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Escassez e formação em TI: diversidade, inclusão e oportunidades para o Brasil – parte 3

Ao atrair mais mulheres, negros e pessoas LGBTQIA+, as organizações ganham na pluralidade de habilidades, enriquecendo ainda mais a oportunidade que o Brasil tem de ser um polo de talentos em TI

César Gon
12 de julho de 2024
Escassez e formação em TI: diversidade, inclusão e oportunidades para o Brasil – parte 3
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Neste artigo, encerramos uma série de três publicações de nosso colunista César Gon, cofundador e CEO da C&T, sobre o contexto atual do trabalho de desenvolvedores e da área de TI nas organizações. De modo geral, a série abordou os desafios da ambidestria digital para as empresas e profissionais, e a guerra geopolítica na formação, contratação e retenção de talentos.Neste artigo, Gon analisa como as empresas podem ser mais competitivas ao promoverem diversidade e inclusão. Todos os artigos da série estão disponíveis em texto no site e em áudio nos canais de streaming da MIT Sloan Review Brasil.

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Em uma visão mais macro de geopolítica desse assunto, acho que existe uma enorme oportunidade para o Brasil neste momento de revolução do mundo digital. O Brasil tem o maior pool de talentos da América Latina, o segundo maior pool de talento das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos. Isso é uma vantagem enorme e competitiva para o País em um momento em que o mundo é complexo do ponto de vista geopolítico.

Você vê essas impedâncias entre os EUA e a China, por exemplo. O Brasil é, de certa forma, um elemento neutro que pode atender tanto os EUA quanto a China. O Brasil tem uma possibilidade histórica de se posicionar globalmente como uma casa de profissionais digitais, de tecnologia. Acho que isso nós temos escala, nós temos história na indústria de tecnologia.

O Brasil tem um mercado interno e uma história de investimentos em tecnologia que é importante. Nós temos desde o profissional superexperiente até o talento jovem saído das fileiras universitárias. Temos uma variedade de skills que são raras nessa indústria, como skills por vertical, em segmento financeiro, em varejo, em bens de consumo. Nós temos profissionais que conhecem o legado, que conhecem novas tecnologias. É um mosaico de oportunidades para um País que precisa encontrar novos caminhos do ponto de vista econômico.

A equação digital e essa demanda por talentos de tecnologia têm que ser vistas estruturalmente pelo Brasil como uma oportunidade única de ocuparmos um espaço relevante em uma indústria que vai crescer durante décadas. Acho que isso também é uma questão que precisamos divulgar, discutir e se preparar para capturar essa oportunidade como país, como nação.

Diversidade na lente de competitividade

Um aspecto fundamental nessa discussão da escassez de talentos, que é um assunto absolutamente conectado, é a diversidade. Quanto mais conseguirmos avançar nesse assunto, aumentamos muito mais as possibilidades de atração de mais gente para o mundo digital, de mais gente para essas carreiras poderosas que estão acontecendo na indústria de tecnologia e na indústria digital.

A diversidade também tem que ser vista pela ótica da competitividade. O diferencial das empresas no mundo digital é essa conexão com a sociedade, a conexão com a jornada dos consumidores, com os anseios e os valores da sociedade. Quanto mais diversa for a sala que está desenhando essas soluções, essas jornadas, mais a empresa vai conseguir se conectar ao seu consumidor, ao seu mercado, porque afinal de contas a sociedade é diversa. A sociedade tem um desenho bastante variado de pessoas, de comportamentos, de backgrounds, etc.

Um dos desafios da indústria de tecnologia, que é tradicionalmente uma indústria com baixa diversidade, com poucas mulheres, com poucos negros, com pouca gente LGBT, é atacar esses gargalos, atrair essas pessoas, esses profissionais, e aí sim se tornarem alavancas mais poderosas de cocriação de soluções que serão mais diversas. Eu digo sempre que a diversidade “exponencializa” a inteligência coletiva das empresas.

As empresas vão ficando mais inteligentes conforme elas vão ficando mais diversas na concepção das suas estratégias digitais, das suas plataformas, das suas soluções, porque elas entendem. Essa diversidade ajuda a entender melhor o que é o consumidor com toda a sua complexidade e a sua diversidade.

De novo, isso é uma grande oportunidade para uma indústria que tem demanda e carreiras poderosas para serem construídas; usar isso como alavanca de inclusão e de diversidade é uma oportunidade que não podemos perder.

Formação, diversidade e habilidades

Quando falamos em inclusão para aumentar a diversidade, precisamos falar em formação. As empresas precisam encarar o desafio de formação, de redesenho dos ambientes, das estratégias de capital humano, para que consigamos aumentar a inclusão. E certamente você vai achar desafios.

Um dos desafios muito visíveis na nossa indústria é o inglês, por exemplo. Se você faz análise e colocar inglês como uma barreira, dificilmente você vai conseguir atrair negros para as suas estratégias, (infelizmente). Você precisa inverter isso e ter um processo afirmativo de formação, de complementar skills e competências que você precisa para que essa inclusão aconteça e você possa tirar proveito dessa amplitude do pool de talentos e da capacidade exponencial de resolver problemas de maneira coletiva, que para mim é o grande imperativo estratégico de você se tornar uma empresa mais diversa. No final do dia, essa conta fecha; e esse investimento torna a empresa um ambiente mais atrativo.

Os impactos de retenção transcendem os profissionais diversos que você está atraindo, porque todos se sentem em um ambiente mais humano, um ambiente com mais propósito, um ambiente fortalecido do ponto de vista de conexão com as demandas da sociedade. E você também vai ser uma empresa que entende melhor o seu consumidor, que entende melhor a diversidade de comportamentos, de valores de uma sociedade em constante mudança.

De certa forma você está mais preparado para o futuro, porque vivemos um século em que a própria sociedade está se moldando e redesenhando em uma velocidade única, absolutamente diferente da velocidade de evolução de valores e comportamentos do século XX.

Valores e comportamentos, em última instância, se desdobram em negócios, em oportunidades, então você melhora o design dos seus produtos, das suas experiências, dos seus serviços. Isso de certa forma também é visto pela sociedade como uma empresa que gera um valor que transcende o resultado, o lucro, e sim uma empresa que contribui para a evolução da sociedade de uma maneira mais ampla. “”

César Gon
César Gon é empreendedor, fundador e CEO da CI&T, multinacional brasileira de serviços digitais, e investidor ativo em fundos de risco e startups. Premiado, em 2019, como o “Entrepreneur of The Year” pela EY no Brasil, é engenheiro da computação, com mestrado em ciência da computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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