A arquitetura de microsserviços é o tipo de tecnologia invisível ao usuário final, mas que oferece várias vantagens às empresas. Saiba quais são
A gigante de beleza e cosméticos Natura – empresa do grupo Natura&Co, também formado por Avon, Aesop e The Body Shop – tem aproximadamente 2 milhões de consultoras. Em razão do distanciamento físico imposto pela pandemia, elas precisaram reinventar a forma de trabalhar. O resultado foi a criação de 800 mil lojas virtuais, que somadas às 500 mil existentes elevou o total para 1,3 milhão. Esse crescimento de 160% foi viabilizado especialmente pelo Natura Pay, uma conta digital voltada a pagamentos, recebimentos e transferências. Cerca de 20% da população brasileira não têm conta em banco ou fazem pouco uso dela. O que inclui um grande número de consultoras e clientes da Natura.
O empenho das consultoras certamente contribuiu para o sucesso do Natura Pay. Mas a TI da Natura também tem seus méritos. Isso porque o todo aplicativo foi estruturado em microsserviços. Essa abordagem envolve dividir as funcionalidades do app em blocos de construção (microsserviços) de código baseados em nuvem. Cada bloco lida com uma determinada tarefa. Ao invés de desenvolver um código inteiro (aplicativo monolítico), a arquitetura de microsserviços permite que cada um deles seja implementado de forma independente no aplicativo, conectados a partir de APIs.
A arquitetura de microsserviços é o tipo de tecnologia invisível ao usuário final, mas que se destaca de diferentes formas. Pense em um sistema monolítico de e-commerce. Se ele apresenta instabilidade ou tem um pico de demanda, todo o site acaba saindo do ar. Com a arquitetura de microsserviços, não: apenas o carrinho de compras ou um produto fica indisponível, por exemplo.
A estratégia tem entre os objetivos ganhar velocidade e permitir alterações em parte dos serviços sem causar impacto em outros. Além de aumentar a eficiência e a produtividade, a arquitetura de microsserviços torna a empresa mais preparada para mudanças regulatórias que demandem atualização de processos ou etapas.
Também agiliza a resolução de bugs e melhora a experiência do usuário – que, sem perceber, aumenta a própria confiança no produto. No fim das contas, a tecnologia reduz o desperdício e o custo associado ao ajuste de aplicativos inteiros. São vantagens que todo o negócio precisa ter em vista.
E parecer ter. Uma pesquisa identificou aumento de 20% no desenvolvimento de aplicativos através da arquitetura de microsserviços ao longo de 2020, em comparação com o ano anterior. Isso aponta para uma tendência de migração de grandes sistemas integrados para um ecossistema de microsserviços. Inclusive no Brasil, como mostrou a Natura, cuja estratégia gerou escalabilidade e evolução a um de seus produtos digitais.
Especialistas reconhecem que a adesão à arquitetura de microsserviços não é necessariamente nova no país. A novidade é o amadurecimento sobre o uso dessa abordagem ágil. Muitas empresas que há anos mantêm sistemas monolíticos, com outros modelos de arquitetura, agora estudam adotar os microsserviços.
Nesse sentido, cabe alertar que a migração não deve ser feita às pressas ou sem o devido planejamento. Outro desafio é a separação de domínios. As arquiteturas tradicionais não costumam possuir uma distinção vertical objetiva dos domínios da empresa. A separação é importante principalmente para o momento de migração e compreensão do produto ofertado.
Os microsserviços geralmente precedem de autonomia nos processos. O que é positivo. Por exemplo: uma equipe de programadores pode lançar um recurso adicional em um site de forma independente – eles não afetam outras páginas, nem precisam mobilizar vários departamentos. A automação melhora a desenvoltura das equipes, que mantêm o foco em pontos específicos de demanda. Isso facilita o trabalho dos desenvolvedores, além de auxiliar na avaliação das já mencionadas instabilidades – que, eventualmente, acontecem em qualquer produto digital.
É importante que a empresa interessada em migrar para a arquitetura de microsserviços faça, antes de mais nada, uma autorreflexão. Há quanto tempo a empresa lida com digital? Qual é a maturidade da empresa em relação à tecnologia? Essas são apenas algumas perguntas que servem de ponto de partida para o que resultará em produtos digitais mais ágeis, produtivos e flexíveis, de acordo com Rosi Teixeira, consultora de desenvolvimento de software da Thoughtworks.
Para aprofundar seu conhecimento sobre a adoção de microsserviços nas empresas e como seu uso vem reduzindo significativamente a complexidade de coordenação nas organizações mundo afora, ouça o episódio A arquitetura de microsserviços e a flexibilidade dos negócios da trilogia de podcasts A democratização da tecnologia para modelos de negócio “future-ready”, co-produzido pela MIT Sloan Review Brasil e pela Thoughtworks.
Neste episódio Pedro Nascimento, membro do conselho editorial da MIT Sloan Review Brasil recebe Rosi Teixeira, consultora de desenvolvimento de software da Thoughtworks, e Victor Hossepian, head de engenharia e meios de pagamentos da Natura Pay para uma conversa sobre as melhores práticas na adoção da arquitetura de microsserviços. Para ouvir o episódio, clique aqui.
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