O aumento de dados deve levar ao aumento dos data centers e estes, por sua vez, devem aumentar o risco climático. Mas há maneiras de as empresas responsáveis limitarem os impactos
A tecnologia 5G chegou para acelerar a transformação digital – já foi ativado em todas as capitais do Brasil. Com ela, é praticamente certo um crescimento exponencial da quantidade de dados circulando pelas redes, dados esses que darão suporte a novas aplicações e recursos em frentes como big data, internet das coisas (IoT), inteligência artificial, realidade virtual e por aí vai. Isso porque, segundo a Next Generation Mobile Networks Alliance, a velocidade de processamento e entrega de dados na rede 5G deve ser até cem vezes maior do que na 4G.
Nos bastidores conectividade ultrarrápida, os data centers precisarão dar suporte a essa evolução do 5G, habilitá-la, sejam os datas centers dos provedores de computação em nuvem, seja os datas centers próprios – de acordo com a International Data Corporation (IDC, em torno de 90% das empresas já contam com data centers, sejam próprios ou terceirizados.
Porém, para quem pensa duas vezes, a revolução 5G traz consigo uma grande preocupação: o aumento exponencial do uso de data centers, infraestruturas que armazenam e processam dados. Isso porque mais data centers significam maior consumo de energia e água, maior impacto negativo do processo de fabricação etc.Ou seja, o efeito indireto do 5G é o aumento do risco climático.
Uma parte do mercado já vinha atenta a isso – conforme pesquisa da Frost & Sullivan, o aumento nos serviços de data center em 2020 já foi significativo, de 21,5% – e começa a se organizar para enfrentar o desafio, como conta Carolina Maestri, diretora de ESG na Odata, provedora brasileira de serviços de data centers. Existem soluções para amenizar os impactos ambientais causados por essas infraestruturas.
TI verde. “Dentre as soluções mais eficientes para mantermos a acelerada evolução digital sem elevar os danos ambientais está a TI verde. As tecnologias verdes são soluções desenvolvidas que consideram seu impacto sobre o meio ambiente”, explica Maestri. Como exemplos de tecnologias verdes ela cita o desenvolvimento de produtos que sejam ecologicamente responsáveis em todo seu ciclo – desde a redução do uso de recursos naturais na fabricação até o descarte adequado –; automação e soluções tecnológicas empresariais para redução do uso de papel com documentos impressos; soluções para reciclagem de resíduos e sistemas de reuso de água; mudanças no layout das empresas e nos modelos de gerenciamento para otimização de processos e ganho de eficiência nas operações, entre outras.Soluções em energia elétrica.
Redução de consumo energético. Um data center não pode ficar sem energia, naturalmente, mas “é possível reduzir o consumo energético e utilizar energias renováveis, que são mais eficientes, como a hídrica e a eólica”, como diz Maestri. A Odata, por exemplo, já tem algumas alternativas que oferecem aos clientes projetos até 100% com energia renovável. “Temos trabalhado para oferecer isso a um preço cada vez mais competitivo.” Além de ter investido em fontes de energia limpa – fonte limpa reduz a emissão de carbono na atmosfera –, a provedora de data centers tem programas e iniciativas de eficiência energética. Em paralelo, é preciso controlar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera de toda a operação de um data center. Maestri diz que, para isso, unir-se ao iMason Climate Accord (ICA), como fez a Odata, é essencial. Trata-se do acordo que padroniza a medição e reduzir a emissão de carbono no setor de data centers.
Redução do consumo de água. O consumo de água é crítico para os data centers para resfriamento dos equipamentos, que precisam ser mantidos em temperatura adequada. Não é por outro motivo que a Microsoft está testando desde 2018 um data center a 36 metros de profundidade no mar das ilhas Orckney, na Escócia. Sem a mesmo opção da Microsoft, as empresas brasileiras têm algumas solouções. “Por exemplo, usamos circuito fechado de água, utilizando um sistema de reuso”, conta Maestri, reconhecendo que o sistema em circuito fechado consome mais energia, mas garantindo que a relação custo-benefício é positiva.
Controle sobre os resíduos gerados. Esse impacto dos data centers não é tão grave, comparando com outras indústrias, mas nem assim deve ser ignorado. É essencial o descarte correto de embalagens de papelão e de plástico, além de material comum de escritório. Além desses, há os resíduos tecnológicos, que vêm quando a vida útil de equipamentos chega ao fim. Mesmo sem ter passado por isso em seus sete anos de existência, a Odata já deu o exemplo, fechando acordos com empresas para garantir o destino correto quando chegar a hora do descarte tecnológico.
A Odata está já se preparando para o crescimento na esteira do 5G. Ela possui cinco data centers em operação (três no Brasil, um no México e um na Colômbia), além de estar iniciando um no Chile. E conta com mais três em construção (dois no Brasil e mais um no Chile), o que representar um aumento de capacidade significativo.
Nesses casos, a sustentabilidade está sendo pensada desde o projeto arquitetônico dos data centers – foram previstas janelas grandes para aproveitar a luz natural, e otimizadas a disposição do escritório, a instalação de jardins e outros pontos mais críticos relacionados com energia, água e resíduos.
A empresa, uma investida do fundo de private equity Pátria Investimentos, também busca avançar na parte social do ESG. Por exemplo, criou um grupo de diversidade e fez pesquisa para entender os desafios a se trabalhar. A mão de obra na holding já está equilibrada, mas nas 13 diretorias são apenas três as mulheres. Nas operações, que são mais técnicas, homens também são a maioria, com pretos e pardos respondendo por 70% do total. Como a Odata pretende reverter isso? “Entendemos que não adianta trazer diversidade de fora e não conseguir manter. Por isso, estamos começando uma jornada de sensibilização e capacitação. Não podemos negar que existem vieses inconscientes”, pontua Maestri.
É preciso dizer que o baixo número de mulheres em data centers é um problema mundial. Segundo a Global Data Center Survey 2021, do Uptime Institute, 75% dos 800 proprietários ou gestores de data centers informaram que mulheres representam apenas 10% de sua força de trabalho.”