?”. A frase se refere a um antigo programa de TV, dos anos 1990, que colocava dois times um contra o outro. As equipes respondiam perguntas sobre temas diversos, reforçando alguns estereótipos sexuais e de gênero que, infelizmente, perduram até hoje.
Temas como a capacidade e a competência das mulheres, se são ou não melhores do que os homens, aparecem às vezes nas discussões sobre gênero e negócios de forma subliminar, nas entrelinhas. Pessoalmente, não gosto de dividir habilidades, endereçar esta ou aquela à mulher ou ao homem, porque o que faz um time ser diferenciado é a pluralidade. Ou seja, o equilíbrio entre os gêneros, as raças, orientação sexual, backgrounds, vivências, grupos sociais distintos e diversidade cognitiva.
No entanto, existem alguns aspectos que merecem uma análise mais aprofundada sobre as competências das mulheres, especialmente nos cargos de liderança. Se focarmos nas lideranças e nos desafios impostos pela covid-19, por exemplo, podemos conferir um estudo da Associação Americana de Psicologia que concluiu que estados norte-americanos governados por mulheres tiveram menos mortes pela doença.
Outro recorte destaca que a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, e as governantes de Taiwan e Blangadesh, tiveram lideranças efetivas no combate ao coronavírus. Elas foram mais firmes nas ações de contenção, como quarentenas, testes e uso de máscaras.
Contudo, para enriquecer o debate, vamos ampliar nossa perspectiva: se os países liderados por mulheres estão administrando a pandemia de maneira eficaz porque a eleição de mulheres reflete sociedades onde há uma maior presença de mulheres em muitas posições de poder, em todos os setores?
Uma pesquisa realizada pelo economista Raphael Bruce, do Insper, em parceria com seus colegas da Universidade de São Paulo e da Universitat de Barcelona, revelou que se metade dos 5.568 municípios brasileiros fossem liderados por mulheres, o País teria, provavelmente, 15% de mortes a menos do total acumulado ao longo da pandemia.
No entanto, a realidade é outra: só 13% das prefeituras são comandadas por elas que, aliás, fizeram um bom trabalho. O estudo indicou que, nessas cidades, o número de óbitos foi 43,7% menor se comparado com cidades lideradas por homens. O índice de hospitalização também apresentou uma redução média de 30,4%, na mesma comparação.
Voltando para o contexto corporativo, um estudo do FMI apontou que as mulheres são menos de 2% dos CEOs nas instituições financeiras e menos de 20% nos conselhos executivos. Só que as instituições lideradas por elas apresentaram mais estabilidade e resiliência nos tempos de crise.
Um maior envolvimento das mulheres resulta em uma perspectiva mais ampla da crise e abre caminho para o desenvolvimento de soluções mais ricas e completas do que se tivessem sido imaginadas por um grupo homogêneo.
Nos países estudados, ou em empresas, o poder é aprimorado pela natureza complementar dos gêneros. E esse é o valor agregado na gestão de negócios, tão estudado e comprovado, que indica que as empresas com um equilíbrio de gênero mais equitativo, principalmente em posições executivas, tenham melhor desempenho financeiro.
Nós, mulheres, somos mais empáticas e colaborativas. Também aprendemos a ser flexíveis, por conta das responsabilidades que assumimos nas nossas vidas – mães, parceiras, donas de casa, executivas, trabalhadoras, estudantes. Assim, nos times geridos por nós, existe mais diálogo e cooperação. Contudo, vale ressaltar que ser multitarefas não é algo que considero saudável. Vejo esse comportamento pelo olhar da imposição social que diz respeito mais sobre uma necessidade de sobreviver do que competência nata.
Além disso, nós, mulheres, temos a capacidade de nos adaptar ao novo, à mudança, porque a resiliência é outra característica feminina. Nossa história, durante séculos, tem nos ensinado a usar as dificuldades como alavanca para seguir em frente. Claro que existem exceções, como em tudo na vida, mas somos guerreiras, empáticas, solidárias e criativas.
No entanto, acredito que a maior riqueza que a mulher possui para oferecer ao mundo corporativo não está nas suas características específicas, mas naquilo que ela consegue promover quando trabalha com os homens, em equilíbrio.
As líderes de estados e cidades que citamos no início deste artigo não atuam sozinhas. Elas estão cercadas por suas equipes e, com certeza, contam com homens para ajudá-las a pensar e a tomar decisões. Esse, talvez, seja o aspecto mais significativo do ser mulher: garantimos espaços para as diferentes falas. Por isso, somos promotoras da diversidade e equidade. Não queremos “tomar” o lugar dos homens. Queremos atuar juntos. Não somos melhores ou piores do que eles, mas temos um valor inestimável para a prosperidade das sociedades e, consequentemente, dos negócios.
Ainda estamos longe da unanimidade sobre a nossa importância e o nosso papel, mas já avançamos bastante e, para a tristeza dos que não nos valorizam, o nosso sucesso é um caminho sem volta.
Na nossa próxima conversa, vamos refletir sobre maternidade e vida profissional. Tem empresa contratando gestantes para liderar equipes e organizações que continuam excluindo mães dos seus times, sinal de que precisamos falar mais sobre isso. Se você tem algum comentário a respeito, compartilhe aqui.
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